segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Animais silvestres surgem na área urbana de São José dos Campos.
Anu-Branco. Foto: Rosi Masieiro

Por Júlio Ottoboni*

Um grande número de pássaros de várias espécies está surgindo nos últimos anos na cidade de São José dos Campos. São desde maritacas, tucanos, sabiás até gaviões. Eles são vistos em diversos pontos e atrai a atenção dos mais atentos. Diversos deles são fotografados e muitas imagens acabam em redes sociais e comemoradas como uma recuperação da natureza.

Entretanto, o que poderia ser comemorado como uma boa noticia para o meio ambiente, esconde uma dura realidade. Esses animais silvestres estão sendo expulsos dos residuais da Mata Atlântica e tendo apenas como opção de moradia árvores e construções dentro da malha urbana.

O biólogo e proprietário da empresa de consultoria e serviços ambientais, Esfera Ambiental, Marcelo Godoy, que há mais de 30 anos atua no trabalho de resgate e reintegração de animais silvestres em todo Estado de São Paulo faz o alerta. Esse fenômeno é típico de áreas que estão expulsos de remanescentes de mata e buscam abrigo e alimentação nas cidades.
Maritaca. Foto: Rosi Masieiro

“Existe um avanço das cidades sobre os fragmentos de mata, que estão sendo destruídos numa velocidade impressionante. Com isso se perde o habitat natural e algumas espécies vão para onde tem alimento, embora o risco também seja muito maior, que são as áreas povoadas pelo homem”, comentou Godoy.

Mesmo com as ações de recuperação de áreas degradadas que ocorrem no Vale do Paraíba, a migração de animais silvestres ainda persiste e tende a aumentar. O déficit na alimentação oriundo das grandes áreas desmatadas, que também atinge as nascentes e cursos de água, diminuem sensivelmente a oferta e a variedade de alimento dos animais, principalmente das aves, que tentem a buscar outros lugares com maior oferta de comida, como pomares, quintais e pequenas capoeiras situadas em loteamentos.

“Os animais silvestres não se colocariam em risco se aproximando do homem se não fosse por extrema necessidade. Geralmente isso acontece com espécies que são mais adaptáveis, fora de lista de extinção, e também comuns dentro de um ecossistema mais complexo como o da Mata Atlântica”, observou o biólogo.
Tucano. Foto: Rosi Masieiro

Atualmente nas áreas rurais tanto de São José dos Campos como de cidades vizinhas, há uma maior conscientização da importância de se manter parte da mata nativa intacta e de preservar seus habitantes. Há diversas entidades ambientais que atuam para diminuir o número de caças e aprisionamento de espécies silvestres. A polícia ambiental tem autuado diversas pessoas por aprisionar e matar animais da Mata Atlântica.

O quadro de desequilíbrio ambiental com a ação do homem tem sido alvo de inúmeros estudos científicos que mostram que a destruição de uma floresta provoca não só a perda de um sistema único, como cria um trauma – muitas vezes insuperável- para todo o complexo que rege aquele ecossistema.

* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais  e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente.  É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.


Fonte: ENVOLVERDE

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