Trump, na
contramão do mundo.
Por Reinaldo Canto*
A temperatura bate recorde e o presidente dos EUA
anuncia investimentos em energias fósseis.
Ninguém se surpreendeu com as primeiras medidas
tomadas por Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, uma vez que entre
as suas principais bandeiras de campanha estava o desmonte das obras e legados
de Barack Obama.
Na área ambiental, a primeira ação da nova
administração foi eliminar do site da Casa Branca a página com notícias e ações
do governo sobre mudanças climáticas. O objetivo imediato de Trump é acabar com
o Plano de Ação Climática do governo anterior e iniciar fortes investimentos na
exploração de petróleo, gás e carvão.
No último dia 24, ele assinou ordens executivas
aprovando a construção dos polêmicos oleodutos Keystone XL e Dakota Access que,
por seus enormes riscos ambientais, haviam sido barrados por Obama.
Para Trump, acabar com o legado ambiental será
uma forma de “eliminar políticas danosas e desnecessárias” e, segundo ele,
gerar empregos.
Trump não apresentou evidências disso, mas ignora
provas do aquecimento global. Dados divulgados pela Organização Meteorológica
Mundial e pela Nasa, a agência espacial norte-americana, constataram que 2016
foi o ano mais quente da história, sendo o terceiro ano consecutivo de recorde
no aumento da temperatura global.
Os levantamentos apontam para a continuidade
desse processo de aquecimento constante e as simulações para 2050 mostram que,
veja só a ironia, os EUA chegarão a um aumento de 2º C antes do resto do mundo.
Em alguns dos estados mais ricos do país, a temperatura deverá atingir 3º C a
mais do que a média planetária.
Consequentemente, os Estados Unidos, grandes
produtores de alimentos, devem ter perdas agrícolas enormes, além de
experimentarem um crescimento de fenômenos climáticos extremos, tais como
tornados, enchentes e secas prolongadas.
São sinais eloquentes de que não será possível
para Donald Trump considerar os Estados Unidos uma ilha, por mais que ele cerque
o país com muros. No caso das mudanças climáticas não existem soluções
nacionalistas. Este é um problema que envolve decisões conjuntas de toda a
comunidade internacional. O horizonte é de grandes perdas econômicas e, como se
pode ver, os Estados Unidos serão muito afetados em decorrência do aquecimento
global.
Resistências à truculência e ignorância do novo
mandatário norte-americano começaram a surgir.
Uma delas e de grande relevância foi a carta
endereçada a Trump por mais de 540 empresas e 100 grandes investidores
participantes do movimento empresarial Low-Carbon USA O grupo pede à nova
administração da Casa Branca e também ao novo Congresso apoio às políticas que
acelerem a transição do país para uma economia de baixo carbono, com o objetivo
de enfrentar as mudanças climáticas.
Entre as empresas signatárias estão gigantes como
Starbucks, Nike, L’Oreal, Gap, Levi’s, Unilever, General Mills, Hilton, Dupont
e Schneider Electric, entre outras. Juntas, essas corporações representam
receita anual superior a 1,15 trilhão de dólares e empregam cerca de 2 milhões
de pessoas em todo o país.
A carta faz menção ao Acordo Climático de Paris e
à necessidade de se cumprir suas metas de redução das emissões globais dos
gases de efeito estufa. As empresas listadas afirmam que farão sua parte para
“cumprir os compromissos do Acordo Climático de Paris de uma economia global
que limita o aumento da temperatura planetária bem abaixo de dois graus
Celsius”. Entre as ações listadas pelas empresas estão o aumento da eficiência
energética e a utilização crescente de energias limpas e renováveis.
Para Anna Walker, diretora sênior de Política
Global e Advocacy da Levi Strauss & Co., “é imperativo que as empresas
tomem um papel ativo no cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Acordo
Climático de Paris”. “Será fundamental que trabalhemos juntos para garantir que
os EUA mantenham sua liderança climática, garantindo, em última instância, a
prosperidade econômica de longo prazo de nossa nação”, disse.
Trump deve ficar atento à essa realidade.
Empresas norte-americanas já investiram muitos bilhões de dólares em energia
renovável dentro e fora do país. Além disso, esse mercado é promissor para os
EUA, ainda que a liderança esteja em disputa com China, Alemanha e Japão, entre
outros.
O que o mundo e os EUA menos precisam neste
momento é de uma visão limítrofe e atrasada.
Trump, o “presidente do fim do
mundo”, pode retardar o avanço para uma economia de baixo carbono, mas,
espera-se, não poderá sozinho alterar os rumos da economia mundial, inclinada
nesse sentido. Ainda assim, neste aspecto parece evidente que sua passagem pela
Casa Branca será ruim para todos, inclusive para seus eleitores.
* Reinaldo Canto
é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e
pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas
principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação
do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo
Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e
parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e
consultor da ONG Iniciativa Verde.
Fonte: Carta
Capital
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