China e
EUA ratificam Acordo de Paris.
Siderúrgicas em Benxi, China: velha economia está ficando para trás. Foto:
Andreas Habich.
Por Claudio Angelo, do OC –
Adesão conjunta dos dois maiores poluidores do
planeta põe tratado do clima mais perto de entrar em vigor ainda neste ano;
Brasil perde oportunidade de protagonismo político.
China e Estados Unidos, os dois maiores emissores
de gases de efeito estufa do planeta, anunciaram na noite desta sexta-feira a
ratificação do Acordo de Paris.
O anúncio, como vinha sendo antecipado, ocorreu
antes da reunião do G20, que começa neste domingo na cidade chinesa de
Huangzhou.
Com a adesão da China, maior emissor absoluto
(responsável por 20% do CO2 do planeta) e dos Estados Unidos, maior poluidor
histórico (responsável hoje por 17% das emissões), o novo acordo do clima
avança significativamente em sua implementação.
“A história julgará o esforço de hoje como um ponto
de virada”, disse o presidente dos EUA, Barack Obama, ao chegar a Huangzhou na
manhã de sábado (noite de sexta em Brasília) e anunciar a ratificação. O
Congresso do Povo da China havia feito o anúncio na mesma manhã, segundo
informou a rede BBC. Segundo os chineses,
A secretária-executiva da Convenção do Clima da
ONU, Patricia Espinosa, comemorou a adesão. Ela soltou um comunicado
agradecendo aos dois países. “Quando mais cedo Paris for ratificado e
implementado, mais seguro o futuro se tornará”, declarou.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também
elogiou a decisão, dizendo que Obama e o presidente da China, Xi Jinping, foram
“visionários, corajosos e ambiciosos”.
A adesão conjunta sino-americana eleva para 26 o
número de países que já ratificaram o acordo do clima. Juntos, eles respondem
por 39,06% das emissões globais de carbono.
Para entrar em vigor, o Acordo de Paris precisa de
55 ratificações, que somem 55% das emissões mundiais. Há expectativa de que o
número de ratificações de outros médios e grandes poluidores, a serem
anunciadas ao longo deste mês, possa cumprir ambos os critérios, o que faria o
pacto climático entrar em vigor já neste ano – quatro anos antes da data
oficial, 2020.
O Brasil perdeu nesta semana a chance de ser o
primeiro dos dez maiores poluidores a ratificar Paris. Depois de uma aprovação
em tempo recorde do acordo no Congresso, o presidente Michel Temer havia
chegado a marcar a cerimônia de promulgação para 29 de agosto – antevéspera do
impeachment de Dilma Rousseff.
Sem dar explicações, porém, Temer cancelou de
véspera o ato e remarcou-o para 12 de setembro.
Fantasma de Copenhague
Para Obama, que se despede da Presidência em
novembro, ratificar o Acordo de Paris tinha um duplo objetivo: deixar um legado
diplomático de relevo e evitar que a eleição americana, em novembro, pudesse
repetir a tragédia de 2000. Naquele ano, o republicano George W. Bush foi
eleito e um de seus primeiros atos foi rejeitar o Protocolo de Kyoto, o acordo
do clima anterior ao de Paris. Isso soterrou na prática o sucesso do tratado.
Neste ano, outro republicano, Donald Trump, tem
ameaçado cancelar ou rever a adesão americana ao Acordo de Paris. Após a
ratificação, porém, isso fica muito mais difícil.
Obama também busca resolver uma questão hamletiana,
por assim dizer: foi graças à oposição concertada de EUA e China que naufragou
a primeira tentativa de firmar um acordo global contra a mudança climática – a
conferência de Copenhague, em 2009.
O fracasso de Copenhague atrasou em uma década a
ação climática global, enquanto emissões de gases-estufa e eventos climáticos
extremos não pararam de bater recordes.
O atraso pode ter custado caro à humanidade: um
relatório divulgado na última quinta-feira mostra que os países do G20 precisam sextuplicar seus esforços de
redução de emissões se quiserem cumprir a meta de Paris de
estabilizar o aquecimento global em menos de 2oC.
Fonte: Observatório do Clima
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