sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Florestas queimando, planeta aquecendo.
Os graves incêndios florestais que enfrentamos no Brasil têm grande relação com as mudanças climáticas e ambos problemas pedem fortes medidas de proteção às florestas.
Por Redação do Greenpeace Brasil – 


Enquanto no papel o governo brasileiro transforma em lei o importante Acordo de Paris da ONU, assumindo o compromisso de fazer a sua parte para evitar mudanças climáticas drásticas, na prática o ano de 2016 pode se tornar recordista em queimadas e incêndios florestais – problema que anda de mãos dadas com o desmatamento e o aquecimento global.

Só no primeiro semestre foram identificados 27.814 focos de fogo no Brasil, 81% acima da média histórica e o maior número já registrado para o período. Como estamos em plena temporada de queimadas, o problema só deve aumentar. Entre os dias 16 e 18 de agosto, o Greenpeace sobrevoou os estados do Amazonas, Rondônia, Acre, Mato Grosso e Pará para documentar a situação.


Queimadas e mudanças climáticas operam em um ciclo vicioso, onde um problema contribui para o agravamento do outro. Quando se queima uma floresta, ela emite grandes quantidades dos gases de efeito estufa que geram o aquecimento global. Para se ter uma ideia, quando há queimadas na Amazônia algo entre 40-50% do carbono retido nas árvores vai direto para a atmosfera na forma de gás carbônico, principal gás de efeito estufa – sem contar os restos que ficam em decomposição e seguem emitindo.
Em contrapartida, quanto mais o planeta aquece, maiores ficam as chances de queimada. Um estudo publicado na revista Nature mostra que,o período anual de queimadas no mundo já ficou 18,7% mais longo por conta de mudanças no clima. Na Amazônia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e o Met Office Hadley Centre estimam que o volume de chuvas pode cair de 11% a 41% se não pararmos as mudanças climáticas e, no longo prazo, a floresta tende a se tornar uma savana, o que também altera a dinâmica de serviços ambientais fundamentais que a floresta nos presta.

O desmatamento representa, hoje, cerca de 40% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil. Somos o sexto país que mais emite gases de efeito estufa no mundo. Isso torna o enfrentamento ao desmatamento, e às queimadas relacionadas a ele, passos fundamentais se quisermos evitar um aquecimento global superior a 1,5ºC – conforme o Brasil e outros 179 países se comprometeram a fazer no Acordo de Paris.
Porém, apesar do Brasil ter avançado significativamente no combate ao desmatamento entre 2004 e 2012, de lá para cá a taxa medida pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), vem registrando uma média 5 mil km² de floresta destruída todos os anos, o que equivale a quatro vezes a área da cidade do Rio de Janeiro. Para piorar, a próxima taxa de desmatamento (que será divulgada entre novembro e dezembro) pode trazer um aumento. É o que indicam os alertas do Imazon, que aponta 8% de aumento, e do DETER, que indica 12% de crescimento. Caso siga o padrão que vem sendo apontado nos alertas, o desmatamento na Amazônia pode superar os dos 6 mil km².

Isso pode ser atribuído a alguns fatores. Por um lado, o problemático Novo Código Florestal, aprovado em 2012, perdoou todos que desmataram ilegalmente até o ano de 2008. Por outro, na mesma ocasião em que o Brasil se comprometeu com o Acordo de Paris, mencionado acima, o governo apresentou o objetivo nacional de acabar o desmatamento ilegal na Amazônia só em 2030 – o que significa aceitar o crime por mais 14 anos lá, e por tempo indefinido no resto do país. Tudo isso dá um sinal verde a desmatadores, que seguem destruindo florestas em ritmo alarmante.


O governo precisa aumentar a ambição de suas medidas de combate ao desmatamento com urgência, assumindo de uma vez o compromisso com o Desmatamento Zero. Esse foi o recado passado por 1,4 milhão de habitantes que apoiaram um projeto de lei sobre o assunto entregue ao congresso no ano passado. E dá para começar pela revisão da inaceitável meta favorável a desmatadores estabelecida sob o Acordo de Paris.

O fogo que queima a floresta traz graves consequências tanto a quem vive perto da floresta e é diretamente afetado, quanto a toda a população que sofre com as consequências das mudanças climáticas. Apesa de neste ano um El Niño particularmente intenso contribuir para a expansão de queimadas, na enorme maioria dos casos o problema se inicia por ação humana. A forma de interromper o ciclo vicioso que liga queimadas e aquecimento global é assumindo sérios compromissos com a proteção das florestas. Só falta o governo se posicionar firmemente a favor do povo e contra os desmatadores.

Espalhe a notícia, acesse o site do Desmatamento Zero e saiba como se mobilizar.
Nuvem de fumaça proveniente de queimada cobre o Rio Madeira, em Porto Velho, Rondônia.




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