O rádio,
primeira rede social segue atual.
Por Lyndal Rowlands, da IPS –
Nações Unidas, 14/2/2017 – Com menos da metade da
população mundial conectada à internet, o rádio se mantém atual e é a principal
fonte de notícias e informações do mundo, entre muitos outros benefícios. Para
muitos dos cinco milhões de pessoas que ouvem rádio em diferentes frequências,
esta é, de certa forma, também uma rede social, porque muitos apresentadores
colocam seus ouvintes no ar com diferentes propostas. O especialista Martin
Scott, conferencista sobre mídia e desenvolvimento internacional da Universidade
de Anglia del Este, opinou à IPS que é comum se passar por alto em relação ao
aspecto social do rádio.
A Rádio Bundelkhand, do centro da Índia, tem cerca
de 250 mil ouvintes, dos quais 99% são agricultores. Foto: Stella Paul/IPS
“Pode ter debates ao vivo. Em um jornal é muito
mais difícil, mas é mais fácil participar pelo rádio”, afirmou Scott,
destacando também a importância dos debates ao vivo no rádio. “Se o desejo é
que as autoridades sejam transparentes, que sejam consideradas múltiplas
perspectivas e que as pessoas desfavorecidas recebam ajuda e participem do
processo, a comunicação participativa é vital para conseguir isso, e o rádio é
um meio que frequentemente, embora nem sempre, se presta para isso”, apontou.
Nos últimos anos, a corrida para levar a internet a
todas as partes ofuscou o papel fundamental que continua tendo esse meio de
comunicação para milhares de milhões de pessoas, particularmente nos países em
desenvolvimento. De fato, cerca de 75% das famílias nas nações em
desenvolvimento possuem algum dispositivo para ouvir rádio, muito acima dos 40%
que têm internet, segundo dados da União Internacional das Telecomunicações
(UIT) e da Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura
(Unesco).
Scott recordou que o rádio é um artefato barato sem
custo de funcionamento, ao contrário da internet. Mas há mais razões pelas
quais chega para mais pessoas, especialmente as mais desfavorecidas. O rádio
pode ser transmitido em muitos dialetos e é uma fonte de informação para um
bilhão de pessoas analfabetas, bem como para as que têm problema de visão.
Também pode chegar às populações de áreas afastadas ou de difícil acesso, onde
ainda não existe conexão sem fio à internet.
O pronunciado aumento dos telefones celulares nos
países em desenvolvimento permite que mais pessoas tenham conexão à internet e
acesso a emissoras de rádio, porque esses aparelhos também contam com receptores
de rádio. De fato, a expansão da internet não necessariamente implica a morte
das rádios, porque agora as pessoas ouvem muitos programas e podcasts
pela internet.
Festus Kaleli, da Rádio Mang’elete, entrevista um jovem agricultor no distrito
de Nthongoni, na região de Makueni, no Quênia. Foto: Isaiah Esipisu/IPS
A rede mundial de computadores ampliou de forma
significativa o número de pessoas que podem publicar e compartilhar notícias,
mas isso não necessariamente implica ser mais acessível do que o rádio,
ressaltou Scott. Nem todos têm tempo, conhecimentos, telefone celular ou
eletricidade para se conectar ao Twitter, já para ouvir rádio bastam apenas as
baterias, recordou.
Para destacar a importância desse meio de
comunicação, a pedido da Academia Espanhola do Rádio, foi proposta a
celebração, no dia 13 de fevereiro, do Dia Mundial do Rádio, pois é “uma
tecnologia de baixo custo, que permite receber e transmitir e que oferece a
possibilidade de chegar a audiências mundiais, nacionais ou locais”. Além
disso, “a produção radiofônica é simples e não muito cara, sendo, assim, ideal
em zonas com baixos índices de alfabetização ou para chegar a ouvintes especializados
restritos, como minorias linguísticas ou culturais”, afirma a academia.
O Conselho Consultivo da Unesco recomendou a
proclamação do “Dia Mundial do Rádio, em 13 de fevereiro, data em que as Nações
Unidas estabeleceram o conceito de Rádio Nações Unidas”. Mas, para que o maior
número possível de pessoas tenha acesso tanto ao rádio como à internet, é
importante prestar atenção na governança desses meios, pontuou Scott.
“Os protestos do Facebook na Índia e no Egito são
exemplos para o bem ou para o mal da importância da governança das novas
tecnologias”, afirmou o especialista, se referindo às manifestações contra um
plano para baratear a conexão à internet nas nações em desenvolvimento com
habilitação de acesso a um número limitado de sites. O plano, qualificado de
“jardim murado”, foi muito criticado porque atenta contra os princípios dos
fundadores da internet, de que seja aberta a todos.
Historicamente, o número de emissoras de rádio se
ajustou às frequências e às licenças disponíveis. E, embora o rádio digital
permita ampliar o número de emissoras, Scott alerta que a transição do sistema
AM/FM para o digital deve ser administrada com cuidado.
A Rádio NZ informou há pouco que milhares de
pessoas nas Ilhas Salomão ficaram sem acesso à emissora Australian Broadcasting
Corporation (ABC) no final de janeiro, quando esta abandonou a amplitude
modulada (AM) em beneficio da frequência modulada (FM) e de serviços na
internet. A respeito da importância e das consequências do fato, Ruth Liloqula,
da Transparência Internacional, declarou à Rádio NZ que, após o último
terremoto, os moradores de áreas mais afastadas das Ilhas Salomão ficaram
sabendo que não haveria tsunami graças à emissora ABC.
* Este artigo é parte da cobertura especial da IPS
sobre a importância do rádio no Dia Mundial do Rádio, celebrado em 13 de
fevereiro.
Fonte: ENVOLVERDE
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