Projeto
analisa poluição por microplástico.
Por
João Malavolta, do Ecosurf –
A poluição nas praias por
derivados sólidos de petróleo revela uma das consequências do atual modelo de
produção e consumo das sociedades modernas e expressa o total descuido das
populações e gestores públicos com o descarte adequado de resíduos entendidos
como lixo.
De acordo com o artigo 1º da
Convenção das Nações Unidas sobre o Direto do Mar (CNUDM) a poluição marinha é
definida como a introdução pelo homem, direta ou indiretamente, de substâncias
ou de energia no meio marinho, incluindo os estuários, sempre que a mesma
provoque ou possa vir provocar efeitos nocivos, tais como danos aos recursos
vivos e à vida marinha, riscos à saúde do homem, entrave às atividades
marítimas, incluindo a pesca e as outras utilizações legítimas do mar,
alteração da qualidade da água do mar, no que se refere à sua utilização, e
deterioração dos locais de recreio (CNUDM, 1982).
Essa poluição tem se tornado uma
crescente ameaça aos ambientes costeiros e marinhos por causa do aumento de
materiais não degradáveis, principalmente material plástico. Eles são os mais
comuns e persistentes nos oceanos e praias de todo mundo, devido à degradação
mais lenta do plástico ocorrer no oceano do que em terra (GOLIK & GARTNER,
199; MOORE, 2008 apud BISI et al., 2011).
Todos os anos entre 8 e 12
milhões de toneladas de plástico ingressam nos oceanos. Esse material é gerados
tanto a partir de atividades marítimas, quanto terrestres como a pesca, o
turismo e a precária gestão de resíduos. Embora a quantidade total no oceano
seja desconhecida o plástico já é encontrado em todo o mundo, incluindo as
regiões polares, longe de sua fonte de geração (UNEP 2014).
A pesquisa realizada no
litoral paulista, denominada “Projeto Microplástico“, que está
sendo desenvolvida pela Ecosurf, desde 2o15, realizou um
estudo de análise e quantificação do microplástico distribuído na Praia dos
Pescadores na cidade de Itanhaém.
O estudo durou cerca de 180 dias
e contou com saídas de campo, processo de quantificação e classificação do
material plástico recolhido, no laboratório da Escola Técnica Estadual de
Itanhaém (ETEC).
Tipicamente os plásticos
são definidos como: pedaços de plástico ou de fibras e podem ser divididos em
dois grandes grupos: macroplásticos (fragmentos > que 5 mm) e microplásticos
(< que 5 mm), (ARTHUR et al., 2009; HIDALGO-RUZ et al., 2012 apud PEREIRA,
Flávia Cabral, 2014, p. 5).
Partículas microplásticas também
consistem em material plástico manufaturado de tamanho microscópico, como
abrasivos utilizados em produtos de limpeza industrial e domésticos (DERRAIK,
2002), além de matérias-primas industriais utilizadas para produção de
plásticos (pellets), (OGATA et al., 2009 apud VEDOLIM, M, 2014, p.2) e
fragmentos e fibras de plásticos derivados da quebra de produtos plásticos
maiores (MOORE, 2008 apud PEREIRA, Flávia Cabral, 2014, p. 5).
Atualmente, produtos de higiene
pessoal e cosméticos possuem em suas fórmulas micropartículas feitas de resinas
sintéticas (polietileno (PE), polipropileno (PP), polietileno tereftalato
(PET), polimetilmetacrilato (PMMA)).
Os microplásticos são
formados por fontes geradoras primárias e secundárias. As fontes primárias são
aquelas que possuem microplásticos em sua composição, como cosméticos – cremes
esfoliantes e produtos de higiene pessoal – pasta de dentes. As fontes
secundárias geram o microplástico a partir do processo da fragmentação e/ou sua
decomposição pelos raios solares ultravioletas (UV).
ÁREA DE ESTUDO
Em Itanhaém a Praia dos
Pescadores foi escolhida para o estudo por possuir características
geomorfológicas peculiares. O ambiente possui o total de 22.341 m2 de área.
A pesquisa considerou como
amostragem ideal a investigação 5.395m2 do total da praia, o que equivale a
cerca de 25% da faixa de areia (1/4 do total).
