Fritjof
Capra: “O universo não pode mais ser visto como uma máquina”.
Observação – Em 2015 o pensador Fritjof Capra
esteve em Cuiabá, a convite do Centro SEBRAE de Sustentabilidade para
participar do congresso CICLOS. Resgatamos essa matéria para dar uma dimensão
da importância e da qualidade desse evento, que tem sua edição de 2017
começando hoje. –
Por Juliana Arini*, especial para a Envolverde –
A verdadeira sustentabilidade requer uma
transformação de paradigmas
“As pequenas empresas têm um importante papel na
construção de um futuro sustentável”, apontou Fritjof Capra, físico, teórico de
sistemas e escritor de vários best-sellers, como o Ponto de Mutação e A Teia da
Vida. Durante palestra no Congresso Internacional de Sustentabilidade para
Pequenos Negócios – Ciclos, realizado pelo Sebrae-MT, em Cuiabá, Capra
enfatizou a necessidade de mudarmos a nossa forma de pensar o mundo para
alcançarmos uma sociedade que funcione de forma sistêmica e sustentável.
Físico e
escritor austríaco Fritjof Capra foi a grande atração do primeiro dia do
Congresso Ciclos Fotos: Rodrigo Lorenzon
“O universo não pode mais ser visto como uma
máquina. O planeta é um sistema vivo e auto regulado, tal qual uma dança
colaborativa formada por todos os organismos e formas de vida envolvidos. Se
pensarmos no açúcar, por exemplo, não são as suas partículas que geram o seu
sabor doce, e sim o relacionamento de todas as suas substâncias. Assim é a vida
também. O todo é maior que as partes e tudo está interligado pelas redes da
vida”, explica.
Para Capra, podemos vencer desafios como a crise
energética, a escassez dos recursos hídricos e as mudanças climáticas, se nos
tornamos pensadores sistêmicos, voltados para compreendermos como a natureza
sustenta a vida. “A capacidade de adaptabilidade e mudança são as grandes
características dos sistemas vivos. São essas qualidades que podem salvar a
nossa sociedade e ajudar as empresas e os governos a construírem uma nova
economia”, explica.
Abandonar o pensamento linear, voltado apenas para
o lucro e o crescimento ilimitado, seria o primeiro passo. Capra enfatizou o
papel das pequenas e médias empresas nesse contexto. “Elas possuem muito mais
facilidade para transformarem a sua forma de produção e criarem soluções
inovadoras nos campos do ecodesign e da geração de energia”, afirma. “Existe
mais agilidade e autonomia nesses negócios, pois as decisões não dependem de
autorização de conselhos e diretorias. Elas simplesmente podem trilhar novos
caminhos de forma autônoma”.
Palestra
com Fritjof Capra. Foto: Rodrigo Lorenzon
O físico relembra que tal como as soluções, os
problemas que enfrentamos estão interligados. “Para resolvermos a questão da
pobreza devemos mudar a forma de lidar com a água e produzirmos alimentos. Um
caminho leva ao outro. É como na agricultura, que se abandonar o formato agroindustrial
em larga escala e voltar-se para o modelo orgânico poderá ajudar a superarmos
problemas como o esgotamento do solo e dos recursos hídricos”, explica.
A sociedade e o governo também possuem um papel
fundamental para a construção de um futuro sustentável. “Crescer é uma
característica da natureza. Mas, precisamos que esse crescimento seja limitado.
Alguns sistemas precisam parar de crescer para que outros floresçam, em um
ciclo de geração e regeneração, como em uma floresta. Mas, essa auto-regulação não
virá do atual sistema econômico, e sim dos governos, que só vão trilhar esse
caminho se forem pressionados pela sociedade. Como disse o Papa Francisco na
encíclica Laudato si, o cuidado com a nossa casa comum, o planeta, é uma
responsabilidade de todos”, conclui.
* Juliana Arini é jornalista da Envolverde
especial para o Ciclos.
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