quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Primatas na lista de espécies em perigo.
Quatro das seis espécies de grandes símios estão na categoria “em perigo crítico de extinção” da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Foto: Cortesia da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

O gorila-do-oriente, o maior primata na selva de Ruanda, Uganda e República Democrática do Congo, passou da categoria “em perigo de extinção” para a “em perigo crítico de extinção”, ficando a um passo do desaparecimento.

Por Guy Dinmore, da IPS – 

Honolulu, Estados Unidos, 6/9/2016 – Nosso parente mais próximo no mundo animal, o gorila oriental, está em perigo de extinção devido à caça ilegal, alertou a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), ao divulgar sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, durante o Congresso Mundial da Natureza, que começou no dia 1º e termina no dia 10, reunindo cerca de 9.500 participantes de 192 países.

O dia 4, quando foi apresentado o documento que detalha o estado de conservação das espécies, foi “um dia triste, porque a Lista Vermelha mostra que acabamos com nosso parente mais próximo”, disse Inger Andersen, diretora-geral da UICN, em entrevista coletiva em Honolulu, no Estado norte-americano do Havaí, onde acontece o Congresso.

O gorila-do-oriente (Gorillaberingei), o maior primata na selva de Ruanda, Uganda e República Democrática do Congo, passou da categoria “em perigo de extinção” para a “em perigo crítico de extinção”, ficando a um passo do desaparecimento. Esse animal, que se divide em duas subespécies, registrou,em dois anos,uma drástica redução, de mais de 70%, no número de exemplares e estima-se que restem menos de cinco mil gorilas, devido, principalmente, à ameaça que representa a caça ilegal, informou a UICN.

Quatro das seis grandes espécies de primatas figuram na categoria “em perigo crítico”. As outras duas são o chimpanzé-comum (Pan troglodytes) e bonobo (Pan paniscus), uma variedade de chimpanzé pigmeu, ambas em “perigo de extinção”.A Lista Vermelha da UICN, atualizada a cada dois anos, contempla 82.954 espécies, das quais 23.928 estão em risco de extinção. O objetivo da organização é elevar a cobertura para 160 mil espécies até 2020.

A lista é considerada um “barômetro da vida” e é a fonte mais completa de informação sobre o estado de espécies vegetais, animais e de fungos em todo o mundo.Além disso, desempenha um grande papel sobre governos e sociedade civil em matéria de políticas e definição de objetivos para a conservação. “Perdemos espécies a um ritmo jamais visto”, advertiu Andersen. As últimas conclusões obrigam governos, cientistas e a sociedade em geral a reverter essa tendência, apontou.

A última atualização revelou alguns avanços, especialmente na China, graças aos esforços das autoridades para frear a caça ilegal e a degradação de habitats. Por exemplo, o panda-gigante (Ailuropodamelanoleuca), talvez o animal mais icônico da conservação e logotipo do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), passou da categoria “em perigo” para a “vulnerável”.O antílope-tibetano (Pantholopshodgsonii), cuja pele é muito cobiçada no luxuoso mercado internacional, foi classificado como espécie “quase ameaçada”, em lugar de “em perigo”.

A UICN destacou que a população de pandas gigantes aumentou graças às efetivas medidas de proteção e reflorestamento da floresta e à bem-sucedida vinculação de grupos de animais que antes estavam separados. Além disso, conseguiu-se reduzir a caça ilegal.Mas a organização alertou que há modelos científicos que prognosticam que a mudança climática poderia dizimar mais de 35% das plantações de bambu nos próximos 80 anos, o que reverteria os êxitos obtidos nas últimas duas décadas.

“O plano do governo chinês para ampliar a política de conservação das espécies existente é uma medida positiva e requer forte apoio para garantir sua efetiva implantação”, destacou a UICN. Os países mais ricos e com mais recursos têm melhores políticas de proteção, e foi notório que o povo e o governo da China obtiveram êxitos, pontuou Simon Stuart, presidente da comissão para a sobrevivência das espécies da UICN.

Joseph Walston, da Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre, que leva adiante iniciativas para proteger o antílope-tibetano, afirmou que a população dessa espécie, que caiu de um milhão de exemplares para cerca de 70 mil nas décadas de 1980 e 1990, foi ameaçada pela demanda de seus produtos em luxuosos mercados fora da China. Esse país “fez algo a respeito. É um antecedente importante”, ressaltou.

Walston tem esperança de que Pequim desempenhe um papel positivo em iniciativas que procuram salvar espécies de outros países, que estavam em risco por sua própria demanda interna. Um exemplo é o pangolim(Manistemmincki), um mamíferoquase completamente coberto de grandes escamas,que se alimenta de formigase cuja carne é muito apreciada, bem como suas escamas por seus benefícios medicinais.

“Nesse momento, a China é um consumidor de animais silvestres de todo o mundo. Mas todos fizemos isso”, pontuouWalston, se referindo a como Grã-Bretanha e Estados Unidos foram grandes depredadores na época da industrialização.Em seguida, o surgimento da classe média e de uma consciência sobre a importância da natureza e do ambiente tiveram um impacto fundamental no Ocidente. “Esse processo está em seu início na China, e é muito lento”, afirmou.

Carlo Rondinini, biólogo da Universidade La Sapienza, de Roma, que trabalha para a Lista Vermelha da UICN, alertou que ainda se registra uma tendência decrescente na conservação dos mamíferos. “Somos a única espécie de grandes símios que não está em risco de extinção”, acrescentou.

A última atualização da lista mostra que a população da outrora abundante zebra-de-planície (Equusquagga), caçada por sua carne e sua pele, diminuiu em um quarto nos últimos 14 anos, até os atuais 500 mil exemplares. A UICN a passou da categoria “preocupação menor” para “quase ameaçada”. Além disso, outras três espécies de antílopes da África foram colocados na categoria “quase ameaçada”. Mas outro importante êxito alcançado no mundo animal é o do rato-arquiteto (Leporillusconditor), da Austrália, um roedor que constrói ninhos, cuja resina é tão forte que pode durar até mil anos se não entrar em contato com a água.

O sucesso do plano de recuperação de espécies, que implicou sua reintrodução e alguns deslocamentos para áreas livres de depredadores, permitiu que algumas espécies passassem de “vulneráveis” para “quase ameaçada”.

O canguru-de-cauda-pontiaguda (Onychogaleafraenata) também melhorou sua situação, ao passar da categoria “em perigo” para “vulnerável”, graças a um programa de sucesso, embora caro, de conservação e translocação. Especialistas da UICN disseram que esse tipo de programa implica um esforço enorme e uma quantidade importante de fundos, o que realça a necessidade de destinar mais recursos à conservação.

O Havaí, sede este ano do Congresso Mundial da Natureza, que acontece a cada quatro anos, sofre uma rápida perda de biodiversidade, especialmente em matéria de plantas, devido à introdução de espécies exóticas. A atualização da Lista Vermelha mostra que foram extintas 38 espécies de plantas endêmicas no Havaí, com outras quatro consideradas “extintas em estado silvestre”, isto é, só existem graças ao seu cultivo.


Fonte: ENVOLVERDE

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