quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Metade dos paulistanos afirma ter reduzido o uso do automóvel.
Divulgada pela Rede Nossa São Paulo, pesquisa sobre Mobilidade Urbana revela também, entre outros dados, que maioria é favorável à construção e ampliação de corredores e faixas exclusivas de ônibus.

Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo –

Quase metade dos paulistanos (49%) afirma que está utilizando o automóvel particular com menor frequência, se comparado aos últimos doze meses. Outros 27% dizem que utilizam de forma igual e 22% ampliaram a frequência de uso.

Os dados são da pesquisa sobre Mobilidade Urbana divulgada nesta segunda-feira (19/9) pela Rede Nossa São Paulo, em evento público ocorrido no Salão Nobre da Câmara Municipal paulistana.

O levantamento, realizado pelo Ibope Inteligência, revela ainda que 92% dos entrevistados são favoráveis à construção e ampliação de corredores e faixas exclusivas de ônibus e que 88% apoiam a aplicação de multa para veículos que param em cima da faixa de pedestres.

Além disso, 76% dos paulistanos disseram ser favoráveis à utilização exclusiva de ruas e avenidas, como a Paulista, para o lazer e a circulação de pedestres e ciclistas aos domingos. Esse índice subiu 12 pontos porcentuais em relação à pesquisa do ano passado, quando o apoio à medida era de 64%.

Por outro lado, a diminuição da velocidade máxima nas principais ruas e avenidas da cidade, tema de debate desde sua implementação, continua dividindo a população. A medida é apoiada por 47% dos paulistanos, enquanto 50% manifestam-se contrários.

Questionados sobre as áreas mais problemáticas de São Paulo – e podendo citar até três áreas –,58% apontaram a saúde. O desemprego foi a segunda opção mais citada, com 49%, revelando um aumento significativo em relação ao levantamento de anos anteriores.

Em 2010, o desemprego correspondia a apenas 10% das citações e estava em nono lugar entre as principais preocupações dos moradores da cidade. Já em 2105, o índice subiu para 33% e ficou em quarto lugar no ranking.

Abastecimento de Água, área que chegou a figurar em sétimo em 2015, volta a ficar entre os últimos lugares.

A poluição do ar continua sendo indicada como o tipo de poluição mais grave na cidade (64%). 

Aproximadamente dois em cada três paulistanos declaram já ter ocorrido problemas de saúde decorrentes da poluição do ar em seu domicílio.

De acordo com a pesquisa sobre Mobilidade Urbana, que foi apresentada no evento por Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência, o tempo médio diário de deslocamento do paulistano para realizar sua atividade principal aumentou 17 minutos em relação ao ano passado, indo para 2 horas e 1 minuto.

O tempo médio para se deslocar em todas as suas atividades diárias ficou 20 minutos maior, comparado ao mesmo período, subindo para 2 horas e 58 minutos.



Manifesto em Defesa da Vida

Durante o evento, a Rede Nossa São Paulo divulgou o Manifesto em Defesa da Vida – Não Corra, Não Mate, Não Morra!

Antes de fazer a leitura do documento, o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, destacou que a organização é apartidária. “Nosso partido é melhorar a qualidade de vida da população”, explicou.

Segundo ele, a coisa mais importante, e que todos deveriam se preocupar, é preservar a vida das pessoas. “É isso que está em jogo na cidade de São Paulo”, argumentou.

O Manifesto em Defesa da Vida afirma que “dezenas de organizações da sociedade civil apoiam a diminuição da velocidade nas ruas de São Paulo, a implantação de ciclovias e a valorização do pedestre e do transporte público. Assim como também apoiam e cobram o controle sobre as emissões veiculares”.

Em sua parte final, o documento defende que o próximo prefeito ou prefeita de São Paulo mantenha e prossiga com todos os avanços conquistados em mobilidade urbana.

“Nenhum aumento de velocidade em nossas ruas, avenidas e marginais! Queremos mais ruas e avenidas com tráfego calmo, corredores de ônibus, ciclovias e calçadas decentes. E muito menos poluição! Queremos uma cidade que defenda a vida, muito mais humana, justa, democrática e sustentável!”, conclui o manifesto.

Candidaturas à Prefeitura de São Paulo

Na segunda parte do evento, Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo, lembrou que desde a primeira edição da pesquisa sobre Mobilidade Urbana, que está em seu 10º ano consecutivo, a agenda defendida pela organização continua mesma: a descentralização da cidade, para reduzir a necessidade de deslocamentos, e o fortalecimento das subprefeituras.

