Fome
persiste, apesar da abundância.
Embora seja um dos maiores produtores de grãos do
mundo, a Índia está atrasada em matéria de segurança alimentar. Quase 25% de
sua população passa fome. Foto: NeetaLal/IPS
Em um contexto econômico mundial tenso, agravado
pela mudança climática e a redução dos recursos, a segurança alimentar e a
nutrição são um grande desafio. A Índia, terceira economia da Ásia e o segundo
país mais povoado do mundo, com 1,25 bilhão de pessoas, não é exceção.
Por NeetaLal, da IPS –
Nova Délhi, Índia, 5/8/2015 – A Organização
Mundial da Saúde (OMS) define a segurança alimentar como uma situação em
que todas as pessoas têm, a todo momento, acesso físico e econômico a alimentos
suficientes e nutritivos para cobrir suas necessidades e preferências
alimentares para levarem uma vida ativa e saudável. A falta de uma dieta
equilibrada, menos os nutrientes essenciais, se expressa em desnutrição
crônica.
No Índice Global da Fome 2014, a Índia ocupa o 55º
lugar entre os 120 países com maior fome, inclusive atrás de alguns vizinhos do
sul da Ásia, como Nepal (44º lugar) e Sri Lanka (39º).
Apesar de sua autossuficiência na disponibilidade
de alimentos e sendo um dos maiores produtores de grãos do mundo, cerca de 25%
da população da Índia passa fome. Um informe do Banco Mundial diz que a taxa de
má nutrição entre as crianças indianas é quase cinco vezes maior do que a da
China e duplica a da África subsaariana.
Por que este país não pode alimentar seus pobres
com seus abundantes recursos? Os especialistas atribuem muitas razões ao
déficit. Dizem que o conceito de segurança alimentar é um problema complexo e
multidimensional, que se complica ainda mais no contexto de um país grande e
diverso, com uma esmagadora população e pobreza generalizada.
Segundo Shaleen Jain, da Universidade Nacional de
Direito de Hidayatullah, a segurança alimentar tem três grandes dimensões. A
primeira é a disponibilidade dos alimentos, que abarca a produção total,
incluídas as importações e as reservas de estabilização que são mantidas nos
silos públicos. É seguida do acesso aos alimentos que cada pessoa tem e, em
terceiro lugar, a disponibilidade da comida, ou seja, a capacidade de uma
pessoa adquirir alimentos adequados, seguros, saudáveis e nutritivos para
atender suas necessidades dietéticas.
Para PawanAhuja, ex-secretário adjunto do
Ministério da Agricultura, os problemas da Índia são resultado de um sistema de
distribuição pública profundamente defeituoso, mais do que qualquer outra
coisa. “Apesar da abundante produção de grãos e hortaliças, a distribuição dos
alimentos pormeio de um sistema público corrupto impede que os benefícios
cheguem aos pobres”, apontou.
O setor agrícola da Índia deve reforçar a
produtividade mediante a adoção de modelos de negócio eficientes e a criação de
associações público-privadas. Foto: NeetaLal/IPS
Outros problemas são as “calamidades naturais como
chuva excessiva, acessibilidade da água para irrigação, a seca e a erosão do
solo. Além disso, a falta de melhoria em instalações agrícolas, bem como a
explosão demográfica, só pioram as coisas”, afirmouAhuja.
Para lidar com o problema, a Índia opera uma das
maiores redes do mundo na matéria, a Lei Nacional de Segurança Alimentar, de
2013. O sistema é executado pelo Departamento de Alimentação e Distribuição
Pública, em colaboração com o Programa Mundial de Alimentos, e fornece rações
familiares mensais subvencionadas a nada menos que 800 milhões de pessoas, ou
67% da população do país. Mas o programa tem resultados díspares e os
especialistas culpam a corrupção existente.
Em 2050 o mundo deverá alimentar nove bilhões de
pessoas, que gerarão uma demanda de alimentos 60% maior do que a atual. A
Organização das Nações Unidas (ONU) adotou como o segundo de seus 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) o de acabar com a fome, alcançar a
segurança alimentar e promover a agricultura sustentável até 2030.
“Conseguir esses objetivos exige abordar uma série
de problemas fundamentais, desde a paridade entre os gêneros e o envelhecimento
demográfico, até o desenvolvimento de habilidades e o aquecimento global”,
destacou o economista Sumit Bose. O setor agrícola deve reforçar a
produtividade mediante a adoção de modelos de negócio eficientes e a criação de
associações público-privadas, acrescentou Bose. Também são cruciais as emissões
de gases-estufa, o uso da água e os resíduos.
Para promover a segurança alimentar, a Índia também
colabora com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO), que executa projetos de desenvolvimento no país e também proporcionam
conhecimentos, o que agrega valor às tecnologias e aos enfoques existentes. Também
abordam de forma prioritária problemas como os meios de vida, o acesso à
alimentação das comunidades mais pobres, a sustentabilidade da água, os
recursos naturais e a saúde da terra.
A ideia, segundo os especialistas, é aumentar a
cooperação multilateral da Índia em setores com pragas e enfermidades
transfronteiriças, produção pecuária, gestão da pesca, segurança alimentar e
mudança climática. A FAO também proporciona assistência técnica e criação de
capacidade para permitir a transferência de melhores práticas, bem como lições
aprendidas de outros países, para depois aplicá-las na agricultura indiana.
Com o fortalecimento da resiliência dos pequenos
agricultores, pode-se conseguir a segurança alimentar para a população mundial
e ao mesmo tempo limitar as emissões de carbono. Segundo Bose, “a produção de
alimentos de maneira sustentável significa a adoção de práticas que produzam
mais com menos na mesma superfície de terra e com um uso prudente dos recursos
naturais”.
“Ttambém significa reduzir as perdas de alimentos
antes da fase do produto final ou de comércio varejista, mediante uma série de
iniciativas que incluem melhor colheita, armazenamento, embalagem, transporte,
infraestrutura, mecanismos de mercado e marcos institucionais e legais”,
ressaltou.
Fonte: ENVOLVERDE
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