Caminhos
desiguais na produção elétrica.
O Projeto Hidrelétrico Reventazón entrará em
funcionamento neste primeiro semestre de 2016 e aportará a quinta represa à
matriz elétrica da Costa Rica. Foto: Instituto Costarriquenho de Eletricidade.
Diego Arguedas Ortiz, da IPS –
São José, Costa Rica, 29/2/2016 – Na última década
a América Central conseguiu reduzir sua dependência dos combustíveis fósseis na
geração elétrica ao mesmo tempo em que aumentou sua cobertura, mas os caminhos
que cada nação seguiu mostram as profundas disparidades que persistem dentro do
istmo para o setor.A mescla entre grandes usinas hidrelétricas, projetos
comunitários com painéis solares ou turbinas eólicas e centrais de carvão e
petróleo provocam diferenças tanto em suas matrizes elétricas atuais como em
seu planejamento futuro.
“O questão não é se atende ou não a demanda, mas
quais são as fontes que estamos usando para gerar eletricidade”, destacou à IPS
o pesquisador Diego Fernández, do Programa Estado da Região (PER), elaborado
pelo Conselho Nacional de Reitores da Costa Rica (estatal). Cada vez mais
centro-americanos são cobertos pelas redes de cada país,disse. O índice de
eletrificação passou, em média, de 69%, em 2000, para 90%, em 2013, segundo um
estudo conjunto entre o Estado da Região e a Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (Cepal).
“Os principais avanços da região (na questão
energética) ocorreram no subsetor elétrico”, afirma esse informe, publicado em
outubro de 2015.Entretanto, esse crescimento não é uniforme. Na própria
eletrificação, os nicaraguenses ainda contam com uma cobertura próxima dos 75%,
muito inferior à média, enquanto os costarriquenhos a superam, com 99%. As
fontes escolhidas para gerar eletricidade mostram evidências mais claras das
prioridades energéticas dos países.
A Costa Rica libera a geração com fontes limpas,
com mais de 95% do total fornecido por esse tipo de fonte. Por outro lado,
Honduras e Nicarágua ainda têm matrizes elétricas mais contaminantes, com cerca
de metade de sua geração proveniente de usinas que em sua maioria utilizam
bunker, um combustível resultante do destilado de hidrocarbonos com baixa
qualidade e baixo preço, o que incide diretamente na saúde de seus habitantes e
nas economias.
A evidência mais clara de que as decisões elétricas
têm um impacto direto nas contas de cada país é a fatura petroleira, que é o
dobro para os países que utilizam combustíveis fósseis para gerar eletricidade,
em relação à daqueles com maior predomínio de fontes renováveis.“Nos países que
produzem mais energia elétrica a partir de fontes renováveis, como a Costa
Rica, a fatura petroleira é de quase 5% do produto interno bruto (PIB). Em
Honduras e Nicarágua, essa fatura vem sendo de 12%”, apontou o pesquisador.
A América Central, com população global de 48
milhões de habitantes, é importadora de hidrocarbonos, utilizados
principalmente para o transporte e em menor medida na geração de eletricidade.
Assim, a conta do petróleo centro-americana passou de 3,5% do PIB, em 2000,
para 8,5%, em 2014, segundo dados do PER e da Cepal. Apesar disso, o conjunto
regional saiu à frente e, entre 2003 e 2014, a geração instalada foi do tipo
renovável.
As disparidades na América Central mostram países,
como Costa Rica, com matriz elétrica baseada quase totalmente em renováveis, e
outros, como a Nicarágua, com metade de sua produção gerada a partirde
combustíveis fósseis.
“Graças aos acordos regionais e políticas
nacionais, aumentou a participação das energias renováveis, o que permitiu
reverter a tendência de redução dessas energias e aumentar sua participação de
57% para 64%”, ressaltou à IPS o chefe da Unidade de Energia e Recursos
Naturais da Cepal, Víctor Hugo Ventura.Este especialista, de origem
guatemalteca, diz que a região ainda prioriza a hidroeletricidade, mas que os
grandes e médios projetos são atrasados pela oposição social e ambiental. Mesmo
assim, é complicado definir o estado da geração elétrica na região como um
todo, ou mesmo em certos países.