“Assim como também temos apoiado que a escolha dos subprefeitos passe pelo crivo da população das regiões que serão administradas por esses subprefeitos”, complementou ele.

Em seguida, Broinizi solicitou que os representantes das candidaturas à Prefeitura de São Paulo comentassem os dados da pesquisa e o Manifesto em Defesa da Vida (os principais candidatos e candidatas foram convidados para o evento).

Definido por sorteio, o primeiro a falar foi o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, que representou o prefeito Fernando Haddad no encontro.

Tatto defendeu as medidas de redução de velocidades nas vias da cidade, colocadas em prática pela atual administração. “A velocidades nas marginais foram reduzidas porque há estudos técnicos que apontam essa necessidade, para diminuir o número de acidentes e de mortes”, justificou.

Ele lembrou que “vários candidatos querem voltar à velocidade anterior, principalmente nas marginais”. Para o secretário de Transportes, “a redução dos acidentes e de mortes no trânsito não deveria ser motivo de debate eleitoral, deveria ser compromisso de todos os candidatos”.

A candidatura de Luiza Erundina foi representada por Marcelo Aguirre e João Victor, que dividiram o tempo de fala.

Marcelo Aguirre avaliou que a pesquisa apresentada reforça que não é possível enfrentar o problema do transporte, sem enfrentar a cultura do transporte individual. “Nós defendemos o transporte público e temos um posicionamento, um compromisso com a política de tarifa zero [no transporte coletivo], que é uma política a ser construída”, pontuou.

A descentralização da cidade foi defendida por João Victor. “Se a gente começar a ter uma política de descentralização e conseguir contribuir para que os deslocamentos não sejam tarifados, construiremos uma cidade mais articulada em benefício da população”, considerou.

João Lourenço, representante da candidatura de João Dória, explicou que “ninguém quer o aumento dos acidentes e mortes no trânsito”. Caso a chapa que apoia vença as eleições, afirmou ele, nada será mudado sem estudo. “Uma coisa dessa precisa ser analisada. Se chegarmos à conclusão que se aumentar [a velocidade], vai crescer o número de mortes, não será mudado. Porém, não temos essa convicção”, ponderou.

Lourenço criticou o que chama de “pegadinha” dos radares. “Quando você tem o limite de 50 km num trecho e, logo em seguida, cai para 40 km e a pessoa é multada por passar a 45 km.” Em sua avaliação, isso precisa ser revisto.

Ricardo Young, candidato da Rede Sustentabilidade, iniciou sua fala protestando contra a ausência dos demais candidatos no evento. “Deveriam estar aqui para estabelecer um debate com a sociedade, principalmente sobre um tema tão importante para cidade como a Mobilidade Urbana”, lamentou.

Ele reconheceu que algumas mudanças colocadas em práticas pela atual gestão foram positivas, mas criticou a falta de explicação à sociedade. “A redução da velocidade foi corretíssima, mas não adianta fazer isso sem explicar à população os motivos. Senão, as pessoas pensam que a mudança é contra elas”, opinou.

Para Young, as ciclovias também representam um avanço, mas precisam ser acompanhadas de um trabalho pedagógico de informação. “Construir ciclovias e, em alguns casos, pintar faixas nas ruas não mudam uma cultura”, considerou.

Ele, por fim, alertou para o risco das futuras concessões das linhas de ônibus. “É preciso exigir que a nova licitação contemple as demandas da população para o transporte coletivo”, propôs.

Programa Cidades Sustentáveis e Pacto por uma Cidade Transparente e Íntegra

Na sequência, Oded Grajew e Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, apresentaram a carta compromisso do Programa Cidades Sustentáveis (PCS) e o Pacto por uma Cidade Transparente e Íntegra, convidando os candidatos a prefeito de São Paulo a firmarem os dois compromissos.

A carta-compromisso do PCS já havia sido assinada pelos candidatos João Dória (PSDB), Luiza Erundina (PSol) e Ricardo Young (Rede Sustentabilidade).

No evento, o secretário Jilmar Tatto firmou o compromisso em nome do prefeito Fernando Haddad.

Os candidatos Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB), que não participaram do evento e nem enviaram representante, haviam assinado a carta compromisso do programa durante o processo eleitoral de 2012. Ambos já afirmaram verbalmente que pretendem subscrever a novo documento do PCS.


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