As
queimadas roubam a cena.
Nuvem de fumaça proveniente de queimada cobre
fazendas e floresta em Paranaíta, Mato Grosso, próximo à divisa com o Pará.
Foto: ogerio Assis/Greenpeace.
No mês em que é comemorado o Dia da Amazônia, a
floresta queima e sofre com o avanço do desmatamento e da degradação florestal.
Por Redação do Greenpeace Brasil –
O dia 5 de setembro, data em que o estado do
Amazonas foi elevado à Província por Dom Pedro II, é usado nacionalmente para
celebrar a importância da floresta Amazônica. Mas é também em setembro que a
temporada de queimadas florestais atinge seus níveis mais extremos: é o auge do
verão na floresta, época de colocar a Amazônia abaixo e dançar em volta da
fogueira.
A Amazônia, que tem 63% de sua extensão no
território brasileiro, presta importantes serviços ambientais para toda a
sociedade sem cobrar nada por isso. Ela é fundamental no equilíbrio do clima, a
medida que absorve gases do efeito estufa, além de ter participação nos ciclos
das águas e abrigar uma biodiversidade incrível.
Infelizmente essas capacidades da floresta estão
comprometidas por processos que se repetem ano a ano, começando com a
degradação, passando pelas queimadas e terminando no desmatamento total de
florestas milenares.
Setembro costuma ser um período que a queima da
floresta chama a atenção. É época de verão amazônico, quando as chuvas são
menos frequentes, e desmatadores encontram o ambiente perfeito para queimar a
floresta e dar lugar à expansão de áreas de pasto e agricultura, muitas vezes
ocupando terras públicas de forma indevida. No final de agosto o Greenpeace
sobrevoou diversas regiões ao sul do bioma Amazônia e registrou esse processo,
em variados graus de andamento.
A degradação destrói silenciosamente a floresta e é
um problema crescente no Brasil. É o geralmente o primeiro estágio do processo
que leva ao desmatamento total de uma área – chamado de corte raso. A
degradação é provocada por uma intervenção desequilibrada na floresta, seja por
exploração ilegal de madeira a abertura de estradas ou fogo. No caso da madeira ilegal, vetor bastante comum entre os
primeiros estágios do desmatamento, as espécies de maior valor comercial são
retiradas, o que deixa a floresta fora de seu equilíbrio
Quando a floresta está degradada, ela fica mais
suscetível à queima. Um estudo publicado pela Ecological Society of America
realizou testes em áreas controladas no leste e sul da Amazônia entre 1983 e
2007 e aponta que 44% das florestas degradadas sofreram com queimadas, contra
15% das florestas intactas, muito mais densas e resistentes ao fogo.
De acordo com dados do Sistemade Detecção do
Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (DETER), medido pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área de alertas de degradação na
Amazônia subiu 12% no último período (agosto de 2015 à julho de 2016). A área
degradada de maio a julho de 2016 foi de 884 km², o equivalente a 123 mil
campos de futebol. Agora imagine se estas florestas, que estão sendo degradadas
agora, forem queimadas no próximo ano.
Infelizmente, o desmatamento e fogo
andam de mãos dadas na Amazônia.
Na figura acima é possível constatar a relação do
ciclo: degradação – queimadas e desmatamento.
No município de Lábrea (AM), uma das localidades
sobrevoadas pelo Greenpeace, houve aumento no número de alertas de desmatamento
e degradação. Este ano, as queimadas tomam a região.
Dos dez municípios com maior área de alertas de
desmatamento e degradação no período de agosto de 2015 à abril de 2016, sete
também estão entre os municípios com maior número de queimadas no período de
junho à agosto de 2016. Um forte indicativo de que muita floresta foi
previamente degradada e agora sofre com a ação do fogo para completar o
processo do desmatamento.
Mato Grosso defumado
O Mato Grosso é um exemplo da destruição na
Amazônia. Na última taxa de desmatamento, o MT foi o 2º estado que mais
desmatou a Amazônia,registrando aumento de 42% no desmatamento em relação ao
ano anterior. O Greenpeace sobrevoou o norte do estado, onde florestas estavam
queimando para dar lugar à pastagens, e avistamos estradas e pátios de madeira.
O estado é o segundo maior produtor de madeira nativa no Brasil, atividade que
na Amazônia acontece majoritariamente de maneira ilegal.
Dos dez municípios com mais desmatamento, sete
registraram mais queimadas. Foto: greenpeace.
As queimadas foram oficialmente proibidas no Mato
Grosso em 15 de julho deste ano, mas isso não inibiu os desmatadores. Desde
então, as queimadas só aumentam, somente no período da proibição, já foram
identificados mais de 8 mil focos.
“Não existe respeito à restrição colocada, pois o
estado vem dando indícios de tolerância com o desmatamento. No mês passado a
Assembleia Legislativa do Mato Grosso liberou o uso do correntão, sem falar nas
licenças provisórias de funcionamento de atividade rural, que estariam sendo
utilizadas para retirar embargos de áreas previamente autuadas pelo IBAMA
devido a crimes ambientais. ”, explica Cristiane Mazzetti, da campanha Amazônia
do Greenpeace. “É quase um convite à destruição”, comenta Mazzetti.
Queimadas na Amazônia
Neste dia da Amazônia, é importante refletir sobre
o papel da floresta para a sociedade. Mais de 160 anos se passaram desde que a
Província do Amazonas foi criada, mas o Brasil parece encarar a floresta da
mesma maneira que a Coroa: como uma região a ser explorada a qualquer custo.
Hoje sabemos que ela vale muito mais em pé do pilhada e queimada.
São outros tempos e o que sabemos hoje não pode
continuar a ser ignorado. É necessário colocar fim ao desmatamento, a
degradação florestal e as queimadas. Ou mudamos o rumo para proteger a
Amazônia, e garantir que serviços essenciais à toda a sociedade continuem sendo
gerados, ou assistiremos à nossa destruição.
Junte-se ao movimento pelo Dematamento Zero, saiba
como se mobilizar pelo fim do desmatamento nas florestas Brasileiras.
Fonte: Greenpeace Brasil
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