Primatas
na lista de espécies em perigo.
Quatro das seis espécies de grandes símios estão na
categoria “em perigo crítico de extinção” da Lista Vermelha de Espécies
Ameaçadas. Foto: Cortesia da União Internacional para a Conservação da Natureza
(UICN).
O gorila-do-oriente, o maior primata na selva de
Ruanda, Uganda e República Democrática do Congo, passou da categoria “em perigo
de extinção” para a “em perigo crítico de extinção”, ficando a um passo do
desaparecimento.
Por Guy Dinmore, da IPS –
Honolulu, Estados Unidos, 6/9/2016 – Nosso parente
mais próximo no mundo animal, o gorila oriental, está em perigo de extinção
devido à caça ilegal, alertou a União Internacional para a Conservação da
Natureza (UICN), ao divulgar sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, durante
o Congresso Mundial da Natureza, que começou no dia 1º e termina no dia 10,
reunindo cerca de 9.500 participantes de 192 países.
O dia 4, quando foi apresentado o documento que
detalha o estado de conservação das espécies, foi “um dia triste, porque a
Lista Vermelha mostra que acabamos com nosso parente mais próximo”, disse Inger
Andersen, diretora-geral da UICN, em entrevista coletiva em Honolulu, no Estado
norte-americano do Havaí, onde acontece o Congresso.
O gorila-do-oriente (Gorillaberingei), o
maior primata na selva de Ruanda, Uganda e República Democrática do Congo,
passou da categoria “em perigo de extinção” para a “em perigo crítico de extinção”,
ficando a um passo do desaparecimento. Esse animal, que se divide em duas
subespécies, registrou,em dois anos,uma drástica redução, de mais de 70%, no
número de exemplares e estima-se que restem menos de cinco mil gorilas, devido,
principalmente, à ameaça que representa a caça ilegal, informou a UICN.
Quatro das seis grandes espécies de primatas
figuram na categoria “em perigo crítico”. As outras duas são o chimpanzé-comum
(Pan troglodytes) e bonobo (Pan paniscus), uma variedade de
chimpanzé pigmeu, ambas em “perigo de extinção”.A Lista Vermelha da UICN,
atualizada a cada dois anos, contempla 82.954 espécies, das quais 23.928 estão
em risco de extinção. O objetivo da organização é elevar a cobertura para 160
mil espécies até 2020.
A lista é considerada um “barômetro da vida” e é a
fonte mais completa de informação sobre o estado de espécies vegetais, animais
e de fungos em todo o mundo.Além disso, desempenha um grande papel sobre
governos e sociedade civil em matéria de políticas e definição de objetivos
para a conservação. “Perdemos espécies a um ritmo jamais visto”, advertiu
Andersen. As últimas conclusões obrigam governos, cientistas e a sociedade em
geral a reverter essa tendência, apontou.
A última atualização revelou alguns avanços,
especialmente na China, graças aos esforços das autoridades para frear a caça
ilegal e a degradação de habitats. Por exemplo, o panda-gigante (Ailuropodamelanoleuca),
talvez o animal mais icônico da conservação e logotipo do Fundo Mundial para a
Natureza (WWF), passou da categoria “em perigo” para a “vulnerável”.O
antílope-tibetano (Pantholopshodgsonii), cuja pele é muito cobiçada no
luxuoso mercado internacional, foi classificado como espécie “quase ameaçada”,
em lugar de “em perigo”.
A UICN destacou que a população de pandas gigantes
aumentou graças às efetivas medidas de proteção e reflorestamento da floresta e
à bem-sucedida vinculação de grupos de animais que antes estavam separados.
Além disso, conseguiu-se reduzir a caça ilegal.Mas a organização alertou que há
modelos científicos que prognosticam que a mudança climática poderia dizimar
mais de 35% das plantações de bambu nos próximos 80 anos, o que reverteria os
êxitos obtidos nas últimas duas décadas.
“O plano do governo chinês para ampliar a política
de conservação das espécies existente é uma medida positiva e requer forte
apoio para garantir sua efetiva implantação”, destacou a UICN. Os países mais
ricos e com mais recursos têm melhores políticas de proteção, e foi notório que
o povo e o governo da China obtiveram êxitos, pontuou Simon Stuart, presidente
da comissão para a sobrevivência das espécies da UICN.
Joseph Walston, da Sociedade para a Conservação da
Vida Silvestre, que leva adiante iniciativas para proteger o antílope-tibetano,
afirmou que a população dessa espécie, que caiu de um milhão de exemplares para
cerca de 70 mil nas décadas de 1980 e 1990, foi ameaçada pela demanda de seus
produtos em luxuosos mercados fora da China. Esse país “fez algo a respeito. É
um antecedente importante”, ressaltou.
Walston tem esperança de que Pequim desempenhe um
papel positivo em iniciativas que procuram salvar espécies de outros países,
que estavam em risco por sua própria demanda interna. Um exemplo é o pangolim(Manistemmincki),
um mamíferoquase completamente coberto de grandes escamas,que se alimenta de
formigase cuja carne é muito apreciada, bem como suas escamas por seus
benefícios medicinais.
“Nesse momento, a China é um consumidor de animais
silvestres de todo o mundo. Mas todos fizemos isso”, pontuouWalston, se
referindo a como Grã-Bretanha e Estados Unidos foram grandes depredadores na
época da industrialização.Em seguida, o surgimento da classe média e de uma
consciência sobre a importância da natureza e do ambiente tiveram um impacto
fundamental no Ocidente. “Esse processo está em seu início na China, e é muito
lento”, afirmou.
Carlo Rondinini, biólogo da Universidade La
Sapienza, de Roma, que trabalha para a Lista Vermelha da UICN, alertou que
ainda se registra uma tendência decrescente na conservação dos mamíferos.
“Somos a única espécie de grandes símios que não está em risco de extinção”,
acrescentou.
A última atualização da lista mostra que a
população da outrora abundante zebra-de-planície (Equusquagga), caçada
por sua carne e sua pele, diminuiu em um quarto nos últimos 14 anos, até os
atuais 500 mil exemplares. A UICN a passou da categoria “preocupação menor”
para “quase ameaçada”. Além disso, outras três espécies de antílopes da África
foram colocados na categoria “quase ameaçada”. Mas outro importante êxito
alcançado no mundo animal é o do rato-arquiteto (Leporillusconditor), da
Austrália, um roedor que constrói ninhos, cuja resina é tão forte que pode
durar até mil anos se não entrar em contato com a água.
O sucesso do plano de recuperação de espécies, que
implicou sua reintrodução e alguns deslocamentos para áreas livres de
depredadores, permitiu que algumas espécies passassem de “vulneráveis” para
“quase ameaçada”.
O canguru-de-cauda-pontiaguda (Onychogaleafraenata)
também melhorou sua situação, ao passar da categoria “em perigo” para
“vulnerável”, graças a um programa de sucesso, embora caro, de conservação e
translocação. Especialistas da UICN disseram que esse tipo de programa implica
um esforço enorme e uma quantidade importante de fundos, o que realça a
necessidade de destinar mais recursos à conservação.
O Havaí, sede este ano do Congresso Mundial da
Natureza, que acontece a cada quatro anos, sofre uma rápida perda de
biodiversidade, especialmente em matéria de plantas, devido à introdução de
espécies exóticas. A atualização da Lista Vermelha mostra que foram extintas 38
espécies de plantas endêmicas no Havaí, com outras quatro consideradas
“extintas em estado silvestre”, isto é, só existem graças ao seu cultivo.
Fonte: ENVOLVERDE
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