Líder 2030 Talks – A revolução ‘passa pelo RH’.
Por Ana Carolina Amaral, da
Envolverde, especial para a Plataforma Ideia Sustentável* –
Mudanças em gigantes como Itaú,
Coca-Cola e Duratex miram na fidelidade do funcionário
Sobreviver às transformações do
século XXI, complexas e cada vez mais velozes, tem exigido uma
profunda revisão nos valores e práticas empresariais. Mas o real
nível de abertura à inovação só começa a se mostrar quando o
espírito de mudança sai do departamento de marketing e passa no RH.
Na sexta-feira (29\06), diretores de Recursos Humanos de quase uma
dezena de grandes empresas compartilharam suas experiências no Lider
2030 Talks, promovido pela Ideia Sustentável em São Paulo. Dentre
elas, as experiências de Itaú, Coca-Cola e Duratex indicam caminhos
concretos para uma gestão inovadora e adaptada aos valores das novas
gerações.
“Onde vai parar essa
juventude?”
Desde que a geração Y (nascidos
nos anos 80 e início dos 90) começou a entrar no mercado de
trabalho, tem sido comum ouvir empresas reclamarem de uma juventude
“pouco comprometida”: troca de emprego em pouco tempo, não se
prende por planos de carreira e não vê problemas em questionar seus
chefes, trazendo preocupações outras do que o salário. Criados em
um cenário de mais estabilidade econômica que seus pais, a geração
Y exige mais dos seus empregos, como senso de propósito e de alguma
contribuição para o mundo.
O grupo Itaú Unibanco parece ter
captado a mensagem. Para muito além da abolição do código de
vestimenta – o banco trocou o dress code pelo
“vou como sou”; o RH tem emprestado da gestão de clientes o
cuidado com a fidelidade, só que do funcionário. “Assim como
olhamos para a jornada do cliente; agora pensamos na jornada do
colaborador conosco”, compara a VP de Recursos Humanos do banco,
Claudia Politanski. “Só quem se identifica com nossos valores fica
na empresa no longo prazo”, conclui.
Ainda no paralelo entre cliente e
colaborador, a diversidade na composição dos quadros passou a ser
considerada no nível estratégico. “Temos 70 milhões de clientes.
Dá para imaginar um público mais diverso? Então, precisamos de
diversidade para nossos colaboradores interagirem com nossos clientes
de maneira verdadeira, lidar com vieses inconscientes, preconceitos,
etc. Isso traz benefícios para clientes e melhor qualidade de
interação e experiência”, defende Claudia.
No entanto, não é nada simples
abraçar a diversidade e investir em relações de longo prazo com os
colaboradores; o compromisso exige mudanças estruturais. “As
nossas áreas de RH têm quase que se reinventar”, admite a
gestora. “Temos que abandonar modelos tradicionais, como estruturas
rígidas de comando e controle e buscar modelos de relacionamento em
rede, mais horizontais e colaborativos, baseados em relacionamentos”.
Claudia conta que o banco está experimentando o trabalho baseado em
comunidades, com grupos formados por várias áreas – “é mais
ágil”. Para que sejam levadas a sério, as inovações vêm
acompanhadas de novas métricas de avaliação. “[Nas comunidades]
a performance passa a ser medida por resultados coletivos e não
individuais”, revela.
Por falar em novos critérios
“Quer ser CEO? Vai ter que
aprender de verdade o que é esse tema [da sustentabilidade]”. A
nova regra da Coca-Cola foi implantada pela presidência em 2015,
conta a diretora sênior de sustentabilidade da empresa, Andrea Mota.
A decisão partiu da pergunta “como a gente faz para isso [a
sustentabilidade] deixar de ser um valor, o orgulho da empresa, e
passe a ser o projeto? ” Ela revela que os “treinamentos, comitês
multifuncionais, critérios de inovação baseados na
sustentabilidade, vivências e trabalho voluntário geravam
engajamento e orgulho, mas as pessoas voltavam ao trabalho e a
sustentabilidade continuava sendo de cinco pessoas”. A
partir dessa percepção, veio a decisão de condicionar a ascensão
na empresa à experiência na diretoria de sustentabilidade.
“É ousado, não é fácil”,
admite Andrea. “Nosso VP [de sustentabilidade] veio de operações,
tem vendas na veia, teve dificuldades e agora está arrasando. A que
era da sustentabilidade, Claudia Lorenzo, agora é de negócios, uma
das áreas mais estratégicas da empresa. A pessoa vem, fica de dois
a três anos, a gente instala o ‘chip da sustentabilidade’ e ela
vai para outras áreas estratégicas”, descreve.
O fiador da mudança
Desde que resolveu mudar a cultura
da companhia, em 2015, a Duratex colocou a mudança da percepção
sobre sustentabilidade entre suas metas para os próximos dez anos. O
conceito deveria passar a ser encarado como “drive de resultado,
que ajuda a agregar valor para o acionista e eliminar custos de
desperdício”, segundo definição de Luciana Alvarez, gerente de
sustentabilidade e comunicação da empresa. Para ela, “o RH é o
fiador do processo; o garantidor da sua perenidade”.
Luciana conta que o engajamento dos
colaboradores começou com rodas de conversa nas 22 unidades
industriais e florestais da empresa pelo país. “A partir de fotos,
fazíamos as conexões com questões da empresa e atitudes diárias;
um funcionário, por exemplo, pegou uma foto de uma enchente e
identificou que ela tinha acontecido na sua rua; daí fizemos a
conexão com as mudanças do clima”, ela narra, apontando
resultados. “90% [dos colaboradores] começava falando que
sustentabilidade era coleta seletiva. Ao final de uma hora e meia de
roda, admitiam uma visão sistêmica, com questões sociais e
ambientais”. Após os diálogos, uma pesquisa de retenção de
conteúdo entre os colaboradores apontou: o orgulho de pertencer à
empresa estava ligado à sua estratégia de sustentabilidade.
*Série de artigos
produzidos por jornalistas especializados nos diversos campos da
sustentabilidade, coordenada pelo editor Dal Marcondes, em uma
parceria entre a Envolverde e a Plataforma Liderança Sustentável.
Fonte:
ENVOLVERDE
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