Tecnologia
espacial ajuda na conservação.
Esta foto, de maio deste ano, mostra instrumentos
de alta tecnologia utilizados com o Google Maps pela Lewa Wildlife Conservancy,
no norte do Quênia, onde cerca de mil guardas florestais do Serviço de Vida
Silvestre vigiam a área. Foto: ManipadmaJena/IPS.
Por Manipadma Jena, da IPS –
O que parecia ficção científica se tornou
realidade. O projeto de Cooperação Internacional para a Pesquisa Animal Utilizando
o Espaço (Icarus), cuja fase de testes começará em 2017, desenvolve sensores
alimentados por energia solar, pesando entre um e cinco gramas, que são
acoplados a pássaros cantores, libélulas e escaravelhos.
Nova Délhi, Índia, 20/9/2016 – Todos os anos, em novembro, a
praia indiana de Gahirmatha, no Oceano Índico, se tinge de uma cor
café-acinzentado durante 60 a 80 dias, porque cerca de meio milhão de
tartarugas verdes chegam para desovar e deixam aproximadamente cem ovos cada
uma.
Porém, pouco se sabe da rota migratória dessa espécie em perigo. O
desconhecimento dificulta a possibilidade de tomar medidas para proteger a
minguante população da destruição de seu habitat, do aquecimento global e da
pesca de arrasto.
A crescente pressão exercida pela mudança
climática, pela perda de ecossistemas e pelos crimes contra a fauna e a flora
silvestres, que colocam em risco a biodiversidade em todo o mundo, levou
numerosos cientistas a recorrerem à tecnologia espacial para tentar remediar a
situação.
As libélulas, os escaravelhos e os pássaros
cantores migratórios logo poderão estar conectados a satélites espaciais e
ajudar a prever desastres naturais e a propagação de zoonoses, doenças que os
animais passam aos seres humanos, como as gripes suína e aviária. Os radares
ajudarão a localizar os caçadores ilegais mediante sensores infravermelhos, que
detectarão os movimentos agitados dos elefantes, por exemplo. As câmeras que
orbitam no espaço podem detectar inclusive enfermidades dos cultivos e espécies
invasoras em locais de difícil acesso.
O que parecia ficção científica se tornou
realidade. O projeto de Cooperação Internacional para a Pesquisa Animal
Utilizando o Espaço (Icarus), cuja fase de testes começará em 2017, desenvolve
sensores alimentados por energia solar, pesando entre um e cinco gramas, que
são acoplados a pássaros cantores, libélulas e escaravelhos. Os dados
transmitidos não informarão apenas sobre seus movimentos e sua posição
geográfica, mas darão pistas importantes sobre as funções corporais ou sobre os
sentidos do animal, além de indicadores significativos a respeito de desastres
naturais iminentes.
Até 2020, os sensores do Icarus poderão ser
suficientemente pequenos para serem acoplados a um gafanhoto, e talvez seja
possível utilizar microssensores para controlar o voo do inseto e desviar um
enxame de cultivos valiosos, explicaram pesquisadores do Instituto de
Ornitologia Max Planck, da Alemanha. Os especialistas do Icarus afirmaram que a
vida das baterias é um grande limitador para rastrear animais pequenos, porque
as miniaturas que podem carregar não duram muito.
No entanto, a estação internacional da agência
espacial russa Roscosmos, onde será instalado o equipamento do Icarus, está
mais perto da terra do que os satélites, o que permitirá diminuir a energia
necessária para carregar os dados. E, para economizar mais bateria, somente
quando houver contato visual com a ave em voo é quea estação ativará o
minitransmissor do pássaro, que estará no modo economia de energia, e demorará
poucos segundos para transmitir os dados à estação.
A urgência de recorrer a outros métodos de
patrulhamento para controlar a caça ilegal e o comércio ilegal de fauna e flora
silvestres, se depreende do Informe Mundial de Crimes Contra a Vida Silvestre
deste ano. O documento foi elaborado a partir da plataforma World Wise (World
Wildlife Seizures, ou apreensões de fauna silvestre do mundo), que contém dados
de mais de 164 mil apreensões relacionadas com o crime contra cerca de sete mil
espécies em 120 países, entre 2004 e 2015.
