Dossiê
Monsanto: em risco, a alimentação do mundo.
Adquirida pela Bayer, mega-corporação dos
agrotóxicos e transgênicos torna-se parte de grupo ainda mais poderoso. Textos
do Outras Palavras ajudam a compreender como ela ameaça natureza, saúde e
agricultores. Confira! Veja, ao final dos links, matéria sobre as consequências
da venda da Monsanto à Bayer.
Como a imensa diversidade alimentar do planeta,
mantida pelos agricultores por milênios, é ameaçada por empresas como a
Monsanto. Quais as possíveis resistências. Por Vandana Shiva.
Mídia deu, em todo o mundo, vasta repercussão a
relatório norte-americano que atesta suposta “segurança” dos OGMs. Mas agora
sabe-se quem financiou o estudo… Por Nadia Prupis.
Dezenas de países preparam, em 23/5, protesto
contra transnacional que, além de atentar contra ambiente e agricultores,
envolveu-se com submundo da política e dos exércitos privados. Por Luã Braga de
Oliveira.
Bancada conservadora no Congresso quer liberar
tecnologia que torna pequenos agricultores dependentes das transnacionais do
agronegócio e atenta contra biodiversidade do planeta. Por Gerson Teixeira.
Câmara Federal debate, de costas para sociedade,
projetos que podem tornar ainda mais difícil identificar transgenia nos
alimentos que consumimos. Por José Carlos de Oliveira e Juliana Dias.
Sem informar consumidores, Ambev, Itaipava,
Kaiser e outras marcas trocam cevada pelo milho e podem estar levando à
ingestão inconsciente de OGMs. Por Flavio Siqueira Júnior e Ana Paula
Bortoletto.
Estudo sugere: doença ainda inexplicada, que
destrói rins e já matou milhares de agricultores, pode estar relacionada ao
glifosato, herbicida-líder da transnacional. Por Jeff Ritterman.
Transnacional foca atuação no Brasil e lança
“nova” variedade de soja transgênica. Livro-documentário expõe sua relação com
modelo agrícola que é preciso superar. Por Juliana Dias.
Contrariando recomendações da ONU, deputado tenta
liberar tecnologia que permite a transnacionais decidir (e vender) o que
agricultores plantarão. Por Julian Perez-Cassarino e Luciana Jacob.
Segundo governo, debate sobre impactos de novas
sementes transgênicas, em vias de liberação no Brasil, deve se restringir a
técnicos… Por Elenita Malta Pereira
Para impor seus produtos em todo o mundo, empresa
mobiliza agências de espionagem norte-americanas, vigia cientistas e dispara
ataques cibernéticos. Por Marianne Falck, Hans Leyendecker e Silvia Liebrich.
Pela Coalizão contra os perigos da Bayer
| Tradução: Inês Castilho
O pior dos cenários realizou-se: a Bayer comprou
a Monsanto por 66 bilhões de dólares. O fato dá origem ao que é, de longe, a
maior corporação de agronegócio do mundo. Segundo os resultados financeiros de
2015, as duas empresas têm um volume de negócios combinado de US$ 23,1 bilhões.
Ninguém do ramo pode igualar-se a elas. Os jovens casais Syngenta / ChemChina e
Dupont / Dow as seguem de longe (US$ 14,8 e 14,6 bilhões, respectivamente), e a
Basf está relegada ao quarto lugar, com US$ 5,8 bilhões.
A Bayer e a Monsanto controlam, juntas, cerca de
25% do mercdo mundial de pesticidas; e de 30% das vendas de sementes agrícolas
— tanto as geneticamente modificadas quanto as convencionais. Considerando-se
somente as plantas transgênicas (OGM), as duas corporações juntas atingem uma
clara posição de monopólio, com mais de 90%.
“Com a aquisição da Monsanto pela Bayer, a
concentração no mercado do agronegócio atinge um novo pico. Os elementos chave
da cadeia alimentar estão agora nas mãos de um só grupo. Os agricultores devem
preparar-se para pagar preços mais altos e também terão menos escolhas. Além
disso, deve piorar ainda mais o bloqueio à inovação no setor, especialmente
para os herbicidas”, criticou Toni Michelmann, da Coalizão contra os males da Bayer
(CBG). A organização de defesa dos consumidores SumOfUs também assumiu posição
contra a compra da Monsanto. “Esta aquisição é uma ameaça ao nosso
abastecimento de alimentos e a todos os agricultores do mundo”, declarou Anne
Isakowitsch. “Não surpreende, portanto, que mais de 500 mil de nossos membros
tenham assinado uma petição contra essa compra.”
Michelmann anunciou que a CBG quer aproveitar o
Tribunal Monsanto, previsto para outubro, em Haia, para articular-se com as
diversas iniciativas contra a Monsanto e redirecionar a partir de agora a
resistência, centrando-a sobre a Bayer. A primeira ação coletiva prevista pela
coordenação ocorrerá na próxima assembleia geral da multinacional de
Leverkusen, no Parque de exposições de Colônia, na Alemanha, em 28 de abril de
2017. “A lista de oradores dificilmente se esgotará num só dia. A Bayer pode,
por precaução, reservar também o dia 29 de abril”, recomenda Michelmann à
corporação global. Ele mencionou ainda uma “Marcha contra a Bayer”, que será
dirigida a Leverkusen.
“O grupo pode esperar desde já o aumento da
pressão contra si. Pressão contra uma política comercial que finge lutar contra
a fome, mas aposta sobretudo nas monoculturas de soja e de milho para alimentar
a pecuária industrial e que, com seus pesticidas, coloca em perigo
polinizadores como as abelhas, tão importantes para as culturas aráveis . Uma
política comercial que se baseia em tecnologias de risco como manipulações
genéticas, uma política que, ao invés de buscar alternativas, leva mais e mais
venenos para o campo”, afirma o químico.
Segundo a Coalizão, os políticos devem agir. E
não é possível contentar-se com procedimentos cosméticos por parte da Comissão
Europeia para a Concorrência. Não bastam pequenas medidas, como separar-se do
setor algodoeiro ou livrar-se de certos pesticidas, especialmente porque a Basf
já está de olho nesse tipo de produto. Os políticos devem também levar em conta
o impacto sobre o emprego e o regime fiscal. Não é possível que a Bayer obtenha
deduções fiscais para essa aquisição, e as cidades onde se encontram suas
indústrias fiquem numa penúria ainda maior. Também é excluída desde já qualquer
tentativa, por parte da empresa, de reduzir a dívida contraída pela operação de
compra com o corte de empregos e medidas de reengenharia.
Axel Köhler-Schnura, da CBG, conclui: “A cínica
partida de pôquer em torno da Monsanto, animada por pura cupidez, mostra mais
uma vez que a alimentação do mundo é uma questão séria demais para ser deixada
nas mãos dos gigantes do agronegócio. O que a Coalizão contra os males da Bayer
recomenda, portanto, é colocar as corporações sob controle social.”
Fonte: Outras
Palavras
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