Leguminosas
ajudam a reduzir emissão de gases.
As leguminosas podem ser pequenas, mas são um grande alimento e por isso é
celebrado,em 2016,o Ano Internacional das Leguminosas. Foto: Cortesia da FAO.
As leguminosas contribuem para mitigar a
mudança climática, porque reduzem a dependência de fertilizantes sintéticos,
utilizados para acrescentar nitrogênio ao solo.
Por Baher Kamal, da IPS –
Roma, Itália, 8/9/2016 – Lentilha, feijão,
grão-de-bico e outras leguminosas às vezes “têm efeitos sociais colaterais” no
entorno, depois de ingeridos. E, embora seja difícil de acreditar, também
contribuem para reduzir as emissões de gases-estufa. Estima-se que cerca de 190
milhões de hectares de leguminosas vertem entre cinco e sete milhões de
toneladas de nitrogênio no solo. Como são capazes de fixar seu próprio
nitrogênio no solo, não necessitam tanto de fertilizantes, sejam orgânicos ou
sintéticos, e podem ter um papel importante na redução das emissões contaminantes.
Além disso, são muito populares: a produção mundial
aumentou de 64 milhões de hectares, em 1961, para quase 86 milhões, em 2014. Os
dados reunidos pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) também indicam que, quando o gado é alimentado com
leguminosas, “seu alto conteúdo de proteínas ajuda a aumentar a taxa de
conversão de alimentos, enquanto diminuem as emissões de metano dos ruminantes,
ou seja, as emissões de gases-estufa”.
Isso revela a grande preocupação que essa agência
da Organização das Nações Unidas(ONU) tem em relação à influência da mudança
climática na segurança alimentar. O aquecimento global tem um enorme impacto na
produção de alimentos e na segurança alimentar. “As alterações do clima podem
causar aumento dos desastres naturais como seca, inundações ou furacões, que
podem afetar todos os níveis da produção de alimentos”, diz o documento da FAO.
A menos que sejam tomadas medidas sustentáveis de
forma urgente, a mudança climática continuará exercendo forte pressão sobre os
ecossistemas agrícolas, especialmente em regiões e sobre populações
particularmente vulneráveis, alerta a agência, que informa sobre as chamadas
variedades de leguminosas climaticamente inteligentes. Além disso, a FAO
insiste em que as leguminosas têm vasta diversidade genética, e entre elas se
pode selecionar variedades melhoradas para o cultivo.
Essa característica é particularmente importante,
porque se pode desenvolver cepas mais resistentes à variabilidade do clima para
usar em áreas propensas a inundações, secas e outros eventos climáticos
extremos. E “os sistemas agroflorestais que incluem leguminosas, como o
feijão-guandu, com outros cultivos ajudam a manter a segurança alimentar dos
agricultores e a diversificar suas fontes de renda”, afirma a FAO.
Dessa forma, os “sistemas agroflorestais suportam
melhor as condições climáticas extremas, porque as leguminosas são mais
resistentes do que a maioria dos cultivos e ajudam a nutrir o solo. Quando
esses sistemas são utilizados, os agricultores veem um aumento na produtividade
dos cultivos, que se estende ao rendimento de cultivos subsequentes”.
De fato, é significativo que a ONU tenha declarado
2016 como Ano Internacional das Leguminosas e realizado, em abril, a
Conferência Internacional sobre as Leguminosas para a Saúde, Nutrição e a
Agricultura Sustentável em Zonas Áridas, na cidade marroquina de Marrakesh, de
onde saiu a Declaração de Marrocos, que apontaas leguminosas como solução para
a alimentação, segurança nutricional, agricultura sustentável e adaptação à
mudança climática.
O encontro reuniu especialistas e cientistas de
todo o mundo para buscar formas de impulsionar a produção de leguminosas nos
países em desenvolvimento, com medidas nos âmbitos da ciência, da pesquisa para
o investimento em desenvolvimento, de políticas e de mercados.A Declaração
recomenda aumentar, até 2030, a produção de leguminosas em 20%, em
relação ao volume atual, melhorando o rendimento, expandindo para novos nichos
que incluam o plantio,em terrasde arrozais em repouso, de leguminosas e outras
alternativas de época nos sistemas de cultivos intensivos já existentes.
Também reconhece que a produção de leguminosas
ficou bastante atrasada em relação à demanda crescente nos países em
desenvolvimento, apesar dos muitos benefícios “para a população e o ambiente,
deixando solos mais sadios, menor pegada de carbono e água, maior segurança
nutricional para as famílias e renda adicional para os agricultores”. A FAO
criou uma lista de dados concretos: “as leguminosas são um tipo que se colhe
unicamente para obter a semente seca. Os feijões, as lentilhas e ervilhas são
os tipos mais comumente conhecidos e consumidos”.
“As leguminosas não incluem os cultivos que são
colhidos verdes (como ervilha verde e vagem), já que estes são classificados
como hortaliças. Também são excluídas as utilizadas principalmente para a
extração de óleo (soja, amendoim) e exclusivamente para fins de semeadura
(alfafa)”, acrescenta o documento.Grão-de-bico, feijões, lentilha e vagens
também são leguminosas.“É provável que já se coma mais leguminosas do que se
tem consciência. Entre as mais populares figuram feijões e favas.
A gastronomia
do mundo todo utiliza leguminosas, desde o homus no Mediterrâneo (feito
com grão-de-bico) a um tradicional desjejum completo inglês (com feijões
brancos), ou o dal da Índia (com ervilha ou lentilha)”, destaca a FAO.
“As leguminosas estão cheias de nutrientes e têm
alto conteúdo de proteínas, das quais são uma fonte ideal, em particular em
regiões onde a carne e os lácteos não são física ou economicamente acessíveis”,
ressalta a FAO. “As leguminosas têm baixo teorde gordura e são ricas em fibra
solúvel, capazes de reduzir o colesterol e ajudar a controlar o açúcar no
sangue. Devido a essas qualidades, são recomendadas pelas organizações de saúde
para enfrentar doenças não transmissíveis, como a diabetes. Também se
demonstrou que ajudam a combater a obesidade”, enfatiza.
“As leguminosas são um cultivo importante para os
agricultores, porque podem ser vendidas e também consumidas pela família.Ter a
opção de comer e vender as leguminosas que produzem ajuda os camponeses a
manterem a segurança alimentar de suas famílias e gera estabilidade econômica”,
aponta o documento.
“Além disso, suas propriedades de fixação de nitrogênio
melhoram a fertilidade do solo, aumentando a produtividade das terras de
cultivo. Usando leguminosas para os cultivos intercalados e de cobertura, os
agricultores também podem promover a biodiversidade agrícola e do solo,
mantendo sob controle as pragas e doenças nocivas”, prossegue o documento.
Inclusive, as leguminosas contribuem para mitigar a
mudança climática, porque reduzem a dependência de fertilizantes sintéticos,
utilizados para acrescentar nitrogênio ao solo. Durante a fabricação e aplicação
desses fertilizantes, são liberados gases-estufa e seu excessivo uso pode ser
prejudicial para o ambiente. Mas “as leguminosas fixam o nitrogênio atmosférico
no solo de forma natural e, em alguns casos, liberam fósforo, diminuindo
significativamente a necessidade de fertilizantes sintéticos”, explica a FAO.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário