Geólogos
querem oficializar ‘Idade do Homem’.
Emissão de gases de efeito estufa seria critério
para caracterizar ‘Idade do Homem’. Foto: Larry Lee Photography/Corbis.
Grupo de especialistas vota a favor de encerrar
Período geológico atual, o Holoceno, e iniciar um novo, o Antropoceno;
aquecimento global está entre justificativas para a mudança.
Por Camila Faria, do OC –
Um comitê de especialistas aprovou, num congresso
encerrado neste domingo na África do Sul, uma moção para fazer nada mais, nada
menos do que iniciar um novo Período geológico. Na última segunda-feira (29), o
AWG (Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno, na sigla em inglês) votou no
Congresso Mundial de Geologia pelo encaminhamento do pedido de oficialização do
Antropoceno, após sete anos de pesquisa.
O termo, cunhado pelo Nobel de Química Paul
Crutzen, em 2000, defende que o planeta está em um novo momento geológico, a
“Idade do Homem”. A época sucederia o Holoceno, no qual vivemos desde o fim da
última era glacial, há cerca de 12 mil anos. Para os cientistas que defendem a
mudança para o Antropoceno, a influência humana sobre o planeta teria impactado
permanentemente a Terra a ponto de justificar a adoção de uma nova época
geológica que caracterize sua atividade.
“A humanidade, uma espécie como nunca outra houve,
num curtíssimo espaço de tempo na escala de evolução da Terra, alterou
profundamente os ciclos naturais e deixou uma marca tão notável que está
visível no registro de camadas de rochas e o estará pela eternidade deste
planeta”, afirmou o climatologista Carlos Nobre, único pesquisador brasileiro
do AWG.
Entre as evidências que podem justificar a
definição do Antropoceno estão o aumento da dispersão de substâncias
radioativas no planeta, após os diversos testes com bombas nucleares, e as
mudanças climáticas. “A rápida introdução de gás carbônico na atmosfera nos
últimos 200 anos, especialmente mais rapidamente nas últimas décadas, já
aparece como um sinal, por exemplo, em material depositado no fundo do oceano
ou nas bolhas de ar aprisionadas nas geleiras da Antártida”, explicou Nobre. “O
material biológico depositado no fundo do oceano começou a registrar mudança no
balanço de isótopos estáveis do carbono [elementos cuja distribuição natural
reflete a história dos processos físicos e metabólicos do ambiente] pela
dissolução do CO2. Nas geleiras da Antártida, na parte mais alta e fria do lado
oriental, menos sujeita a derretimento, as bolhas de ar das camadas recentes de
neve mostram os valores mais altos do último 1 milhão de anos”, exemplifica.
Em 2015, o mundo fechou o Acordo de Paris para
definir objetivos e medidas práticas para conter mudanças como as citadas pelo
grupo de cientistas. “Num certo sentido, o acordo sinaliza o reconhecimento
quase que unânime entre os países do mundo que é necessária uma urgente mudança
em nível global para alterar a velocidade com que a humanidade está
interferindo com os ciclos naturais do planeta. O desafio é estabilizar o
sistema climático em curto intervalo de tempo, o que talvez seja o maior
obstáculo que a humanidade coletivamente já enfrentou”, disse Nobre.
Para os cientistas do AWG, o próximo passo rumo à
oficialização da nova época geológica é definir os marcadores e uma data que
será considerada como início da época do homem. Para que o Antropoceno seja de
fato declarado realidade, a recomendação do grupo precisa ser aprovada
oficialmente e ratificada por vários órgãos acadêmicos, o que pode levar alguns
anos.
Fonte: Observatório do Clima
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