Diversidade
faz Amazônia resistir ao clima.
Floresta intacta no norte de Mato Grosso, região de
intensa pressão madeireira e de caça. Foto: Claudio Angelo/OC.
Por Camila Faria, do OC –
Floresta com tipos diferentes de planta se recupera
melhor após ser submetida a aquecimento moderado, conclui pesquisa, que amplia
entendimento da importância da biodiversidade.
Um grupo internacional de cientistas pôde, pela
primeira vez, demonstrar em larga escala que florestas com maior diversidade de
características e funcionalidades de plantas têm também maior potencial de
adaptação a mudanças no clima, utilizando a Amazônia como estudo de caso. O
estudo, publicado no periódico Nature Climate Change nesta segunda-feira (29),
reforça a importância da preservação da biodiversidade como instrumento de
políticas públicas contra o agravamento da crise climática.
“É nítido que a biodiversidade não é um benefício
adicional, e sim um aspecto fundamental para a sobrevivência a longo prazo das
grandes reservas de biomassa da Terra, como a floresta amazônica”, afirmou
Boris Sakschewski, do Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos de Potsdam,
que liderou o trabalho. “A diversidade vegetal pode permitir que o maior
ecossistema tropical do mundo se ajuste a certo nível de mudança climática –
árvores que hoje são espécies dominantes, por exemplo, poderiam dar lugar a
outras que seriam mais adaptadas às novas condições.”
Para estudar como a diversidade funcional de
plantas contribui para a resiliência de florestas tropicais, o grupo primeiro
investigou uma pequena área de floresta no Equador, com base em sua resposta,
realizou simulações em computador para toda a bacia amazônica. “É um modelo
bastante interessante e que traz a mensagem de que, além da diversidade de
espécies numa floresta, devemos olhar para a diversidade de características e
funcionalidades das plantas para a manutenção do serviço cumprido por elas”,
afirma o ecólogo Daniel Piotto, da Universidade Federal do Sul da Bahia.
O modelo biogeoquímico desenvolvido, que simula
ambientes florestais diversos, mostrou que essa diversidade pode permitir que a
floresta se ajuste a novas condições climáticas e mantenha seu potencial de
sumidouro de carbono: enquanto árvores acima de 30 m, atuais maiores
contribuintes para a biomassa do ambiente, seriam reduzidas no médio prazo, a
vegetação do sub-bosque, de tamanho médio e árvores mais jovens, teria
oportunidade de receber mais luz e se regenerar para as novas condições. No
modelo, essa mudança melhorou o equilíbrio de carbono e a taxa de sobrevivência
das árvores, o que causou recuperação de biomassa e estrutura para as espécies.
A notícia, porém, não representa um alívio de
preocupações: enquanto, num cenário de cumprimento das metas do Acordo de Paris
e emissões moderadas, a taxa de recuperação seria em torno de 84% após alguns
séculos, o dano causado por emissões em massa, sem respeito ao acordo ou
aumento de ambição das propostas sobre a mesa, permitiria que apenas 13%. da
área se recuperasse pelas mesmas condições.
O novo estudo é mais um de uma série de trabalhos
recentes mostrando relações importantes entre biodiversidade florestal e clima.
Desde o ano passado, por exemplo, pesquisas chefiadas pelo ecólogo paraense
Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), e pelo biólogo
Mauro Galetti, da Unesp de Rio Claro, têm mostrado, entre outras coisas, que a
caça de mamíferos como queixadas e antas ajuda a reduzir a dispersão de árvores
grandes, diminuindo a fixação de carbono pelas matas na Amazônia.
Fonte: Observatório do Clima
Nenhum comentário:
Postar um comentário