Um recife
vitaminado pela floresta.
Por Thaís Herrero, do Greenpeace Brasil –
Desde que o navio Esperanza passou pelo Brasil,
para lançarmos a campanha Defenda os Corais da Amazônia, muita gente nos
pergunta porque chamamos esse sistema de corais assim. Falamos que eles são da
Amazônia, mas não nos rios da floresta. Os recifes estão onde o Oceano
Atlântico. É a região onde o mar encontra o rio Amazonas e, por isso, são fortemente
influenciados pelas águas turvas do rio. Esse é que chamamos de “fator
Amazonas”
Para entender o que isso significa, o rio, cuja
vazão é a maior do mundo, joga 300 mil metros cúbicos (ou 300 milhões de
litros) de água doce no mar, por segundo. Junto dessa água vêm muitos
sedimentos, como terra, restos da vegetação e de animais carregados ao longo do
leito do rio. Se a Floresta Amazônica é chamada de pulmão do mundo, o Rio
Amazonas seria a maior veia do planeta.
Árvores em áreas alagadas na foz do Rio Amazonas,
no Amapá. Foto: © Daniel Beltrá / Greenpeace
Quando chega ao oceano, a água doce não se mistura
igualmente. Fica mais na superfície porque é mais leve que a salgada. Essa
camada superior é o que os especialistas chamam “pluma” do rio.
A pluma é riquíssima em matéria orgânica e mineral,
micróbios e organismos que fazem parte do sistema do oceano. O efeito que ela
causa no mar é o “Fator Amazonas”. Devido ao grande volume e força do rio, a
pluma pode alcançar até a África, em algumas épocas do ano.
Mas qual a relação da pluma com os recifes de
corais da Amazônia? Tudo. Primeiro, vale lembrar que os recifes estão na foz do
rio, ou seja, a área de maior concentração de pluma. Este fator era a condição
apontada justamente para a improbabilidade de ocorrência de recifes na região.
O cientista Nils Asp Neto explica que os recifes
marinhos têm dois fatores limitantes para sua existência: um é a luz que
penetra até o fundo do mar; o outro é a quantidade de nutrientes. Regiões
marinhas que não sofrem interferência de rios têm poucos nutrientes, mas muita
luz chegando até o fundo. Os organismos fotossintetizantes se beneficiam dessa
luminosidade, mesmo tendo pouco nutriente ao seu redor. É o caso de algumas
regiões costeiras brasileiras, como o Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Árvores caídas pelos bancos do Rio Amazonas, a
aproximadamente 1,7 km da cidade de Macapá, no Amapá. Foto: © Daniel Beltrá /
Greenpeace
Pelo que os cientistas já puderam estudar, na foz
do rio Amazonas acontece o contrário: há muito nutriente, mas pouca luz. Os
sedimentos em suspensão na pluma funcionam como uma barreira opaca. “O que
temos visto aqui na foz do Amazonas é que existe uma área de transição onde os
nutrientes do Rio Amazonas chegam, mas não há tanta turbidez. É uma faixa em
uma situação ideal. Os recifes da Amazônia devem estar tirando muita vantagem
disso”, diz Nils.
A pluma que eventualmente reduz a luz na água ao
mesmo tempo funciona como um “suplemento vitamínico” para que os organismos
vivam com condições boas de energia. Quando a pluma se desloca pelas correntes
marinhas e uma maior transparência permite que a luz chegue ao fundo, os
organismos fotossintetizantes se revigoram.
Nos recifes da Amazônia, principalmente na porção
norte, onde a concentração da pluma é maior, há muitas esponjas. Elas são
filtradoras e se alimentam da chamada “neve marinha”. Os nutrientes da pluma
são usados pelo fitoplâncton como alimento; o fitoplancton é comido pelo
zooplancton; e quando o zooplâncton morre, se decompõem, virando a neve
marinha. E as esponjas se alimentam disso.
Imagem na região dos corais da Amazônia. Esponja
amarela em fundo e rodolito. O peixe é um olho-de-boi, ou olhete. Foto
©Greenpeace.
Portanto, a pluma tem grande participação na
existência dos recifes de corais da foz do Amazonas. É uma das razões deles
serem tão especial. Esse bioma único no mundo ainda é pouco conhecido por nós e
pelos cientistas que estudam o tema. Apenas há alguns dias fizemos as primeiras
imagens deles debaixo d’água. E esse tesouro recém-revelado já está em perigo:
duas empresas petrolíferas pretendem perfurar a região em breve, em busca de
petróleo.
É por isso que o Greenpeace está unindo defensores
dos Corais da Amazônia por todo o mundo. Precisamos proteger esse capricho da
natureza, tão raro, e por isso tão especial.
Fonte: Greenpeace Brasil
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