O tráfico de fauna e flora silvestres agora é
reconhecido como uma área especializada dentro do crime organizado, além de ser
uma grande ameaça contra espécies vegetais e animais. O comércio ilegal será o
eixo da 17ª Conferência das Partes da Convenção sobre Comércio Internacional de
Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites), que acontecerá entre os
dias 24 deste mês e 5 de outubro, em Johannesburgo, na África do Sul.
Segundo o informe do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma) de 2016, estima-se que essa atividade movimente
entre US$ 7 bilhões e US$ 23 bilhões por ano. Como os caçadores ilegais
utilizam tecnologia cada vez mais sofisticada, os guardas florestais devem
estar à altura e se equipar. Quando avançam para matar, os elefantes e os
rinocerontes costumam se comportar de forma incomum. Os sensores nos animais
ajudam a detectar esse comportamento e enviam alertas aos responsáveis pela
segurança, dando a eles tempo para reagir.
Outras constelações (dez ou mais) de alta resolução
de satélites-radar, ao contrário dos satélites óticos para observar a Terra,
são suficientemente poderosas para penetrar na densa cobertura florestal, nas
nuvens e na escuridão da noite, que ajudam a camuflar os caçadores ilegais,
afirmam os especialistas.
E os sensores infravermelhos instalados nos drones,
controlados pelo sistema de posicionamento global (GPS), também ajudam a
detectar fogueiras ou corpos quentes escondidos na selva africana, acrescentam.
Já há satélites avançados controlando o desmatamento
ilegal, o avanço do desmatamento e até a umidade do solo. O lançamento de
imagens via satélite hiperespectrais, isto é, imagens detalhadas em centenas de
longitudes de ondas eletromagnéticas, permitem avaliar a dimensão do desastre,
o crescimento de cultivos e das enfermidades, a disponibilidade de água em
áreas de difícil acesso e o derretimento de geleiras, além da biodiversidade em
geral.
Especialistas em desenvolvimento concordam que as
ferramentas espaciais podem ter um papel importante e diverso no cumprimento
dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o de
número 15, sobre “promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, lutar
contra a desertificação, deter e inverter a degradação das terras e frear a
perda da diversidade biológica”.
Os países em desenvolvimento, com grande
diversidade biológica, requerem forjar associações e contar com assistência
técnica gratuita, além de transferência de conhecimentos, recursos adequados e
construção de capacidades em tecnologias vinculadas ao espaço, para poderem
cumprir a Agenda de Desenvolvimento para 2030. Mas o alto custo das soluções
tecnológicas e o acesso aos últimos conhecimentos e avanços científicos são um
grande obstáculo para o Sul Global.
“A comunidade internacional deve criar dispositivos
espaciais de baixo custo para compartilhar com os países em desenvolvimento,
como o transmissor solar (Icarus) que a Alemanha desenvolve”, afirmou Saroj
Koirala, especialista em tecnologia geoespacial do Fundo Mundial para a Natureza
(WWF) do Nepal. “Seria muito valioso podermos dispor deles por US$ 50 ou US$
100”, ressaltou à IPS.
O coordenador das análises espaciais do WWF Índia,
Shashank Srinivasan, enfatizou à IPS que a não ser pelo wildlabs.net, que
permite compartilhar tecnologia relevante para a conservação, não conhece outro
tipo de iniciativa que permita fazer o mesmo em escala nacional, nem regional
ou internacional, nem fundos que o facilitem.
Os especialistas destacam a necessidade de
conscientização entre dirigentes políticos e autoridades sobre a importância
das tecnologias espaciais para gerar políticas e destinar fundos ao setor. Como
a conservação da natureza está muito ligada aos modos de subsistência, as
pessoas devem pressionar seus governos para que destinem recursos às
tecnologias avançadas, destacouKoirala.
Fonte: ENVOLVERDE
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