Aos 10 anos da Lei do Saneamento Básico, Brasil ainda apresenta condições lamentáveis, mostra estudo da ABES.
No aniversário da Lei 11.445, estudo realizado pela
ABES sobre situação do saneamento no país, com base na PNAD 2015, mostra
avanços tímidos. “O Brasil precisa urgentemente colocar o saneamento como
prioridade. Saneamento deve ser prioridade de Estado e não de governo”, afirma
o presidente da ABES, Roberval Tavares de Souza.
A Lei 11.445, conhecida como a Lei do Saneamento
Básico, completa 10 anos este mês com pouco a comemorar: estudo realizado pela
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES demonstra que
houve melhora na situação do saneamento no país, porém, movida por avanços
tímidos em algumas regiões. O instrumento estabelece as diretrizes nacionais e
a política federal para o setor. Seu advento gerou grandes expectativas quanto à
melhoria da prestação e gestão desses serviços e a tão desejada
universalização. Dez anos depois, os indicadores monitorados anualmente pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) por meio da PNAD
(Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios) apontam um grande contingente de
pessoas ainda sem acesso aos serviços.
O estudo “Situação do Saneamento Básico no
Brasil – uma análise com base na PNAD 2015”, divulgado pela
ABES na sexta-feira, dia 20, em São Paulo, durante o lançamento da Câmara Temática de Comunicação no
Saneamento, é um comparativo 2014/2015 dos serviços de
abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e filtro de água
no Brasil. Como informação complementar, apresenta uma análise dos principais
indicadores de saneamento no Brasil, por meio de suas cinco Grandes Regiões e
Unidades da Federação em um comparativo 20008/2015.
A publicação contempla os indicadores de
abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e, adicionalmente,
estatísticas sobre o uso de filtro de água nos domicílios, indicador
significativo nesse contexto por guardar relação com a percepção dos
consumidores quanto à qualidade da água.
Todas as informações têm como base a PNAD 2015
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anualmente.
A análise mostra que o abastecimento de água
apresentou uma variação de 1,5% de 2014 para 2015, com o incremento de 876 mil
novos domicílios atendidos, mantendo assim a cobertura de 85,4% de 2014. A
maior cobertura foi registrada no Sudeste (92,2%) e a menor na região Norte
(60,2%).
Já o esgotamento sanitário por rede, que contempla
os domicílios conectados à rede de esgoto por canalização ou fossa séptica,
teve uma variação de 4,5% no período, alcançando uma cobertura de 65,3%. Mais
uma vez, a maior cobertura foi registrada no Sudeste (88,6%) e a menor no Norte
(22,6%). No mesmo período, cerca de 700 mil domicílios deixaram de esgotar por
fossa séptica não ligada à rede coletora ou por fossa rudimentar, passando o
percentual de domicílios nessas condições de 34,4% para 32,7% em 2015.
Mesmo tendo aumentado em 1,5% os domicílios
atendidos pelo serviço de coleta de lixo, a cobertura de 2015 se manteve a
mesma de 2014 – 89,8%.
E, por fim, cresceu em todas as regiões, com
exceção da Norte, o número de residências que utilizam filtro de água, chegando
a mais de 36 milhões aquelas que fazem uso do equipamento. Desse número, mais
de 50% estão no Sudeste.
2008/2015
Segundo a PNAD, a cobertura de abastecimento de
água no país aumentou de 83,9% em 2008 para 85,4% em 2015, o que significa que
o acesso foi ampliado para mais 10 milhões de residências aproximadamente, das
quais só o Sudeste foi responsável por cerca de 4 milhões. Em 2015, 58 milhões
de domicílios contavam com o acesso aos serviços.
No esgotamento sanitário por rede, a cobertura
avançou 6% nesse intervalo de 7 anos, passando de 59,3% para 65,3%, estendendo
o acesso à 44,4 milhões de residências, após o atendimento de 10,3 milhões no
período. Mais uma vez, o Sudeste acrescentou o maior contingente de domicílios
à cobertura: 4,5 milhões.
A coleta de lixo apresentou uma variação absoluta
bastante similar ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário – 10,5
milhões de residência passaram a ser atendidas com esse serviço no período,
ampliando-se a cobertura de 87,9% para 89,8%. E novamente o Sudeste despontou a
maior variação absoluta do período – 4,2 milhões de domicílios passaram a
dispor do serviço no período.
A despeito dos avanços obtidos no período, tímidos,
é verdade, 29 milhões de pessoas permanecem sem acesso ao abastecimento geral
de água, 69,2 sem acesso ao esgotamento sanitário por rede e 20,5 sem coleta de
lixo.
Estes índices, ainda tão distantes do ideal,
favorecem a proliferação de muitas doenças, como a dengue, a zika, a
chikungunya e, em pleno século 21, a febre amarela.
“Apesar de sua irrefutável importância,
infelizmente o saneamento é um dos segmentos mais atrasados da infraestrutura
brasileira. Em uma escala de desenvolvimento e competitividade, o saneamento só
ganha do segmento dos portos, perdendo para rodovias, ferrovias, aeroportos,
energia e telecom”, ressalta o presidente da ABES, “Roberval Tavares de Souza.
O engenheiro frisa que hoje, no país, há mais
escolas públicas com acesso à internet do que com saneamento: 41%, contra 36%,
respectivamente. “Não desmerecendo a relevância do acesso à internet, sobretudo
nos dias hoje, o fato de termos mais da metade das escolas do país sem coleta
de esgoto, um terço delas sem rede de água e um quarto sem coleta de lixo
demonstra a inversão de prioridades por parte de nossos gestores, nos mostra
como o saneamento vem sendo relegado nos últimos anos. O Brasil precisa
urgentemente tornar o saneamento prioridade. Saneamento deve ser prioridade de
Estado e não de governo”
Acesse os documentos aqui
Fonte: ABES
Nenhum comentário:
Postar um comentário