Animais
silvestres surgem na área urbana de São José dos Campos.
Anu-Branco. Foto: Rosi Masieiro
Por Júlio Ottoboni*
Um grande número de pássaros de várias espécies
está surgindo nos últimos anos na cidade de São José dos Campos. São desde
maritacas, tucanos, sabiás até gaviões. Eles são vistos em diversos pontos e
atrai a atenção dos mais atentos. Diversos deles são fotografados e muitas imagens
acabam em redes sociais e comemoradas como uma recuperação da natureza.
Entretanto, o que poderia ser comemorado como uma
boa noticia para o meio ambiente, esconde uma dura realidade. Esses animais
silvestres estão sendo expulsos dos residuais da Mata Atlântica e tendo apenas
como opção de moradia árvores e construções dentro da malha urbana.
O biólogo e proprietário da empresa de consultoria
e serviços ambientais, Esfera Ambiental, Marcelo Godoy, que há mais de 30 anos
atua no trabalho de resgate e reintegração de animais silvestres em todo Estado
de São Paulo faz o alerta. Esse fenômeno é típico de áreas que estão expulsos
de remanescentes de mata e buscam abrigo e alimentação nas cidades.
Maritaca. Foto: Rosi Masieiro
“Existe um avanço das cidades sobre os fragmentos
de mata, que estão sendo destruídos numa velocidade impressionante. Com isso se
perde o habitat natural e algumas espécies vão para onde tem alimento, embora o
risco também seja muito maior, que são as áreas povoadas pelo homem”, comentou
Godoy.
Mesmo com as ações de recuperação de áreas
degradadas que ocorrem no Vale do Paraíba, a migração de animais silvestres
ainda persiste e tende a aumentar. O déficit na alimentação oriundo das grandes
áreas desmatadas, que também atinge as nascentes e cursos de água, diminuem
sensivelmente a oferta e a variedade de alimento dos animais, principalmente
das aves, que tentem a buscar outros lugares com maior oferta de comida, como
pomares, quintais e pequenas capoeiras situadas em loteamentos.
“Os animais silvestres não se colocariam em risco
se aproximando do homem se não fosse por extrema necessidade. Geralmente isso
acontece com espécies que são mais adaptáveis, fora de lista de extinção, e
também comuns dentro de um ecossistema mais complexo como o da Mata Atlântica”,
observou o biólogo.
Tucano. Foto: Rosi Masieiro
Atualmente nas áreas rurais tanto de São José dos
Campos como de cidades vizinhas, há uma maior conscientização da importância de
se manter parte da mata nativa intacta e de preservar seus habitantes. Há diversas
entidades ambientais que atuam para diminuir o número de caças e aprisionamento
de espécies silvestres. A polícia ambiental tem autuado diversas pessoas por
aprisionar e matar animais da Mata Atlântica.
O quadro de desequilíbrio ambiental com a ação do
homem tem sido alvo de inúmeros estudos científicos que mostram que a
destruição de uma floresta provoca não só a perda de um sistema único, como
cria um trauma – muitas vezes insuperável- para todo o complexo que rege aquele
ecossistema.
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem
31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo
científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira,
tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA.
Escreve para publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente
terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de
entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor
universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente.
É colaborador
Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.
Fonte: ENVOLVERDE
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