Uso do
carvão enraíza a pobreza.
Por Lyndal Rowlands, da IPS –
Nações Unidas, 22/11/2016 – Os danos causados à
população mais pobre do mundo pela energia gerada a partir do carvão é maior do
que a ajuda que proporciona. E isso sem contar os efeitos devastadores da
mudança climática, destaca um informe publicado por 12 organizações
internacionais de desenvolvimento.
Apesar dos compromissos assumidos no Acordo de
Paris sobre mudança climática, a temperatura global média pode aumentar em dois
graus Celsius com a construção de apenas um terço das centrais a carvão
previstas, afirma o estudo. E alerta que, além disso, “se o mundo ultrapassar o
limite, as consequências serão desastrosas para a luta global contra a pobreza.
O informe Beyond Coal: Scaling up Clean Energy
to Fight Poverty (Além do Carvão: Aumentando a Energia Limpa Para Lutar
Contra a Pobreza) foi publicado por Instituto de Desenvolvimento Exterior
(ODI), Cafod, Christian Aid e outras nove organizações antes da 22ª Conferência
das Partes (COP 22)da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança
Climática, realizada entre os dias 7 e 18 deste mês, em Marrakesh, no Marrocos.
Ilmi Granoff, um dos autores do documento, opinou à
IPS que o carvão “enraíza a pobreza”, em contraposição ao discurso da
indústria, de que os combustíveis fósseis contribuem para o crescimento
econômico. Mas reconheceu que o fechamento de algumas usinas a carvão causou
certas dificuldades econômicas, embora destacando que a pesquisa concluiu que,
no geral, as energias renováveis geram “mais emprego por unidade”.
“A própria Associação Mundial do Carvão estima que
a indústria emprega sete milhões de pessoas no mundo”, apontou Granoff, e
pouco menos de 9,4 milhões já trabalham na cadeia de fornecimento de
energia renovável.Segundo o especialista, “é importante reconhecer que reduzir
o uso do carvão tem um impacto no emprego, porque em alguns lugares as pessoas
dependem dessa indústria e é necessária uma transição justa. E, quanto às
perspectivas futuras, a energia renovável oferece melhores oportunidades de
emprego: mais trabalho e mais qualidade em escala global”.
Terminal portuário da companhia carbonífera
Prodeco, na cidade caribenha de Santa Marta. Foto: Juan Manuel Barrero/IPS
Além disso, os argumentos de que o carvão pode
ajudar as pessoas mais pobres a terem acesso a energia não tem sentido,
destacou Granoff. O informe também conclui que as fontes alternativas já podem
cumprir as “necessidades específicas de lutar contra a extrema pobreza e a
pobreza energética”, acrescentou. Também lembrou que o carvão assenta a
pobreza, ao causar problemas de saúde, como asma e ataques cardíacos.
“Estima-se que uma usina de apenas um gigawatt
causou 26 mil mortes prematuras na Indonésia enquanto esteve operacional”,
disse Granoff. Além disso, destacou a importância de se reconhecer as
consequências negativas de longo prazo que o carvão terá, especialmente para as
pessoas e os países mais pobres, pois contribuem para o aquecimento global.
O impacto da mudança climática nos países em
desenvolvimento e nas pessoas mais pobres foi um dos temas centrais em debates
da Organização das Nações Unidas (ONU), como a COP 22, em Marrakesh. As nações
em desenvolvimento argumentam que os países mais ricos têm a responsabilidade
de limitar as consequências do aquecimento planetário nos Estados mais pobres,
onde, por outro lado, o impacto será desproporcionalmente maior, pois a
variabilidade climática é imprevisível e grave, e isso apesar de terem
contribuído muito pouco nas emissões contaminantes que causam o fenômeno.
E essa é precisamente uma das razões mais
importantes para que os países mais ricos comecem o processo de fechamento das
usinas geradoras de energia movidas a carvão, pontuou Granoff. Em geral, a
tendência é a redução dessa fonte de energia em muitas nações ricas, mas se
mantém em países como Austrália e Estados Unidos. E, na verdade, o presidente
eleito norte-americano, Donald Trump, baseou sua campanha em várias políticas
favoráveis ao uso do carvão, com o argumento de que a “agenda ambiental
radical” de Barack Obama matava o emprego e prejudicava a economia.
É certo que muitas das centrais a carvão estão na
Ásia, especialmente em grandes centros consumidores como China e Índia, e a
mudança climática e a contaminação aérea obrigou esses países a reavaliar sua
dependência dessa fonte de energia. Granoff informou que o governo da China
revisa a construção de algumas das novas usinas movidas a carvão.
Fonte: ENVOLVERDE
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