Meta
difícil: não deixar ninguém atrás.
Os governantes que participaram da Assembleia Geral
da ONU em Nova York, este mês, se encontraram com uma lembrança dos direitos
das pessoas LGBT. Foto: Manuel Elias/ONU.
Um ano depois de aprovados os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), com data-limite para 2030, os países membros
da Organização das Nações Unidas (ONU) reiteraram seu compromisso de não deixar
ninguém para trás, uma meta que parece cada vez mais idealista e pouco
factível.
Por Lyndal Rowlands, da IPS –
Nações Unidas, 28/9/2016 – Até o momento, este ano
tem sido o mais difícil no caminho para conseguir incluir as pessoas mais
vulneráveis e marginalizadas nos esforços de desenvolvimento.
Por exemplo, na terceira semana deste mês, a
reunião de alto nível sobre refugiados e migrantes não pôde garantir o
bem-estar de crianças refugiadas.Além disso, ativistas pelos direitos de
lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) ficaram fora de uma importante
reunião sobre HIV/aids realizada em junho, mesmo mês em que nenhuma mulher foi
votada para integrar um importante comitê da ONU para pessoas com necessidades
especiais.
Nesse sentido,, o secretário-geral da organização
Civicus, Danny Sriskandarajah, apontou à IPS que, para conseguir a meta de não
deixar nenhuma pessoa para trás, é preciso que os governos considerem a
realização de grandes mudanças em matéria política e de normas sociais. “Levar
a sério encontrar e ajudar os que estão mais atrasados não é um exercício
técnico, mas um exercício profundamente político”, acrescentou.
Para Sriskandarajah, o primeiro passo é garantirmos
a identificação e inclusão dos que correm maior risco de ficar para trás. “Se,
no acordo, nossos governantes dizem 42 vezes que não deixarão ninguém para
trás, precisamos nos apressar e encontrar os atrasados”, ressaltou.
Mas nem sempre é fácil chegar até às pessoas
marginalizadas e excluídas, alertou à IPS o diretor executivo da Aliança
Internacional para Deficientes, Vladimir Cuk. “Verdadeiramente para todos
significa que se deve chegar às pessoas que são mais difíceis de serem
alcançadas, mais difíceis de serem contadas, mais difíceis de serem incluídas
nos programas e das quais é mais difícil se saber algo; e essas são as pessoas
com necessidades especiais”, afirmou.
Cuk afirmou que houve alguns esforços para incluí-las
na Agenda de Desenvolvimento Sustentável para 2030, uma mudança muito aplaudida
com relação aos anteriores Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que
não contemplavam as pessoas deficientes. Chegar até esse setor social
particular é mais difícil porque se concentram especialmente entre os que vivem
na extrema pobreza, acrescentou.
E essa é outra das razões pelas quais será difícil
ninguém ficar para trás. As diferentes desvantagens e tipos de exclusões
costumam sobrepor-se umas às outras. Por exemplo, é o caso dos povos indígenas,
que costumam ser “minorias dentro das minorias”, afirmou à IPS Marama Pala,
diretora executiva da Fundação INA (Maorí, indígenas e Pacífico Sul) para o
HIV/Aids.
“Enquanto os países não atenderem as desigualdades
e injustiças que sofrem os povos indígenas, será impossível conseguir os ODS”,
opinou Pala, também representante da sociedade civil em reuniões da ONU. Além
disso, as comunidades indígenas correm outro risco: a perda de seus
territórios, seja por apropriação de terras para o plantio de palma, ou outros
cultivos, até para projetos de infraestrutura, e com fundos de organismos
multilaterais de crédito.
O fato é que a “enorme demanda por alimentos,
combustíveis e outros produtos básicos segue empurrando a indústria para novos
territórios”, disse à IPS Alice Harrison, assessora em comunicações da
organização Global Witness. “As comunidades estão situadas cada vez mais na
linha de fogo, porque adotam uma postura contra o roubo e a destruição de suas
terras e de seus recursos naturais”, destacou.
Algumas formas de desigualdades geraram muitos
enfrentamentos políticos a respeito de sua inclusão no documento final da
Agenda 2030, que deveria ter a aprovação dos 193 membros da ONU. A versão final
do texto se refere aos direitos “sem distinção de nenhum tipo, como raça, cor,
sexo, idioma, religião, opinião política, origem nacional ou social,
propriedade, lugar de nascimento, deficiência ou outro status”.
As referências à orientação sexual e à situação
migratória tiveram que ser retiradas dos primeiros rascunhos para que se
pudesse chegar a um consenso geral. Para lutar contra as desigualdades que
deixam muitos setores sociais marginalizados e atrasados, são necessárias mudanças
políticas, sociais e econômicas em escalas nacional e multinacional.
“Uma vez que se comprometam com algo como não
deixar ninguém para trás, se destapa um monte de exclusões econômicas e sociais
derivadas da cobiça empresarial, da corrupção política e da exclusão social,
que requerem mudanças significativas tanto em matéria de normas políticas como
sociais, se queremos fazer seu acompanhamento”, explicou Sriskandarajah.
Os ODS também contemplam as desigualdades entre os
países. Mas alguns dos esforços para combatê-las, como um organismo para a
cooperação, também estão paralisados.
Fonte: ENVOLVERDE
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