Como
ensinar uma geração que vive conectada.
Foto: Shutterstock
Seminário do Instituto Brasileiro de Formação de
Educadores discute tendências e aponta caminhos para ampliar o engajamento dos
nativos digitais.
Por Marina Lopes, do Porvir –
O mundo não pode mais se desconectar. Diante do
excesso de informações e da velocidade das transformações, a grande pergunta é:
como a educação se prepara para isso? Para o português Luís Rasquilha,
especialista em futuro, tendências e inovação, o primeiro passo é refletir
sobre a própria definição de educação, que já não pode mais ser entendida como
apenas um conjunto de normas pedagógicas.
Durante o 1º Seminário de Tendências e Inovação na
Educação, realizado nesta quarta (9), pelo IBFE (Instituto Brasileiro de
Formação de Educadores), em Campinas (SP), Rasquilha afirmou que o grande
desafio da atualidade é tentar manter o foco em um momento de permanente
transformação. “É a primeira vez na história da humanidade que as gerações mais
novas têm mais informações que as gerações mais velhas. É a primeira vez que o
aluno entra na sala de aula e sabe tanto ou até mais sobre o tema do que o
professor.”
Com a possiblidade de pesquisar qualquer tipo de
informação por meio de um smartphone, o especialista em tendências disse que
vivemos em um período no qual a vida se mistura com softwares e hardwares.
“Quer a gente goste ou não, o mundo de hoje é o mundo da conexão”, constatou,
ao defender que os educadores precisam estar preparados para lidar com essa
mudança.
Ao traçar um panorama de algumas das principais
tendências para os próximos anos, Rasquilha chamou atenção para a necessidade
de tornar a educação mais interessante. E, segundo ele, esse caminho passa pelo
empoderamento dos alunos, criação de ambientes propícios para o
compartilhamento de ideias, transformação da escola em uma verdadeira experiência
engajadora, integração entre diferentes conteúdos e o uso da tecnologia. “Mais
do que enfiar goela abaixo o que o aluno vai estudar, temos que trazer ele para
perto”, afirmou.
De acordo com Rasquilha, há um descompasso muito
grande entre o que as instituições educacionais oferecem e o que os alunos
precisam para enfrentar alguns desafios da vida, como ingressar no mercado de
trabalho, por exemplo. “As empresas estão pedindo outro tipo de pessoas, que
não são aquelas que estão saindo das escolas ou faculdades”, explicou. O
especialista português ainda mencionou que se as estruturas não mudarem, o
caminho será a substituição das universidades tradicionais por universidades
corporativas.
“Nós entramos na escola, aos seis anos, com 98% de
índice criativo; saímos da faculdade, aos 23 ou 24 anos, com apenas 2%. Hoje o
que as empresas mais procuram são pessoas criativas, inovadoras e com
pensamento fora da caixa. E nós, ao longo da formação deles, estamos tirando
isso e colocando todo mundo para pensar da mesma forma”, refletiu Rasquilha.
Segundo ele, diante de todo cenário apresentado, há cinco recomendações que
todos os professores deveriam ter a obrigação de incorporar nas suas vidas: o
aprendizado mão na massa, estratégias rápidas de dar informações e promover o
engajamento, apresentação de conteúdos relevantes e a quebra de fronteiras
entre as matérias.
Para ilustrar a fala do especialista português, o
professor Marcelo Veras, iniciou a sua apresentação com uma situação vivenciada
na universidade. Enquanto dava aula de marketing para uma turma de MBA, ao
falar sobre um autor e mencionar que não tinha certeza se ele ainda estava
vivo, um aluno prontamente pesquisou no seu smartphone e levantou a mão para
compartilhar as informações encontradas. Além de exemplificar a velocidade que
a informação pode chegar até a sala de aula, o caso apresentado serviu para
mostrar que conexão não é sinônimo de dispersão.
Autor e organizador do livro “Métodos de Ensino
para Nativos Digitais”, Veras reuniu algumas das críticas mais recorrentes
entre os professores durante encontros de formação. Entre elas, aparece a
reclamação de que esta geração, composta pelos chamados nativos digitais, não
sabe escrever corretamente e abrevia tudo. No entanto, segundo ele, a própria
palavra “você”, que hoje muitos adolescestes escrevem com a abreviação “vc”, já
representa uma redução de “vosmecê” e “vossa mercê” na língua antiga.
“Eu estou vendo uma guerra travada por parte dos
profissionais de educação com essa nova geração. As pessoas não estão
entendendo o que está acontecendo”, contou. De acordo com ele, para engajar os
alunos desta geração, quatro pilares devem direcionar a estratégia pedagógica:
a exposição dos projetos desenvolvidos pelos alunos, a competição, desde que
realizada de maneira saudável, a participação e a colaboração.
Na tentativa de entender como deveria ser a escola
do futuro, Veras participou de um estudo que ouviu alunos, professores e pais
de escolas parceiras do grupo Unità Educacional. Durante o seminário, ele
apresentou alguns resultados da pesquisa, que traz respostas muito semelhantes
entre atores envolvidos: um descontentamento com o currículo, os métodos de
ensino, a arquitetura da escola e o sistema de avaliação.
Mas dá para ser inovador dentro de um setor que
ainda mantem estruturas muito conservadoras? Segundo ele, a resposta é sim. No
entanto, o professor deverá se reinventar para assumir novos papeis, que
envolvem a curadoria de conteúdos, o diagnóstico cognitivo do que cada aluno
aprende e a liderança de equipes, porque o aprendizado deve se tonar cada vez
mais participativo e colaborativo. “O que está precisando mudar é o método”,
concluiu, ao mencionar que falta de tecnologia ou dinheiro não podem ser uma desculpa
para não inovar dentro da sala de aula.
No final do evento, três professores participantes
ainda foram convidados para compartilhar experiências bem-sucedidas de inovação
na sala de aula.
Leia mais: Especial Tecnologia na Educação do Porvir.
* A repórter esteve em Campinas a convite do IBFE.
Fonte: Porvir
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