Diferenças demográficas preocupam.
Vista da cidade de Daca, em Bangladesh. Ásia Pacífico vive um rápido processo
de urbanização. Foto: Kibae Park/ONU.
A população mundial de 7,4 bilhões de pessoas
aumenta 1,1% o ano, cerca de metade do pico alcançado no final da década de
1960, mas cada vez são mais evidentes as diferenças enormes entre os países, o
que preocupa a comunidade internacional.
Por Joseph Chamie*
Nova York, Estados Unidos, 26/9/2016 – Em um
extremo estão os 29 países que verão pelo menos duplicar sua população até
meados deste século, e na outra ponta estão outros 38 que, pelo contrário,
verão sua população diminuir no mesmo período.
Os Estados que duplicarão sua população estão todos
na África subsaariana, salvo Iraque e Palestina. O país mais povoado entre eles
é a Nigéria, com 187 milhões de habitantes, seguido de República
Democrática do Congo (RDC), com 80 milhões, e Tanzânia, com 55
milhões.Atualmente, esses países concentram 10% da população mundial. Mas, por
seu rápido crescimento demográfico, até 2050 terão 18% dos dez bilhões de
pessoas que, segundo os prognósticos, habitarão o planeta.
Entre os Estados que duplicam sua população, o que
tem crescimento demográfico mais acelerado é Níger, cujos 21 milhões de
habitantes duplicarão até 2034, e até meados deste século registrará aumento
populacional de 250%, o que mais do que triplicará sua população, que chegará
aos 72 milhões de habitantes. Outros países com aumentos significativos, da
ordem de 150% ou mais, são Zâmbia, Angola, Uganda e Mali.
Aumento da população entre os países que duplicam seu crescimento demográfico.
Foto: Divisão de População das Nações Unidas
Além disso, os prognósticos indicam que a população
da Nigéria aumentará 112%, para quase 400 milhões de pessoas até 2050,
deslocando os Estados Unidos como terceiro país mais povoado do mundo, atrás de
Índia e China. Também se prevê que a RDC aumentará em 145% sua população, terá
cerca de 116 milhões a mais de pessoas, fazendo com que sua população chegue a
200 milhões até meados do século.
Diminuição da população nos países onde o
crescimento demográfico está em queda. Foto: Divisão de População das Nações
Unidas.
Os Estados em declive, cerca de 40 países em
desenvolvimento e ricos, experimentarão uma redução populacional até meados
deste século, e passarão a ter 20% dos habitantes do mundo em 2050, em relação
aos 30% atuais. Os dez países que verão suas populações diminuírem mais, em não
menos de 15%, estão todos na Europa oriental. O que registra maior queda é a
Bulgária, com 27%, seguido de Romênia, 22%, Ucrânia, 21% e Moldávia, 20%.
O país que terá maior queda de população, a China,
registrará diminuição de mais de 2% até 2050, e o número de habitantes chegará
ao seu máximo em menos de uma década. Outros países onde haverá redução
populacional até meados do século são Japão com 15%, Rússia, 10%, Alemanha, 8%
e Itália, 5%. De fato, muitas dessas nações há décadas já registram um declínio
em seu crescimento, como Bulgária, Hungria, Japão, Letônia, Lituânia, Romênia,
Rússia, Sérvia e Ucrânia.
As projeções para alguns dos países em declínio
incluem o aporte migratório. Para países como Itália, Japão, Alemanha, Hungria,
Espanha e Rússia, a imigração atenua o menor crescimento esperado. Por exemplo,
se prevê que a população italiana crescerá 5% menos até meados do século com o
aporte migratório, mas sem ele diminuiria 13%.
Também há diferenças significativas entre a
evolução da mortalidade e a migração entre os dois grupos de países. Os Estados
que duplicam sua população têm mortalidade notoriamente maior do que aqueles
onde ela diminui. Além disso, os que duplicam costumam ser países de
emigrantes, ao contrário dos que estão em declínio, que recebem imigrantes.
