Estudantes
transformam bairro e dão novo rumo à escola.
Em São Paulo (SP), adolescentes colocaram a
mão na massa para revitalizar a comunidade ao redor da escola por meio de ações
coletivas.
Por Pedro Nogueira, da Plataforma Cidades
Educadoras –
“O que mais incomoda vocês no bairro em que
vivem? E no caminho entre a escola e sua casa?”
Essas foram algumas das perguntas que inspiraram
um grupo de estudantes do nono ano a darem um passo em direção ao seu
território, em Aricanduva, na zona leste de São Paulo. Passo este que logo se
tornou uma caminhada de estudantes de diversas turmas, de professores,
coordenadores, de uma escola e de um bairro. Encontrando em seu entorno aquilo
que queriam ver diferente, a comunidade escolar passou a agir nos espaços,
misturando ação e aprendizado em um processo que deixará marcas profundas.
O projeto “Para além dos muros da escola:
intervindo no Jardim Maringá”, da EMEF Assad Abdala, foi uma das onze escolas
selecionadas na edição 2016 do Desafio Criativos da Escola. A iniciativa
visava, a partir de ações coletivas, transformar espaços públicos, como uma
praça do bairro, um clube, um escadão e um centro comunitário.
Aprender com o espaço
Quem conta essa história é a professora de língua
portuguesa Claudia Acorinte da Costa, uma das responsáveis por coordenar o
projeto. Segundo ela, o processo se reporta diretamente à instauração dos
Trabalhos Colaborativos Autorais, os TCAs, implementados na escola desde 2014,
com a adesão ao programa Mais Educação São Paulo.
A partir dele, os estudantes começaram a
pesquisar temas que lhes interessavam e os professores repararam que eles se
sentiam muito incomodados com o lugar onde viviam. “Eles sentiam uma baixa
auto-estima muito forte com seu território. Então resolvemos agir justamente
nisso.”
Com o diagnóstico da situação, foram às ruas e
praças do bairro. Todo material usado para grafitar, construir e requalificar
os espaços veio da escola e de doações da comunidade. “Os familiares no começo
tinham medo, pois eram áreas perigosas. Mas logo passaram a acreditar no
trabalho desenvolvido, assim como os estudantes dos 6º e 7º, que começaram a
integrar nossos esforços.”
Protagonismo estudantil
Divididos em comissões, aplicavam saberes
escolares para compreender e transformar os espaços. A professora conta que a
matemática foi aplicada para pensar nas mudanças estruturais, o português nas
entrevistas com moradores da região e outras frentes dos projetos, como
comunicação e arquitetura e urbanismo, foram instrumentais para pensar e
divulgar as ações.
“A aprendizagem fica muito mais rica quando é
aplicada. Hoje a gente não tem dúvida de que eles crescem muito mais assim.
Pretendemos inclusive trabalhar com projetos e roteiros de pesquisas, nos
moldes que vemos hoje em escolas como a EMEI Desembargador Amorim Lima“,
projeta.
“O protagonismo estudantil, essa ideia de que se
eles não participarem de suas realidades, ninguém vai fazer por eles, foi algo
muito forte que vimos na fala dos estudantes. Isso mudou radicalmente a relação
com o bairro e com a educação”, acredita Cláudia, que também ressalta o envolvimento
e apoio da direção e da coordenação da escola no processo. “Sem isso, nada
teria saído do papel. Agora temos até professores sendo realocados para nossa
escola, para aprofundarmos cada vez mais a transformação”.
Mais Educação
O projeto teve também o apoio dos programas Mais
Educação, Mais Educação São Paulo e São Paulo Integral. “Isso nos traz algo
muito interessante. Ele é a prova concreta de como uma política pública pode
destravar potenciais de um determinado local”, analisa Gabriel Salgado, assessor
do projeto Criativos da Escola, do Instituto Alana.
“Não há dúvida de que os jovens produzem cultura,
arte e política, mas quando nos propomos a reconhecer a participação ativa dos
estudantes e seu papel de sujeitos, que muitas vezes floresce de maneira
silenciosa nos corredores escolares, eles são capazes de crescer e inclusive
ultrapassar a política”, afirma.
Escola criativa
Salgado acredita que o projeto, que foi um dos
onze escolhidos entre um total de 1.014 enviados para o Desafio Criativos da
Escola, têm como grande potência a sua inserção no território. “Ele mostra como
a ação direta dos estudantes – com apoio dos professores – é capaz de
transformar uma comunidade, ao mesmo tempo em que traz um ganho para a
qualidade da educação”.
Ele também considera que esse processo incrementa
a formação e a capacidade de ação dos professores, oxigenando o ambiente
escolar. “Um professor que reconhece a participação estudantil é um resistente.
Que eles possam seguir efetivando suas pretensões de colocar em prática uma
educação mais democrática e transformadora”, finaliza.
Fonte: Porvir
Nenhum comentário:
Postar um comentário