A metodologia aplicada pelo
estudo utilizou o sistema de isolamento de área através de transectos. Dessa
forma foi possível determinar uma linha padrão para a coleta das amostras.
Foram montados 18
transectos (T01 ao T18) e distribuídos ao longo de toda extensão dos 22.341m2
da praia. Cada ponto foi definido com o auxilio de uma trena, estaca e
barbante, estabelecendo um transecto de 5 mt de largura, que se estendia
(cumprimento) da área da face da praia na maré mais baixa no momento da coleta,
até a primeira barreira natural ou ocupação urbana.
Cada transecto teve três
pontos de coleta (sub-transectos) definidos, sendo estes descritos como
quadrantes do transecto (Q1, Q2 e Q3), que correspondem a 33,3% da metragem do
total de cada transecto, localizados entre zonas da praia.
Os 18 pontos analisados
demonstraram que os transectos divididos em grupos de seis áreas, nos três
setores amostrados da praia (norte, centro e sul), totalizaram 5.395 mt2, o que
representou 24,1% da área total do ambiente mostraram-se confiáveis como método
representativo da área.
Devido ao tamanho do
microplástico a equipe de pesquisa permaneceu realizando a coleta durante 60
minutos, em cada transecto, o que permitiu maior possibilidade e padrão de
recolha dos resíduos.
Conforme análise, os
microplásticos mais encontrados foram nas medidas entre < 5 mm a < 2,5
mm, representando 86% do total de 4.770 unidades de fragmentos plástico, como
demonstra a Tabela abaixo e o Gráfico 03.
Destacou-se nessa
categoria os pellets, (Gráfico 03) que correspondem a maior abundancia de itens
descobertos em todo ambiente, cerca de 55% do total. Já itens < 2,5 mm,
representaram 14% do material achado pela pesquisa.
No setor norte da praia foi
contabilizado a menor quantidade de fragmentos, 714 itens de microplástico,
distribuídos nos seis transectos – 01 a 06. Nesta área a pesquisa analisou
1.845m2, que corresponde a 08,25% do total.
No caso do setor centro,
na análise dos transectos: 07 a 12 houve um acréscimo de 1.058 fragmentos de
microplástico em comparação ao setor norte, totalizando 1.772 itens encontrados
em 2.040 m2 de praia. O que evidencia o aumento da sujidade do local nessa
região.
A distribuição da poluição ao
longo da praia mostrou uma tendência de aumento no sentido norte – sul. O setor
sul totalizou 2.284 itens de microplástico encontrados.
Nos três setores amostrados ao
longo da distribuição de 18 transectos na praia foi possível observar um
gradiente da repartição do microplástico em maior quantidade na área de pós-praia,
onde os fragmentos mais leves são depositados pela corrente de deixa de
detritos, em cada fluxo de maré alta.
O setor sul foi a área
mais poluída da praia representando 48% do total de toda distribuição de
resíduos.
Vale destacar que em todos os
gráficos de quantidade apresentados os campos localizados no Quadrante 03 de
cada transecto, próximos ao primeiro obstáculo na área urbanizada da praia,
foram os locais com maior deposição de material plástico.
Resultados
A Praia dos Pescadores apresentou
uma quantidade extremamente alta de poluição por microplástico.
Segundo os
dados amostrais produzidos pela pesquisa é possível afirmar que 88% da área
total estudada da praia tem resíduos sólidos de plástico de baixa densidade,
< 5mm, depositados em suas areias. Ainda, conforme os dados sistematizados,
o padrão de sujidade da areia, quando extrapolados espacialmente para o total
da praia mantém a mesma proporção devido a homogeneidade do ambiente.
No entanto, estudos
complementares são necessários para ampliar ainda mais o conhecimento sobre as
informações e dados estatísticos produzidos pela pesquisa.
Portanto, a poluição da praia
pelo microplástico reflete um problema global de poluição marinha e reforça a
ideia do relatório, “A Nova Economia do Plástico: Repensando o Futuro dos
Plásticos”, produzido pela Fundação Ellen MacArthur e apresentado no último
Fórum Econômico Mundial, em 2015, na Suíça, onde existe a afirmação, que nos
próximos 34 anos, a quantidade de lixo plástico no oceano vai superar, em peso,
a de peixes.
