A complexidade ambiental: de tartarugas, baleias e galinhas.
Por Sasquia Hizuru Obata*
Em análises recentes realizadas
em mergulhos nos litorais brasileiros tenho não só a noção, como
a vivência da verdadeira e imensa difusão plásticos que flutuam no
oceano.
Em cada mergulho, a ação tem sido
ambiciosa e ao mesmo tempo desoladora, por provocar um desconforto
angustiante. Consigo coletar os materiais descartados que estão ao
meu alcance, mas não dou conta da grande quantidade que eu ainda
tenho de pegar, colocar no colete e levar até barco…
Ocorre que a
ação para limpar tudo o que esta a minha vista deveria ter sido
feita há três ou cinco anos.
Muitas ações internacionais estão
sendo empreendidas para se limpar os oceanos, algumas por promoção
e outras que buscam o financiamento coletivo. Mas no Brasil ainda são
irrisórias.
O que é real em nosso país são as
fotos impressionantes que temos acesso pela imprensa, como tartarugas
com canudos nas narinas, baleias que encalham com estômagos
entupidos de plásticos e um mar visível de lixo. É nesse ambiente
que mergulhadores e animais se encontram com esses resíduos, que
flutuam tranquilamente na superfície marinha.
No entanto, enquanto no mar, as
ações das ondas executam uma limpeza inicial, facilitando a coleta,
nas ruas, calçadas e em solo de nossas cidades isso não acontece.
Nesses locais esses materiais ficam totalmente misturados com outros
resíduos, o que dificulta a coleta.
Os plásticos das ruas e de seu
entorno de fato são muito mais difíceis de coletar. Talvez uma
campanha de marketing pudesse oferecer um adereço, por exemplo, na
contrapartida da coleta. Seria uma alternativa. Mas, a solução
desse problema está longe de ser alcançado, em especial quando se
constata que esses materiais vão para aterros.
Bem, sobre as galinhas, estas que
vivem em terra, foram para mim o contraponto para realizar essas
ponderações sobre as complexidades das imagens e impactos dos
plásticos nos oceanos e em contato com os animais marinhos. Isso
ocorreu quando vi na calçada de um parque um bando de galinhas
ciscando e comendo “marmitex” de isopor em um lixo todo revirado.
A impressionante forma de olhar a
difusão de plásticos nos diversos meios urbanos e naturais.
Mas a complexidade se tornou muito
maior, quando constatei mais adiante e em toda extensão do parque,
uma grande quantidade de copos, canudos e todo tipo de resíduo.
Não pude coletar os plásticos como
o faço em mergulhos. Seria uma ação quase impossível, sendo eu
somente uma pedestre diante de tamanha urbanidade. Mas, me fez
refletir.
O fazer diferente exige enxergar e
trazer para as salas de aulas novos projetos, além de atuar na
formação de profissionais preocupados com a educação ambiental. É
preciso empreender e superar os disparates que existem em nossa
sociedade.
Precisamos de profissionais que
enfrentem os obstáculos e apresentem novos caminhos, tomando por
base conhecimentos adquiridos nas áreas de engenharia, arquitetura e
urbanismo, de forma resiliente, sustentável e que possam beneficiar
as várias camadas sociais.
Assim, quem sabe, poderemos
facilitar a vida das “galinhas”, dos “animais marinhos” e dos
seres humanos.
Sasquia Hizuru Obata é
professora, doutora titular docente dos cursos de graduação em
Engenharia, Arquitetura e Urbanismo e da pós-graduação em
Construções Sustentáveis da Fundação Armando Alvares Penteado
(FAAP). Também leciona na Faculdade de Tecnologia de São Paulo
(FATEC).
Fonte:
ENVOLVERDE
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