O micro-plástico aos olhos da Volvo Ocean Race.
por Elisa Homem de Mello –
Em parceira com as Nações
Unidas, regata evidencia crise do plástico que afeta os oceanos do
mundo.
A etapa brasileira da Volvo Ocean
Race 2017-18 registrou dados importantes sobre a poluição do
plástico nos oceanos. Os barcos que disputaram a sétima perna entre
Auckland (Nova Zelândia) e Itajaí (SC) recolheram amostras nos
mares do sul durante toda a prova. As informações divulgadas em 18
de maio passado apresentam o nível de partículas de micro plástico,
medidos periodicamente, durante a regata, pelo barco Turn the Tide on
Plastic, de bandeira portuguesa.
A aferição realizada a 452
quilômetros de Auckland, na Nova Zelândia, onde a perna começou,
registrou o índice de 45 partículas de micro plásticos por metro
cúbico. Quando o barco passou perto do Cabo Horn, na ponta da
América do Sul, os índices aumentaram para 57 partículas por metro
cúbico. Na sequência, chegaram ao Point Nemo, o ponto mais distante
do mundo, também conhecido como Polo de Inacessibilidade do
Pacífico. Para se ter uma ideia, o Point Nemo é tão distante da
terra firme que os seres humanos mais próximos dali são, em geral,
os astronautas presentes na Estação Espacial Internacional, que
orbita a Terra a um máximo de 416 quilômetros.
Ainda que os seres humanos não deem
as caras por aí, os índices de micro plástico no local registraram
entre 9 e 26 partículas por metro cúbico. E apenas 12 partículas
por metro cúbico de micro plástico foram encontradas a 1.000
quilômetros do final da etapa, na cidade de Itajaí (SC/Brasil). A
diferença nas medições pode ser explicadas pelas correntes
oceânicas que transportam os microplásticos a grandes distâncias.
O programa desenvolvido pela Volvo
Ocean Race foi composto por 3 etapas: Em primeiro lugar, todos os
barcos enviaram 36 pacotes de dados para a central de controle da
regata, a cada 10 segundos. Os dados incluíram temperatura, pressão
barométrica, velocidade e direção do vento. Tais informações
foram transmitidas ao satélite NOAA e ao Centro Europeu de Previsões
Meteorológicas (ECMWF), onde serão criados prognósticos
meteorológicos e modelos climáticos mais precisos. Em segundo
lugar, durante as quatro pernas mais isoladas da competição, os
sete barcos participantes levaram boias científicas dotadas de
equipamentos de comunicação via satélite para transmitir
informação sobre a composição da água e as correntes oceânicas.
E finalmente, a equipe do barco Turn the Tide on Plastic e outros
dois barcos levaram instrumentos a bordo para provar a salinidade, o
CO2e a clorofila-a (algas) da água. Estas medidas, que são chave
para a saúde dos oceanos, foram registradas juntamente com as provas
de micro plásticos, a fim de criar um panorama completo dos oceanos
do mundo.
Em números globais, a poluição
causada por plástico revela que, a cada ano, entre 500 bilhões e 1
trilhão de sacolas plásticas são consumidas no Planeta. Estima-se
ainda que cerca de 13 milhões de toneladas de plástico são
descartadas no mar todo ano (o mesmo que tirar um caminhão de lixo a
cada minuto), causando danos irreversíveis a mais de 600 espécies
marinhas, das quais 15% são consideradas em extinção.
O Secretário Geral da ONU, o
português António Guterres, fez um apelo urgente para que o mundo
recuse o uso único de qualquer item plástico, e alerta para o fato
de que o contínuo crescimento dos níveis de rejeitos plásticos
estão se tornando inadministráveis e, caso não sejam tomadas
medidas eficazes, calcula-se que em 2050 as águas dos mares terão
mais plástico do que peixes. “Nossos oceanos estão sendo
degradados por atividades que causam danos à vida marinha,
prejudicam as comunidades costeiras e afetam a saúde humana”,
afirmou Guterres.
Turn the Tide on Plastic (Acabe com
a Poluição Plástica), além de ser nome do barco liderado pela
inglesa Dee Caffari, é também o tema deste ano da ONU para o Dia
Mundial do Meio Ambiente, que acontece todos os anos no dia 5 de
Junho. Trata-se do principal dia das Nações Unidas para promover a
conscientização e ação em todo o mundo em relação ao meio
ambiente. Este ano, a campanha atendeu ao Objetivo do Desenvolvimento
Sustentável (ODS) de Número 14: “Vida na Água”.
Como iatistas transoceânicos, as
equipes da Volvo Ocean Race reconhecem o desafio ambiental que o tema
supõe e por isso centraram seus esforços na saúde dos oceanos e
especificamente na contaminação causada pelo plástico. Com o
desenvolvimento do Programa de Sustentabilidade, a Volvo Ocean Race
identifica 3 instruções claras: Maximizar o IMPACTO | Minimizar a
PEGADA | Deixar um LEGADO positivo.
