Declarada
guerra ao plástico nos oceanos.
Por Baher Kamal, da IPS –
Roma, Itália, 24/2/2017 – A Organização das Nações
Unidas (ONU) declara guerra aos plásticos que inundam os oceanos: mais de oito
milhões de toneladas acabam em suas águas a cada ano, como se fosse despejado
um caminhão desse material por minuto, o que causa estragos na vida marinha, na
pesca e no turismo, e tem custo de aproximadamente US$ 8 bilhões.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(Pnuma), com sede em Nairóbi, capital do Quênia, lançou ontem uma campanha
mundial para eliminar, até 2022, as principais fontes de contaminação marinha,
como os microplásticos existentes em produtos cosméticos, e o desperdício de
artigos descartados usados apenas uma vez.
Apresentada na Cúpula Mundial dos Oceanos,
organizada pela revista The Economist, na cidade de Bali, na Indonésia,
a campanha #MaresLimpos pede urgência aos governos no sentido de criarem
políticas para reduzir o uso de plásticos, especialmente dirigidas à indústria,
a fim de minimizar os envoltórios desse material e redesenhar suas embalagens,
e aos consumidores para mudar seus hábitos de descarte, antes que haja um dano
irreversível.
A maior limpeza de praias do mundo em Versova, na cidade indiana de Mumbai.
Foto: Pnuma
“Já é hora de encararmos o problema do plástico que
arruína nossos oceanos”, ressaltou Erik Solheim, diretor executivo do Pnuma. “A
poluição por plásticos navega pelas praias indonésias depositando-se no solo
oceânico do Polo Norte, e regressa por meio da cadeia alimentar para se
instalar em nossa mesa. Esperamos muito tempo e o problema piorou. Precisa
acabar”, enfatizou.
No contexto da campanha serão anunciadas novas
medidas ambiciosas dos países, mas também das empresas, para a eliminação dos
microplásticos dos produtos de higiene pessoal, proibição ou taxação dos sacos
plásticos com apenas um uso e redução drástica de outros artigos plásticos
descartáveis. A iniciativa mundial procura sensibilizar os governos, a
indústria e os consumidores para que reduzam urgentemente a produção e o abuso
de plásticos, que contaminam os oceanos, atentam contra a vida marinha e
ameaçam a saúde humana.
O Pnuma procura transformar todas as esferas:
hábitos, práticas, padrões e políticas em todo o mundo, com o objetivo de
reduzir radicalmente o lixo marinho, bem como suas consequências negativas. Dez
países já se uniram à campanha: Bélgica, Costa Rica, França, Granada,
Indonésia, Noruega, Panamá, Santa Lúcia, Serra Leoa e Uruguai. A Indonésia se
comprometeu a diminuir seu lixo marinho em 70% até 2025, o Uruguai anunciou que
este ano taxará os sacos plásticos descartáveis, e a Costa Rica tomará medidas
para reduzi-los rapidamente por meio de uma melhor gestão dos resíduos e da
educação.
“Proteger os mares e a vida marinha do plástico é
uma questão urgente para a Noruega”, segundo o ministro de Clima e Meio
Ambiente desse país, Vidar Helgesen. “O lixo marinho aumenta rapidamente os
riscos para a vida marinha, a segurança dos mariscos e peixes, e afeta de forma
negativa a vida das populações costeiras de todo o mundo. Os oceanos já não
podem esperar”, destacou.
Por sua vez, a ministra de Habitação, Ordenamento
Territorial e Meio Ambiente do Uruguai, Eneida de León declarou: “Nosso
objetivo é desestimular o uso de sacos plásticos mediante regulamentações,
oferecer alternativas aos trabalhadores do setor do lixo e desenvolver planos
de educação sobre o impacto do uso dos sacos plásticos em nosso ambiente”.
Nos banheiros de todo o mundo há pastas de dentes e
esfoliantes faciais envasados com microplásicos, que ameaçam a vida marinha.
Foto: Pnuma
No ritmo em que descartamos garrafas, sacos e copos
plásticos, as estimativas revelam que até 2050 os oceanos terão mais plástico
do que peixes e que aproximadamente 99% das aves marinhas terão consumido
plástico. São esperados mais anúncios no contexto dessa campanha na Conferência
sobre os Oceanos, que acontecerá na sede da ONU, em Nova York, entre os dias 5
e 9 de junho, bem como na Assembleia Geral da ONU para o Meio Ambiente, que
acontecerá em Nairóbi no mês de dezembro.
Além dos oito milhões de toneladas de plástico
lançados nos oceanos todos os anos, estes também sofrem sobrepesca,
acidificação e elevação da temperatura da água devido à mudança climática. A
ONU organizou uma reunião nos dias 15 e 16 deste mês em Nova York para preparar
a Conferência de junho, no sentido de “contribuir para salvaguardar os oceanos
e recuperar os problemas causados pelas atividades humanas”.
A ministra do Clima da Suécia, Isabela Lövin,
afirmou em um vídeo postado no Twitter que a Conferência seria uma
“oportunidade única na vida” para salvar os oceanos que sofrem um enorme
estresse. Ela argumentou que “não precisamos negociar nada novo, só temos que
agir para implantar o que já acordamos”, basicamente resumindo o sentimento da
maioria da comunidade científica, ambientalistas e organizações da sociedade
civil.
Lövin se referia à esperada “chamada à ação”, que
surgirá da Conferência no que diz respeito à sobrepesca, à contaminação marinha
e às circunstâncias especiais dos pequenos Estados insulares. No tocante ao
objetivo de conseguir oceanos sustentáveis e preservar a vida debaixo da água,
a ministra disse em entrevista à IPS que “o mundo avança em uma direção
totalmente equivocada”.
“Se observarmos as tendências, vemos cada vez mais
sobrepesca, cada vez mais contaminação, lixo plástico que chega aos oceanos, e
também vemos o estresse que sofrem os oceanos por causa da mudança climática, da
acidificação e do aquecimento da água e pela elevação do nível do mar. Tudo
isso exerce uma tremenda pressão sobre nossos oceanos”, enfatizou a ministra.
Na reunião de Nova York, a ONU pediu compromissos
voluntários para implantar o 14º dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), e, no dia 15 deste mês, lançou um registro de compromisso online, que já
tem três compromissados: o governo da Suécia, o Pnuma e a organização não
governamental Peaceboat. O site estará pronto ao final da Conferência, que
começará em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, durante a qual também
será celebrado o Dia Mundial dos Oceanos, três dias mais tarde.
Os compromissos voluntários “destacam a necessidade
de ação e soluções urgentes”, pontuou o secretário-geral adjunto para Assuntos
Econômicos e Sociais da ONU, Wu Hongbo, que será o secretário-geral da Conferência.
Fonte: ENVOLVERDE
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