ECO21 – O
dragão da maldade quer queimar o mundo.
Num indignado testemunho logo depois que Donald
Trump abandonara o Acordo de Paris, o ex-vice-Presidente Al Gore escreveu:
“Remover os Estados Unidos do Acordo de Paris é uma ação imprudente e
indefensável. Isso prejudica a posição dos EUA no mundo e ameaça danificar a
capacidade da humanidade de resolver a crise climática no tempo”.
A fúria ensandecida de Trump contra todas as
iniciativas ambientais e de saúde do Governo Obama não foi uma surpresa. Ele já
tinha prometido acabar com a “invenção chinesa” do aquecimento global. Nesse
sentido, nunca foi mais explícita a profecia de Glauber Recha ao criar o
personagem Antônio das Mortes, o dragão da maldade, o matador de cangaceiros,
uma figura detentora de seu próprio misticismo, que acreditava ser necessário
livrar o mundo dos males e que somente ele poderia ser esse justiceiro
predestinado capaz de negar todas suas faltas.
Trump é esse dragão da maldade que pode levar o
mundo para uma hecatombe nuclear. A retirada de Trump do Acordo de Paris não
foi incoerente. Ele simplesmente deu ênfase a uma política tradicional que
levou os EUA a subverter as iniciativas multilaterais que conduziam a enfrentar
os problemas globais, entre eles o aquecimento.
É bom lembrar que os EUA não são parte do
Protocolo de Kyoto que dispõe de compromissos vinculantes para a redução da
emissão dos gases de Efeito Estufa; nem de muitos outros instrumentos mundiais
como a Convenção sobre Biodiversidade; o Protocolo de Cartagena sobre
Biossegurança, que protege a biodiversidade e a saúde humana de potenciais
riscos causados pela transferência, manipulação e uso de organismos
geneticamente modificados; o Protocolo de Nagoya, que regulamenta o acesso a
recursos genéticos e a repartição justa e equitativa dos benefícios advindos de
sua utilização; nem da Convenção de Basileia, sobre o movimento
transfronteiriço de resíduos perigosos, etc. O governo estadunidense sempre
alegou que esses instrumentos jurídicos prejudicam seus interesses econômicos.
Robert Hutchison, ativista ambiental, ao fazer
uma relação entre Trump e o Brexit, disse: “o surgimento do nacionalismo
econômico e do populismo anticientífico criou um contexto inquietante no qual
as mudanças climáticas devem ser pensadas e enfrentadas. Enquanto para a
maioria das pessoas que estudam o assunto, a ciência das mudanças climáticas é
complexa, mas clara o suficiente para não nos paralisar, e a economia da
transformação de energia sem os combustíveis fósseis é convincente, a política
permanece enganosa e difícil: temos a tecnologia dos deuses e a política das
pessoas narcisistas”.
Ao mesmo tempo, as forças progressistas avançam
por caminhos inesperados. O presidente francês Emmanuel Macron participou de
uma iniciativa que vai além do Acordo de Paris, o projeto de um pacto mundial
pelo meio ambiente que num futuro próximo seria um Tratado internacional
adotado pela Assembleia-Geral da ONU. A ideia é reunir num único texto todos os
grandes princípios internacionais do direito ambiental e lhe conferir um
caráter obrigatório, passível de ser controlado pela justiça internacional.
Este acordo completaria o arcabouço jurídico constituído por tratados, acordos
e convenções adotados pela ONU, além de um sobre os diretos civis e políticos
e, outro sobre os diretos econômicos, sociais e culturais. A iniciativa quer
acabar com o uso das fontes fósseis e nucleares de energia, além de controlar
radicalmente os agrotóxicos e os OGMs.
Depois que Trump anunciou que os EUA abandonariam
o Acordo de Paris, vários Estados, cidades e empresas reiteraram seus
compromissos para reduzir as emissões. Nesse caminho, uma iniciativa de Michael
Bloomberg apresentada na COP-21, criou uma Força-tarefa para incentivar
empresas a quantificarem os riscos climáticos do ponto de vista financeiro. O
relatório final será apresentado aos líderes do G20 no encontro de cúpula
marcado para Julho em Hamburgo.
A iniciativa já recebeu o apoio de empresas que,
juntas, somam um capital de US$ 3,5 trilhões, e de instituições financeiras
responsáveis por ativos de cerca de US$ 25 trilhões. Essas mais de 100
corporações se comprometeram publicamente a apoiar as recomendações da
Força-tarefa, um ato que comprova a importância da divulgação dos riscos e
oportunidades relacionados ao clima.
Fica então evidente que o dragão da maldade terá,
como no filme de Glauber, um professor que é um santo guerreiro opositor vindo
da ciência, que anulará a visão de um mundo dominado pela política da
destruição.
Trump não conseguirá queimar o mundo.
Lúcia Chayb e René Capriles
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário