Irlanda aprova Lei do Desinvestimento em Combustíveis Fósseis.
‘Romper os laços com a indústria
fóssil está se tornando a nova norma’ – Enquanto países
como Irlanda e Costa Rica anunciam o desinvestimento completo em
combustíveis fósseis, Brasil segue aprovando mais subsídios à
indústria do petróleo.
Por Nathália Clark, 350.org
Brasil e América Latina
Em um feito histórico, o Parlamento
da Irlanda acaba de aprovar, na quinta-feira (12), a Lei do
Desinvestimento em Combustíveis Fósseis, tornando-se o primeiro
país do mundo a retirar totalmente o dinheiro público da indústria
de combustíveis fósseis. O projeto de lei exige que o fundo
soberano da Irlanda, o Irish Strategic Investment Fund, de $8 bilhões
de Euros, abandone todos os investimentos em carvão, petróleo e gás
nos próximos cinco anos.
O anúncio veio poucos dias depois
do forte apelo do Papa à ação climática em uma conferência de
dois dias realizada no Vaticano e no final de uma semana repleta de
anúncios de desinvestimento. Os compromissos incluem o
desinvestimento total de uma das faculdades da Universidade de
Cambridge e a decisão da Igreja da Inglaterra de se desfazer dos
combustíveis fósseis até 2023 caso as empresas nas quais ela
investe não tomem medidas para cumprir o Acordo de Paris.
O sucesso da lei irlandesa é
resultado da incansável campanha da Trócaire, organização focada
em ações de justiça climática e membro-chave do Parlamento, além
de diversas pessoas em todo o país que realizaram nos últimos anos
ações em prol do desinvestimento de combustíveis fósseis, como
parte de um movimento global crescente.
“A decisão da Irlanda é uma
grande vitória para a campanha do desinvestimento. Os anúncios
desta semana, vindos de igrejas, universidades e agora o primeiro
desinvestimento completo por parte de um governo nacional, mostram
que romper os laços com as empresas de combustíveis fósseis está
se tornando a nova norma. Investir nelas nunca foi moralmente correto
e agora tampouco é economicamente viável. A única maneira de
reverter a crise climática é parar de financiar a indústria
fóssil, apoiando o aumento significativo das energias renováveis”,
disse Nicolò Wojewoda, diretor da 350.org na Europa.
Para Éamonn Meehan, diretor
executivo da Trócaire, a decisão do Parlamento foi uma resposta ao
apelo do povo irlandês, que demanda mais liderança na questão
climática de quem foi classificado no mês passado como o segundo
pior país europeu para ação climática. “Hoje a Irlanda enviou
um sinal poderoso à comunidade internacional sobre a necessidade de
acelerar a eliminação dos combustíveis fósseis para que as metas
climáticas globais sejam cumpridas.”
Segundo ele, a mudança climática é
um dos principais propulsores da pobreza e da fome no mundo em
desenvolvimento, portanto combatê-la é vital: “Vemos impactos
devastadores todos os dias nas comunidades em que trabalhamos. Secas
prolongadas, inundações e tempestades já causaram a morte de
centenas de milhares de pessoas, e outros milhões precisam de ajuda
urgente para sobreviver.
Esperamos que esta importante peça
legislativa seja promulgada antes do final do ano. Devemos fazer tudo
o que pudermos para evitar que as mudanças climáticas revertam as
décadas de progresso na redução da pobreza em todo o mundo.”
Governos locais como Nova York,
organizações religiosas como a Cáritas International e até
mesmo grandes corporações, bancos e seguradoras já anunciaram
planos de se desfazer da indústria fóssil.
Há algumas semanas, o
presidente costa-riquenho, Carlos Alvarado, anunciou que irá proibir
completamente o uso de combustíveis fósseis, fazendo da Costa Rica
o primeiro país do mundo a descarbonizar completamente sua economia.
Enquanto nações avançam, países
como o Brasil seguem o caminho contrário, implementando políticas
energéticas atrasadas e aprovando retrocessos legislativos que
subsidiam ainda mais as grandes empresas multinacionais do petróleo
e gás, ao invés de incentivar o crescimento e fortalecimento das
energias renováveis, com fontes abundantes como eólica e solar.
“Esse é um momento crucial para o
mundo, onde as escolhas dos governantes irão ditar o futuro de
populações inteiras e da própria humanidade. Os países latinos
devem se inspirar no exemplo da Costa Rica e seguir o caminho da
transição energética. O mercado das energias renováveis cresceu
muito nos últimos anos, com tecnologias mais acessíveis e
disponíveis, com geração de empregos, justiça social e
sustentabilidade ambiental. Temos que aproveitar essas oportunidades
e não ficar presos a padrões do passado. As pessoas devem sair de
suas zonas de conforto e cobrar verdadeiramente as autoridades
eleitas, pois só a pressão popular pode mudar o caminho sem volta
para o qual se dirige o planeta”, afirmou Nicole Oliveira, diretora
da 350.org América Latina.
Dentro de dois meses, dezenas de
milhares de cidadãos ao redor do mundo irão participar da
mobilização global Una-se pelo Clima. Comunidades, organizações
civis e movimentos populares irão pressionar autoridades e tomadores
de decisão em todos os níveis de governo para tomar ações
climáticas concretas, imediatas e significativas rumo a um mundo
livre de combustíveis fósseis.
Fonte: EcoDebate
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