Porém, as grandes diferenças no futuro crescimento
demográfico têm a ver principalmente com a taxa de fecundidade, em torno de 5,3
filhos por mulher entre os 29 duplicadores. Em um extremo estaria o Quênia, com
4,4%, e no outro Níger, com 7,6%.Por outro lado, a fecundidade entre os 38
Estados com crescimento demográfico descendente fica abaixo do nível de
substituição de dois filhos, com média de 1,5. Os países com menor taxa de
fecundidade são China, Alemanha, Hungria, Itália, Japão, Polônia, Rússia e
Espanha.
As diferenças de crescimento demográfico apresentam
enormes desafios, e bem distintos, entre os dois grupos.
Os Estados duplicadores deverão enfrentar sérios
desafios em matéria de desenvolvimento para cobrir as necessidades básicas de
uma população jovem e em rápido crescimento. A idade média de seus habitantes é
inferior a 20 anos, e o que tem menor média é Níger, com 15 anos, seguido por
Uganda, Chade, Angola, Mali e Somália, cada um com 16.
Muitos duplicadores, como Angola, RDC, Mali, Níger
e Uganda, sofrem atualmente escassez de alimentos. Nos próximos anos será cada
vez mais difícil para eles oferecer uma alimentação suficiente à sua população
em rápido crescimento. Outras dificuldades têm a ver com moradia, educação,
saúde, emprego, segurança pessoal e governança, especialmente porque quase
metade dos países duplicadores está entre os Estados mais vulneráveis ou em
alerta máximo de falência.
As custosas condições de vida que sofre a maioria
das pessoas nos países que duplicam sua população fazem com que cada vez mais
jovens procurem emigrar, legal ou ilegalmente, para nações mais ricas, que têm
população em declínio.
Muitos dos Estados com crescimento demográfico em
queda já passaram do ponto em que o número de maiores de 65 anos supera o de
menores de 15. A idade média de sua população é de pouco mais de 40. Japão,
Alemanha e Itália são os que têm a maior idade média populacional, de 46 anos.
A proporção de idosos aumenta e estes vivem cada vez mais, frequentemente
muitos anos após se aposentarem, o que preocupa os governos dos países em
declínio populacional, por causa do aumento do custo da assistência social, das
pensões, da saúde, e dos cuidados que esse setor da população necessita.
Pouquíssimos países com crescimento demográfico em
queda estão preparados para aceitar um grande número de imigrantes,
especialmente procedentes dos Estados em duplicação, como estratégia para
enfrentar a escassez de mão de obra e os problemas de envelhecimento de sua
própria população. Como já foi dito, alguns dos países em queda constroem
muros, barreiras e obstáculos para deter a imigração não autorizada, enquanto
outros estão definitivamente contrários a que um número considerável de
estrangeiros crie raízes dentro de suas fronteiras.
Muitos deles, como China, Alemanha, Itália, Japão,
Rússia e Espanha, procuram reverter sua tendência demográfica elevando sua
baixa taxa de fecundidade, com a esperança de diminuir os imigrantes e,
inclusive, quem sabe, aproximar-se da estabilização populacional. Mas avançar
para o nível de substituição incentivando mulheres a terem mais filhos fica difícil
para eles e, em geral, não obtêm êxito.
Há um dito que diz que os opostos se atraem. Talvez
no amor, na amizade e nos filmes as pessoas se sintam atraídas por aqueles que
consideram diferentes. Mas não parece ser o caso dos países duplicadores e aqueles
em declínio, ao menos agora. E, ao contrário, como demonstrou em reiteradas
oportunidades a história da demografia, as populações em rápido crescimento não
permanecem facilmente dentro de seu território, e acabam atravessando desertos,
montanhas, rios e mares, e se dispersando por todos os continentes.
*Este é um artigo de opinião de Joseph Chamie,
demógrafo, consultor independente e ex-diretor da Divisão de População da
Organização das Nações Unidas (ONU).
Fonte: ENVOLVERDE
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