América Latina e Caribe
arregaçam as mangas
A América Latina e o Caribe estão
tomando medidas audazes na luta contra a contaminação por
plásticos. Os países da região estão criando leis e políticas
ousadas para impulsionar uma nova economia do plástico e proteger
seus preciosos recursos naturais, afinal, não se trata de banir o
plástico de nosso cotidiano, já que seus benefícios são
inegáveis: barato, leve, duradouro e fácil de serem confeccionados.
Entretanto, as mesmas propriedades
que fizeram do plástico um produto revolucionário, também
propiciaram um ciclo de produção irresponsável, além do consumo e
do desperdício excessivos. As projeções atuais mostram que a
produção mundial de plástico deverá disparar nas próximas
décadas: espera-se que chegue à assombrosa cifra de 619 milhões de
toneladas em 2030.
Na América Latina e no Caribe, os
governos, o setor privado e a sociedade civil compreenderam a
urgência de reconsiderar a forma como produzimos, usamos e
administramos o plástico. E assim, medidas decisivas estão sendo
tomadas para enfrentar a crescente maré de plásticos.
Fabricantes, inovadores e
consumidores já colocaram as mãos na massa. Tanto eles, quanto a
liderança e forte intervenção dos governos são chave para adotar
novos modelos de negócios sustentáveis. As regulamentações e os
incentivos podem guiar as empresas a inovar e buscar rentabilidade
utilizando alternativas ao plástico.
O Congresso chileno aprovou a proibição nacional de sacolas plásticas em cidades costeiras, e estudantes universitários desenharam uma ferramenta de localização geoespacial para recuperar lixo marinho. O Equador pretende transformar as remotas Ilhas Galápagos em um arquipélago livre de plásticos: a partir de 21 de Agosto de 2018 não será permitido vender nem usar materiais de polietileno expandido, sacolas e garrafas de plástico. No Peru, empresas privadas estão usando garrafas recicladas para confeccionar mochilas com um poncho incorporado, que servem para abrigar os estudantes mais pobres dos Andes. Em Tamaulipas, no México, um grupo de jovens fabrica pratos descartáveis, utilizando a fibra de nopal (espécie de cacto, rico em fibras e fonte de vitaminas) no lugar de plástico.
Em Setembro passado, o Brasil
anunciou oficialmente seu apoio à campanha da ONU Clean Seas em uma
reunião à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova
York, com o então Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho e o Chefe
da ONU para o Meio Ambiente, Erik Solheim.
Sendo a 9ª maior economia do mundo
e líder em proteção ambiental, a declaração de apoio do Brasil é
um impulso significativo para a campanha global da ONU, que agora
conta com 30 estados membros e visa “virar a maré contra o
plástico”, inspirando ações de governos, empresas e indivíduos.
“O apoio do Brasil a essa campanha é crucial. Isso ressalta o
tamanho do problema e a escala da resposta que precisamos ver”,
disse Solheim, que completou, afirmando que “precisamos de mais da
mesma liderança política – do tipo que envia uma mensagem muito
clara: não podemos nos dar ao luxo de continuar transformando nossos
oceanos em um mar de lixo”.
O anúncio reforça o compromisso do
governo brasileiro de desenvolver um Plano Nacional de Combate ao
Lixo Marinho e apoiar a criação do Santuário de Baleias do
Atlântico Sul e de Áreas Marinhas Protegidas. “Os serviços
ecológicos prestados pelos oceanos são essenciais para todas as
pessoas e o Brasil vem tomando uma série de medidas para garantir a
conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros”, afirmou o
ministro Sarney Filho.
Aqui no país, o plástico tem sido
identificado como uma das principais causas de danos ambientais e
problemas de saúde. Polui o meio ambiente; mata pássaros, peixes e
outros animais que confundem plástico com comida; danifica destinos
turísticos; prejudica a pesca marinha e fornece um terreno fértil
para os mosquitos Dengue, Zika e Chikungunya. Seu uso, no entanto,
continua a crescer: em 2016 foram produzidos no Brasil 5,8 milhões
de toneladas de produtos plásticos.
Ao se inscrever na Clean Seas, o
Brasil se une à Colômbia, Equador, Costa Rica, República
Dominicana, Granada, Panamá, Peru, Santa Lúcia e Uruguai para se
tornar o 10º país da América Latina e do Caribe a participar da
campanha.
Lutar contra a contaminação
causada pelos plásticos nos ajudará a preservar ecossistemas
preciosos, mitigar as mudanças climáticas e proteger a
biodiversidade e nossa saúde. Esta é uma batalha que deve ser
travada hoje para garantir, amanhã, um planeta mais justo e
sustentável.
Fonte: ECO21
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