COP 22:
urgência com a herança de Paris.
Por Carolina de Barros –
A COP 22 traz expectativa de novos debates e
especialistas afirmam ser necessário esclarecimentos e ações rápidas para
propostas do Acordo.
A 22°edição da Conferência do Clima das Nações
Unidas (COP 22) começou nesta segunda-feira (7), em Marrakech. Centralizada nas
propostas decididas no Acordo de Paris, que foi assinado por 192 países e
ratificado por pelo menos 100, as conferências debaterão novas estratégias para
a mitigação do aumento da temperatura.
Já Délcio Rodrigues, físico e líder brasileiro da
Global Strategic Communication Council (GSSC), vê na conferência deste ano uma
oportunidade para amarrar as pontas soltas deixadas pela última COP. “Essa COP
foi pensada para fazer a regulamentação do Acordo de Paris, então não temos
expectativas de coisas novas, o que a gente espera são medidas para que o
acordo aconteça de verdade”, explica.
Pedro Telles, coordenador de mudanças climáticas do
Greenpeace.
Segundo Rodrigues, uma decisão que ficou incerta
depois do Acordo de Paris é a promessa de que os países mais ricos passariam
recursos para os países que precisam de adaptação às mudanças propostas na COP
21. Seriam repassados US$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, para auxiliar
os governos a lidarem com os impactos da mudança para práticas mais
sustentáveis e com os custos de implantação das alternativas de mitigação.
Mas, até hoje, a questão desse financiamento ainda
não está bem definida e será foco de grandes discussões durante as conferências
deste ano. Depois de Paris, esperavam que esse aspecto do acordo fosse
deslanchar, mas o processo ainda é lento. “Muitas expectativas não foram
atendidas e esse é um ponto que precisa ser resolvido”, diz Rodrigues.
Além disso, a regulamentação das propostas de
mudança é algo que preocupa o físico. “O Acordo de Paris é muito aberto em
algumas questões das promessas estabelecidas por cada país”, afirma. Ele
explica que as propostas, chamadas de National Devolepment Commitments (NDCs),
foram feitas de forma voluntária por cada país, o que dificulta uma mesma base
de comparação para a legislação do Acordo. Como as propostas são muito
discrepantes e usam referencias de datas e níveis de carbono diferentes, é
complicado manter uma base e isso é algo que Rodrigues acredita que precisa ser
definido na COP 22.
Para Telles, a COP em Marrocos servirá como uma
preparação para o processo de inventário que acontecerá em 2018, ainda muito
vago. É um momento no qual os países vão analisar o que foi feito em relação às
promessas acordadas e avaliar o desenvolvimento e as mudanças necessárias a
partir de então, o que gera novas propostas. “É fundamental na nossa visão e na
de todas as ONGs, praticamente, que esse seja um momento de ver o passado mas
também olhar para o futuro e pensar em como aumentar as propostas”, afirma o
coordenador do Greenpeace.
Somando os compromissos estabelecidos por cada
país, as NDCs, ainda haveria um aumento de 3° na temperatura e a intenção é que
o aquecimento atinja no máximo 2°, idealmente só 1,5°. Por causa disso, é preciso
acelerar as iniciativas de mitigação climática e, para que as metas de
estabilização do clima sejam de fato alcançadas, o aumento da ambição das
propostas é fundamental. “Uma parte importante do Marrocos é construir esse
momento para que em 2018 seja uma elevação de ambição”, disse Telles.
O coordenador acredita que também é preciso definir
o que será feito a partir de agora até 2020, quando o Acordo de Paris entra em
vigor. “O acordo, na prática, começa a valer a partir de 2020, mas a ciência
nos mostra que temos que agir mais rapidamente, num prazo mais curto”.
Impactos da COP 22 no Brasil
A expectativa é que o Brasil amplie suas promessas,
mas existem ressalvas para algumas das metas feitas no Acordo de Paris. Uma das
propostas estipuladas pelo país era a de reflorestar 16 milhões de hectares de
área verde. “Essa é uma promessa que, para implantar, precisaria de esforço e
foco do Governo Federal, que não tem isso como prioridade”, diz Rodrigues. Ele
acredita que o cumprimento dessa meta em específico é bastante irreal
analisando a conjuntura atual.
De mesma opinião, Telles explica que o Brasil
retrocedeu em alguns aspectos ambientais, como a recente aceitação de fundos
para carvão, uma das fontes de energia mais poluente. O processo está
aguardando aprovação ou veto do presidente em exercício, Michel Temer. Essa
situação atual reflete em como a delegação brasileira irá se comportar na COP.
“O Brasil deu um passo um pouco para trás com relação a questão climática
nacionalmente, então o pais tem que concretizar o que o Acordo pede”, afirma o
coordenador.
Mas para o físico, Rodrigues, existe um descompasso
entre a política externa e interna brasileira.
“Não quer dizer que o Brasil não
leva para dentro as políticas externas, mas na verdade num lugar como esse
[COP] é mais fácil coordenar as ações e também tem outros pesos para as
decisões”, conta. Ele explica que na política interna há níveis de governo com
diferentes interesses que nem sempre estão de acordo com a determinação
Federal. Também, há conflitos entre os diversos setores econômicos. É algo
difícil de administrar pelas dimensões do país e pelas diferentes fontes
produtoras brasileiras. “Temos contradições sérias que só melhorariam se a
questão climática fosse assumida como uma prioridade federal”, afirma
Rodrigues.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário