Estratégias
de consolidação da cadeia da castanha-do-brasil são desenhadas no noroeste
mato-grossense.
Autor Sucena Shkrada Resk -
06/07/2017
Por Deroní Mendes, enviada especial do ICV
(Com
colaboração de Sucena Shkrada Resk/ICV)
Com o objetivo de fortalecer as organizações
sociais, construir alianças e melhorar a renda e a qualidade de vida das
pessoas e grupos que trabalham com a castanha-do-brasil na região noroeste
mato-grossense, foi realizado no município de Juruena, Mato Grosso, entre os
dias 21 e 22 de junho, o Seminário Desafios e Potencialidades da Cadeia da
Castanha-do-Brasil no Noroeste de Mato Grosso. Mais de 100 pessoas participaram
do evento, sendo cerca de 60, indígenas dos povos Apiaká, Cinta Larga, Kayabi,
Munduruku e Rikbaktsa, além de extrativistas da Reserva Extrativista
(Resex) Guariba-Roosevelt, agricultores familiares e representantes de
organizações não governamentais (ONGs) e dos governos federal e municipais.
O encontro foi o pontapé inicial para a
criação de uma rede de cooperação mútua, cujo objetivo é traçar uma estratégia
conjunta de cooperação para intervenções e repartição de benefícios entre as
organizações, com vistas na consolidação da cadeia de valor desta matéria-prima
abundante na região, por meio da cooperação e governança entre participantes da
coleta, do beneficiamento e da comercialização. Ao mesmo tempo, o intuito é
mapear ações e políticas públicas voltadas para este público
e estratégia conjunta.
O seminário foi uma realização da Associação
de Desenvolvimento Rural de Juruena (Aderjur), do Instituto Centro de Vida
(ICV) e do Pacto das Águas.
Histórico desde os anos 90
Os primeiros trabalhos de comercialização da
castanha no noroeste datam da década de 1990. Neste período, indígenas da etnia
Rikbaktsa vendiam o quilo da castanha-do-brasil na ponte do rio Juruena,
nas proximidades da entrada do município de Juína. Desde então, muita
coisa mudou. A matéria-prima foi valorizada, não apenas na região, mas
principalmente fora do estado.
Atualmente, o município de Itaúba, na região norte,
é reconhecido como maior produtor de castanha-do-brasil no estado. O noroeste
mato-grossense está se fortalecendo para se potencializar regionalmente neste
sentido, por meio de um arranjo produtivo local. A maior parte do escoamento da
produção, entretanto, ainda é de comercialização in natura para outros
estados. Existem desafios a superar, entre eles, a dificuldade de acesso aos
castanhais, aliada à pouca organização dos grupos que atuam na coleta em
relação à comercialização. Também há falta de recursos financeiros para a
formação de estoque, o que deixa coletores suscetíveis à ação dos atravessadores
que pagam baixo preço pelo produto.
“Esperamos, a partir deste encontro, formar
uma rede, na qual possamos ‘fugir’ dos atravessadores, por meio do
fortalecimento das associações”, destacou Antônio Vieira de Mello Neto, técnico
florestal da Cooperativa Vale do Amanhecer (Coopavam).
Marcelo Munduruku, liderança indígena da etnia,
reforçou a expectativa de que o evento possibilite a troca de conhecimento para
levar a melhoria às comunidades. “Se nós encontrarmos mais parcerias, será que
a base vai querer continuar vendendo para atravessadores? Acreditamos que não”,
destacou.
Partindo dos anseios dos participantes em relação
aos resultados do evento, cada grupo e organização, de forma conjunta,
mapeou as principais fortalezas e fraquezas do segmento, desde a coleta à
comercialização, e refletiu sobre caminhos para superar estes desafios.
O encontro também teve uma parte de campo, com
visitação às fábricas de beneficiamento da castanha-do-brasil da
Cooperativa Vale do Amanhecer (Coopavam) e da Associação de Mulheres Cantinho
da Amazônia (Amca). Ambas são organizações de base comunitária que compram e
beneficiam a castanha coletada por agricultores, extrativistas e indígenas da
região noroeste e comercializam para outros estados e dentro de MT. No
espaço, puderam observar o processo de beneficiamento e tirar dúvidas com os
responsáveis sobre o processo.
Alternativas de financiamento
O Seminário ainda marcou o lançamento do “Fundo
Rotativo Solidário Sentinelas da Floresta”, criado com apoio financeiro
da Climate and Land Use Alliance (Clua). O aporte financeiro é da ordem de
R$ 400 mil e será administrado pela Associação de Desenvolvimento Rural de
Juruena (Aderjur) e repassado para que a Amca e a Coopavam
firmem contrato com as associações de coletores para a aquisição de
produtos. Ficou estabelecido que, neste acordo, haja repartição justa dos
benefícios da agregação de valor da castanha com os grupos de coletores.
As organizações, desta forma, adquirem empréstimo
do fundo e reembolsam com uma taxa de juro baixa, equivalente à praticada no
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), para formação de estoque. “Assim corta o caminho dos
atravessadores. Pois hoje, a regra é a seguinte: quem chega primeiro com o
dinheiro, leva a castanha”, esclarece Solène Tricaud, coordenadora da
Iniciativa de Desenvolvimento Rural Comunitário do ICV, que teve o papel de
facilitador na aproximação desses grupos de coletores e beneficiamento, que
recebem apoio de diversos projetos, desde 2001.
Veja também:
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Cadeia socioprodutiva da castanha-do-brasil, no noroeste mato-grossense, é tema de seminário em Cotriguaçu
Fonte: ICV
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