O caso guatemalteco é exemplar: entre 2009 e 2014,
conseguiu aumentar sua porcentagem de energia renovável de 50,7% para 56,1%,
segundo a Cepal, mas ainda investe em usinas a carvão, a energia mais
contaminante.Em 2014 começou a funcionar nesse país a usina de carvão mineral
de propriedade da Jaguar Energy Guatemala, subsidiária da companhia
norte-americana Ashmore Energy International, que, com custo estimado de US$
750 milhões e capacidade instalada de 300 megawatts (MW), se converteu na maior
usina elétrica do país.
Ventura destaca que essa iniciativa não
necessariamente implica uma diversificação para o carvão, mas uma falida
decisão conjuntural, tomada quando o preço do petróleo subiu em 2007.
“Problemas nos geradores obrigaram a parar as operações, e atualmente não
produz eletricidade. Às vezes o barato sai caro”, explicou.O especialista prevê
um aumento do consumo centro-americano de gás natural, que também é um
combustível fóssil, na próxima década.
Entretanto, a região centro-americana (composta por
Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá)
recebe há anos pedidos para reduzir sua dependência dos combustíveis fósseis
para geração elétrica.A região, em sua maioria, atendeu o pedido, mas continua
dando vida a usinas de carvão e bunker, algo que os informes internacionais criticam.
“O cenário é muito favorável para a energia eólica, cuja capacidade cresceu
quase dez vezes durante o presente milênio”, diz o informe conjunto do PER e da
Cepal.
Três países têm importantes centrais desse tipo:
Costa Rica, Honduras e Nicarágua, sendo que, neste último, a energia solar
representava,em 2013, 14,8% da produção interna de eletricidade. Essas fontes
não convencionais permitem também eletrificar as comunidades isoladas e em
zonas rurais, onde a organização comunitária tem um papel importante.“Pode-se
mencionar vários casos de instalação de painéis solares, nos quais a instalação
e manutenção ficam nas mãos de mulheres empresárias treinadas na Índia”,
afirmou Ventura do escritório sub-regional da Cepal no México.
Entretanto, tampouco a inclusão de novas energias
renováveis é perfeita e os centro-americanos devem ter em conta a variabilidade
e a mudança climática em seus planejamentos de longo prazo, especialmente em
usinas hidrelétricas, ao mesmo tempo em que consideram suas emissões de gases-estufa.
“A mudança climática representa grandes desafios
para a região, onde também devemseeconsiderados os efeitos e impactos desse
fenômeno nos recursos renováveis e sua disponibilidade para gerar energia menos
contaminante”, pontuou à IPS a advogada especialista em
sustentabilidade,AlejandraSobenes, representante junto ao Conselho Nacional de
Mudança Climática e ex-vice-ministra de Recursos Naturais da Guatemala.
Em seu país, assegurouSobenes, é reconhecida a
necessidade de se tomar medidas para evitar um déficit no abastecimento
elétrico a partir de 2026. “Mas sempre deve serconsiderado o compromisso de se
reduziras nossas emissões em pelo menos 11,2%, ou 22,6% em um cenário mais
ambicioso. Isso tornará relevante rever o uso de carvão”, afirmou, da capital
guatemalteca.
Outro problema supõe a própria inconsistência das
fontes mais acessíveis: vento e sol. “Agora, com a energia solar e a eólica, se
facilita muito a inserção de fontes renováveis na matriz elétrica da região,
mas com um problema: essas fontes, embora sejam renováveis, têm a variabilidade
como inconveniente”, observou à IPS o diretor de planejamento elétrico do
estatal Instituto Costarriquenho de Eletricidade, Javier Orozco.
Cada país enfrenta a variabilidade como pode: uma
estratégia é recorrer à energia geotérmica, abundante na região e ainda pouco
explorada. Outra opção é construir enormes represas que permitam liberar água
quando falharem o sol e o vento, e uma alternativa final que é queimar
combustíveis fósseis.“Na Costa Rica decidimos pela solução tecnológica mais
adequada: as represas hidrelétricas, onde armazenamos energia, ou água, e a
liberamos quando necessário”, enfatizou Orozco.
Fonte: ENVOLVERDE
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