Suspeita
de corrupção afeta credibilidade de ações socioambientais.
por Reinaldo Canto, colunista e conselheiro da
Envolverde –
Pesquisa
revela crescimento da desconfiança do brasileiro com relação às iniciativas
corporativas na área de sustentabilidade. A empresa Vale é uma das mais
mal-avaliadas no quesito sustentabilidade.
Os
brasileiros estão perdendo a confiança no setor corporativo em geral, graças
aos inúmeros escândalos envolvendo algumas das empresas
mais importantes do setor. Consequentemente, o ceticismo está atingindo
iniciativas ligadas à sustentabilidade praticadas pelo setor privado.
Isso é o que constatou a 12ª edição do estudo Monitor
de Sustentabilidade Corporativa 2017, pesquisa feita anualmente pela
Market Analysis e publicado com exclusividade por esta coluna.
Não está mesmo fácil pra ninguém, diria o verbete
popular diante de tantos fatos desabonadores que atingem o País de cima a
baixo!
Várias grandes empresas que se esforçaram ao longo
dos anos para construir suas imagens viram esforços de anos serem comprometidos
por, direta ou indiretamente, terem contribuído para a perda da credibilidade
de todo o setor privado brasileiro.
Após a realização de 810 entrevistas com adultos
entre 18 e 69 anos, em nove capitais do país, entre elas, São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, no primeiro semestre deste ano, a
credibilidade das companhias brazucas caiu de 74,2% registrados em 2010 para
43,8% em 2017.
O distrito de Bento Rodrigues – Rogério Alves/TV
Senado/Fotos Públicas
Dessa maneira, o estudo concluiu que os brasileiros
passaram a demonstrar um nível recorde de descrença e indiferença quanto a
identificação de bons exemplos de ações de responsabilidade social e/ou
ambiental.
Na pesquisa de 2010, apenas um de cada cinco
entrevistados tinha essa visão pessimista. Já em 2017 dois em cada três
disseram não reconhecer exemplos positivos.
As melhores e as piores
O novo cenário apresentou um reforço à imagem
da Natura, com um terço das menções positivas –
também fato inédito apontado pela pesquisa – seguida depois por três
multinacionais estrangeiras: Coca-Cola, Nestlé e Unilever. Fechando o quadro
das cinco melhores vem a Petrobrás.
Já entre as cinco piores em sustentabilidade, em
primeiríssimo lugar a JBS (dos célebres irmãos Batista), seguida pela
Petrobrás, BRF (proprietária das marcas Sadia e Perdigão e envolvida na
operação Carne Fraca), Odebrecht (outra grande empresa envolvida na Lava-Jato)
e a Vale (mineradora que, entre outras, é proprietária da Samarco ligada a maior tragédia ambiental
brasileira).
A pesquisa deste ano aponta algumas conclusões
interessantes: o fato da Petrobrás fazer parte das duas listas revela o
conhecimento que as pessoas têm da maior empresa brasileira, mas a citação
positiva espontânea foi de apenas 1,7%, enquanto a negativa chegou a 4,5%
deixando claro que a petroleira terá que aprofundar suas melhores práticas para
superar essa imagem muito ainda associada à corrupção.
Também o fato de empresas estrangeiras ocuparem o
espaço de companhias de capital nacional de maneira inédita nos 12 anos
anteriores dessa pesquisa afasta as nossas empresas da ideia de serem
ambientalmente responsáveis.
Isso, pelo menos, é o que passa pela cabeça dos
consumidores. O que, diga-se de passagem, não parece nada bom para o futuro do
capitalismo praticado por nossos patrícios.
Por fim, o que não surpreende é o fato das grandes
empresas envolvidas nos escândalos de corrupção dos últimos anos serem citadas
espontaneamente como vilãs e inimigas da responsabilidade corporativa.
Um comercial antigo dizia: “imagem não é nada, sede
é tudo”! Claro, era um anúncio de bebida, mas nada mais longe da realidade
imagem é sim tudo e muito mais.
Neste mundo altamente interconectado para se ter
uma boa imagem é preciso fazer tudo certo cada vez mais de maneira cidadã, com
responsabilidade crescente nos quesitos social e da sustentabilidade.
Não atuar
desse modo, começa assim como mostra a pesquisa, de uma lembrança ruim segue
rapidamente para a rejeição do consumidor. Uma coisa leva a outra, rumo à
extinção e lembranças nada agradáveis.
*Reinaldo Canto é jornalista, Membro do Conselho
Editorial da Envolverde – Revista Digital, colunista de Carta Capital,
ex-diretor de Comunicação do Greenpeace Brasil e do Instituto Akatu, além de
professor e especialista em sustentabilidade.
Fonte: ENVOLVERDE
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