Terrível
vazio instala crise mundial.
Por Baher Kamal, da IPS –
Roma, Itália, e Genebra, Suíça, 13/2/2017 – “O
mundo está em crise, principalmente porque as elites governantes se
distanciaram das necessidades e aspirações das pessoas comuns. O sentimento de
ser deixado para traz fez com que se rebelassem contra a governança
estratificada de seus países”, alertam especialistas. “Além disso, as queixas
sobre a injustiça da globalização foram caladas ou ignoradas quando esta
golpeou os mais pobres do Sul Global, E agora, que também é sentida no Norte, o
tema foi priorizado na agenda dos meios de comunicação”, diz um estudo do
Centro de Genebra para o Avanço dos Direitos Humanos e do Diálogo Global.
Nesse contexto, se exacerbaram os movimentos
populistas que restringem o conceito de cidadania a definições limitadas a uma
identidade relacionada com religiões ou grupos étnicos dominantes, acrescenta o
Centro de Genebra. Por outro lado, as invasões militares no Oriente Médio, com
as consequentes expulsões e vítimas, geraram ressentimentos e destruíram
mecanismos sociais para a resolução de conflitos, prossegue o estudo.
O informe ressalta que “esses acontecimentos
criaram um vazio, ocupado por organizações terroristas que buscam legitimidade
em uma interpretação distorcida do Islã. Assim, por diferentes razões, as duas
religiões principais se envolveram no crescimento de ideologias extremistas e
são consideradas cada vez mais parte do problema subjacente à crise mundial”.
A fim de analisar a conjuntura atual, o Centro de
Genebra organizará, no dia 15 de março, um fórum de debate por ocasião da atual
sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU),
que acontecerá entre os dias 27 deste mês e 24 de março, sobre Islã e
Cristianismo, a Grande Convergência: Trabalhar Juntos Para Uma Cidadania
Igualitária.
O objetivo é impulsionar a criação de uma grande
coalizão para que as duas maiores religiões participem da solução para a crise
atual, e empreguem todo seu potencial para conseguir a paz em beneficio de uma
nacionalidade igualitária, com base em uma identidade relacionada com o
conceito de cidadania, mais do que com o de uma religião, grupo étnico ou outra
filiação.
Também poderá atender a questão das minorias,
tanto muçulmanas no Ocidente como cristãs no Oriente Médio, para não falar da
situação lamentável das minorias muçulmanas em algumas partes da Ásia ou das
tensões religiosas entre muçulmanos e cristãos em algumas áreas da África, bem
como o léxico fóbico que tende a criar mais tensões sociais, explica o Centro
de Genebra.
A organização aponta que “essa atividade
paralela, no dia 15 de março, só é uma primeira oportunidade para criar
consciência, à qual devem seguir outras, com sorte no próprio Conselho de
Direitos Humanos e em outros espaços”. O fórum faz parte de outras iniciativas
do Centro de Genebra, em colaboração com várias instituições, a fim de promover
e proteger os direitos humanos no mundo árabe e na Europa, bem como enfrentar a
violência extremista e a islamofobia.
Em 2016, o centro de estudos organizou diversas
conferências relacionadas, como: Avanço do Status das Mulheres no Mundo Árabe,
Islamofobia e Implantação da Resolução 16/18 do Conselho de Direitos Humanos,
Fim da Radicalização ou Desmantelamento da Violência Extremista, e Muçulmanos
na Europa: o Caminho Para a Harmonia Social.
Segundo seus organizadores, essa atividade
paralela busca instalar a diversidade religiosa e consolidar a ideia de que o
Cristianismo e o Islã são vetores de paz apontando para a grande convergência
entre as duas religiões com base em seus valores comuns. “Nos últimos anos, os
atuais conflitos armados e os ataques terroristas indiscriminados instalaram a
dor principalmente nos países árabes e em partes da África, se estendendo para
o Ocidente e contribuindo para exacerbar as violações de direitos humanos com
um impacto cada vez pior e com proporções sem precedentes desde a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945)”, afirma o Conselho de Genebra.
“Isso pode tomar a forma de violação de direitos
humanos e incluir a liberdade de culto, de expressão, de movimento; as
restrições à educação; repressão das mulheres e violações do direito à liberdade
de pensamento, de consciência e de religião”, enfatiza o Centro. “Nesse difícil
contexto, o mundo experimenta o crescimento de populismos de direita e de
ideologias extremistas, derivados do afastamento do eleitorado por parte do
Estado”, acrescenta.
Segundo o Centro, “a partir da violência e de
tendências viciadas, a islamofobia cresceu de forma sustentada e preocupante
nos últimos anos. Somente nos Estados Unidos, os crimes de ódio contra
muçulmanos aumentaram na surpreendente proporção de 67% desde 2015”. E também
recorda que “a minoria rohingya muçulmana na Birmânia também sofreu perseguição
étnica e religiosa por parte de extremistas budistas no Estado de Rakhine, o
que é ignorado em grande parte pela comunidade internacional”.
“Outros exemplos de perseguição religiosa podem
se estender ao genocídio cometido por sérvio-bósnios contra os bósnios
muçulmanos de Bósnia-Herzegovina, no massacre de Srebrenica de 1995, o maior da
Europa depois da Segunda Guerra Mundial, que deixou mais de oito mil muçulmanos
mortos”, detalha o centro de estudos. “Na década de 1980, os turcos-búlgaros
sofreram violações de direitos humanos nas mãos do governo, que lançou uma
campanha para eliminar sua identidade étnica e religiosa. Além disso, a
demolição da mesquita de Baburi, por extremistas hindus em 1992, gerou tensões
entre muçulmanos e hindus na Índia”, acrescenta.
“A distorcida representação nos meios de
comunicação das comunidades muçulmanas, bem como do Islã, incidiu no
fortalecimento de tendências xenófobas no mundo, ao perpetuar estereótipos e
descrições negativas dos muçulmanos”, segundo o estudo. “Podemos explorar
formas nas quais a mídia possa mitigar seu papel na apresentação de uma imagem
distorcida das minorias religiosas e contribuir para uma tolerância maior e
compreensão inter-religiosa mediante mensagens de paz ao público”, propõe o
Centro de Genebra.
O resultado principal da atividade paralela à
sessão do Conselho de Direitos Humanos poderia ser a adoção de um rascunho de
agenda para uma conferência internacional sobre esse assunto e que seja
proposto no anexo à nota conceitual sobre o fórum do debate.
Fonte: ENVOLVERDE
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