Polinizadores
atuam em 75% dos alimentos.
Inseticidas sintéticos costumam ser considerados
prejudiciais para as abelhas. Foto: Zadie Neufville/IPS.
Por Sumon Dey, da IPS –
Daca, Bangladesh, 4/3/2016 – Os polinizadores, que
são fundamentais para um terço dos alimentos que comemos, recebem uma atenção
especial, após um histórico informe divulgado pela Organização das Nações
Unidas (ONU), que alerta para o perigo que as atividades humanas representam
para muitas das 20 mil espécies que transportam o pólen.
Pela primeira vez, uma pesquisa realmente global
estudou as abelhas, os abelhões (ou mamangabas) e as borboletas, tanto do ponto
de vista de sua sobrevivência como em relação ao seu papel na hora de reforçar
o valor nutricional de alguns alimentos. Uma parte enorme do trabalho realizado
se concentrou na Ásia, onde as exportações de mel duplicaram na década passada,
segundo o FAOStat, serviço de estatísticas da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O informe da Plataforma Intergovernamental de
Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES)
coincide com a publicação de outra pesquisa realizada por vários especialistas
da FAO, que tem sua sede em Roma.Os dois estudos destacam que quase todas as plantas
de floração dependem das abelhas e de seus parentes. Isso inclui 75% dos
cultivos para a alimentação, de uma amêndoa a um quiabo.
Os meios de comunicação ocidentais publicam
regularmente artigos sobre a redução dos enxames de abelhas na América do Norte
e Europa. Entretanto, seu número duplicou no último meio século no mundo,
inclusive quando o volume da produção obtida graças a elas tenha
quadruplicado.Por causa da grande vulnerabilidade das abelhas europeias, uma
variedade muito aplicada disposta a se concentrar em um só cultivo antes de
passar a outro, cabe destacar que há dezenas de milhares de outros animais que
podem participar da reprodução das plantas.
“Pássaros, raposas voadoras (uma variedade de
morcego), lêmures e até caracóis e lagartixas podem e cumprem uma função”,
explicou o professor Dharam P. Abrol da Universidade de Tecnologia e Ciências
Agrícolas de Sher-e-Kashmir e autor de um novo livro sobre polinização, que se
concentra nas principais espécies e cultivos da Índia.
A apicultura é uma atividade econômica alternativa
nos países em desenvolvimento, porque o mel é um alimento não perecível e sua
produção não requer terras, sendo necessário apenas um equipamento básico, e,
inclusive, promove a biodiversidade.Além disso, as colmeias de abelhas
europeias administradas não são tão efetivas como um enxame de polinizadores
silvestres e, embora a zona dos trópicos lhes proporcione um fornecimento mais
amigável de néctar todo o ano, as abelhas também requerem mais energia ali, em
comparação com as zonas temperadas, segundo cientistas da FAO.
Para além da preocupação pela sobrevivência das
abelhas, é importante a qualidade dos serviços de polinizadores para melhorar
os sistemas alimentares humanos, especialmente para atender o problema da “fome
oculta”: a generalizada falta de micronutrientes.
Outro estudo concluiu que a ingestão de ferro,
zinco, fosfato e cálcio em meninos e meninas depende principalmente de outro
tipo de alimento, enquanto a vitamina A tem uma grande dependência das frutas
visitadas pelas abelhas, o que se mostrou especialmente verdadeiro em
Bangladesh.
Ruhul Amin e seus colegas estudaram o comportamento
de insetos forrageiros em uma área cultivada com manga e concluíram que a
riqueza de polinizadores realmente estava por trás das pestes, além de outros
insetos, como cigarras ou formigas. Felizmente, havia uma grande variedade de
polinizadores, o que foi um elemento importante no efeito sobre as frutas. É um
fato que necessita de maior fundamentação, mas é importante.
Uma conclusão-chave, demonstrada por uma
investigação britânica, é que as plantas tendem a ter maior produção de
sementes quando crescem em hortas urbanas, onde as flores tendem a ser variadas
e abundantes, em comparação com as terras agrícolas, neste caso principalmente
a colza em modalidade de monocultura.
De alguma maneira, embora seja irônico, as zonas
urbanas também tinham maior probabilidade de oferecer melhores refúgios para os
insetos do que os campos com monocultivos, sujeitos à ação das máquinas na
lavoura.
Por isso, muitos agricultores procuram cada vez
mais reservar os limites de suas terras para outras plantas e assim cultivar a
biodiversidade, uma prática que se assemelha a “dar cama e desjejum aos
polinizadores”, em contraposição a um operário migrante, citou como exemplo
Goeff Coates, especialista em agricultura sustentável da corporação Syngenta.
As abelhas têm, de fato, um efeito marginal na
produção de frutas, enquanto outros polinizadores silvestres têm o dobro de
impacto, segundo um estudo de 41 sistemas de cultivos em todos os continentes
dedicados à agricultura.
“Melhorar a diversidade e a densidade de
polinizadores, assegurando que cada vez mais variedades diferentes de abelhas e
insetos visitem seus cultivos, tem um impacto direto sobre a produção”, segundo
Barbara Gemmill-Herren, coautora do informe da FAO. Ela e seus colegas estimam
que uma ecologia com uma polinização mais diversificada, isto é, mais
variedades de flores, reduzirão em um quarto a brecha de rendimento dos
pequenos agricultores.
Os inseticidas químicos em geral são considerados
prejudiciais para as abelhas, mas uma pesquisa realizada em Bangladesh, que
estudou o algodão em Dinajpur,concluiu que os polinizadores silvestres eram
muito superiores às abelhas europeias domesticadas, mas sugere que se use
inseticida à noite. As flores se abrem pela manhã, se tornam rosadas à tarde e
se fecham à noite, para não voltar a abrir mais.
A polinização humana não é um mito, mas seu uso
está muito exagerado. O exemplo clássico é o das plantações de maçãs em
Maoxian, na China, onde foi praticada muito durante a década de 1990,devido às
circunstâncias locais. Mas é muito cara, obviamente, uma pessoa sozinha pode
polinizar entre cinco e dez árvores por dia, e as maçãs já não são o principal
cultivo no vale, segundo Uma Partap, cuja pesquisa foi a primeira a lançar luz
sobre essa prática.
Os insetos polinizadores eram escassos na região
devido ao generalizado uso de inseticidas e pela reticência dos agricultores em
reservar terreno para diferentes variedades de árvores menos rentáveis para
manter vivos os polinizadores.Os agricultores locais se voltaram para as
ameixas, vendidas a um preço dez vezes superior ao das maçãs. Mas é irônico que
os que mudaram de variedade também adotaram a prática de cultivos mistos para
melhorar sua renda, o que melhorou o habitat dos polinizadores.
Os agricultores norte-americanos preocupados pelo
apocalipse das abelhas também experimentaram a polinização mecânica. E, embora
soprar pólen seja mais barato, cerca de US$ 300 o acre – o custo de apenas 15
maçãs na China –, não funciona porque as flores das amêndoas não estão sempre
abertas, segundo Elizabeth Fichtnerm, da Universidade da Califórnia.
Mas pode depender da variedade de fruta. Uma
pesquisa realizada no Estado norte-americano de Washington encontrou um método
sofisticado de borrifar as maçãs com pólen. E outro estudo sul-africano
concluiu que a polinização manual, como na China, rendia mais do que o trabalho
das abelhas, mas os polinizadores silvestres eram melhores que ambos.
Fonte: ENVOLVERDE
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