A solução para os
problemas ambientais visando à diminuição do consumo de plástico e seu descarte
inadequado deve passar por um amplo trabalho de educação para a
sustentabilidade junto aos povos, e um novo pacto entre os governos,
indústrias, sociedade civil e demais tomadores de decisão, para a busca de
soluções conjuntas, que consigam criar cenários que favoreçam a diminuição do
consumo de embalagens descartáveis, a economia circular e o uso racional dos
bens naturais.
Para saber mais sobre a pesquisa, acesse: www.facebook.com/ProjetoMicroplasti… ou entre em contato através do e-mail: joaomalavolta@ecosurf.org.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Decreto Nº 1.530, de 22
de junho de 1995.Declara a entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar, concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de
1982. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_0…. Acesso em: 24/02/2016;
DERRAIK, J. G. B. The polluition of marine
enviroment by plastic debris: a review. Mar. Pollut. Bull, v. n. 9, p. 842-852.2002.
Disponível em: http://www.sciencedirect.com/scienc…. Acesso: 24/02/2016;
FALCÃO, P, M. Panorama da
poluição costeira por pellets de plástico em praias de SP (Brasil): uma contribuição
aos estudos de geografia do litoral. 2015. Tese (Doutorado em Geografia Física)
– Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/dispo…>. Acesso em:
24/02/2016;
Fernandino, G. Análise
Quali-Quantitativa de Poluição por Plástico na Praia de Itaquitanduva-SP,
Brasil. Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, 2012.
Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index…. Acesso em:
24/02/2016;
GREGORINI, R, A. Caracterização
do lixo marinho das praias do Guaraú e Arpoador em Peruíbe-SP. (Graduação em
Gestão Ambiental) – Universidade de São Paulo, 2010. Disponível em: http://pt.slideshare.net/RafaelAugu…. Acesso em:
24/02/2016;
HOEFEL, FG. 1998. Morfodinâmica de praias arenosas – uma revisão bibliográfica.
Editora da Univali, Itajaí,
SC.92;
NY-NJ Harbor Estuary Plastic Collection Report.
NY/NJ Baykeeper, February, 2016. Disponível em: http://nynjbaykeeper.org/wp-content…. Acesso em: 24/02/2016;
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, 10 de dezembro de 1982.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Conve…. Acesso em: 24/02/2016;
PEREIRA, F,C. Microplásticos no
ambiente marinho: mapeamento de fontes e identificação de mecanismos de gestão
para minimização da perda de pellets plásticos. 2014. Dissertação (Mestrado em
Oceanografia Biológica) – Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2014.Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/dispo…>. Acesso em:
24/02/2016;
Neves, R. C et al. Análise
Qualitativa da Distribuição de Lixo na Praia da Barrinha (Vila Velha – ES).
Universidade Federal do Espírito Santo. Departamento de Oceanografia, Espírito
Santo, 2010. Disponível em: http://www.aprh.pt/rgci/pdf/rgci-19…. Acesso em: 24/02/2016;
REVISTA O PLÁSTICO NO PLANETA,
Planeta Sustentável, Brasken, 2015. Disponível em: https://www.braskem.com.br/download…. Acesso em: 24/02/2016;
SIMÕES, B. G, SANTOS, L, J.
Análise Qualitativa dos Detritos Acumulados na Praia do Cuiúba, Guarujá, SP.
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Santa Cecília, 2010.
Disponível em: http://sites.unisanta.br/revistacec…. Acesso em: 24/02/2016;
VEDOLIN, M, C. Estudo da
distribuição de metais em plásticos no litoral de São Paulo: avaliação da
poluição por meio de análise de pellets. 2014. Dissertação (Mestrado em
Oceanografia Química) – Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2014.Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/dispo…>. Acesso em: 24/02/2016;
World Economic Forum, Ellen MacArthur
Foundation and McKinsey & Company, The New Plastics Economy — Rethinking
the future of plastics, 2016. Disponível em: http://www3.weforum.org/docs/WEF_Th…. Acesso em: 24/02/2016
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário