A
indústria brasileira e o Acordo de Paris.
João Guilherme Sabino Ometto* –
Na arquitetura do combate ao aquecimento global,
garantia à sustentabilidade do planeta e seus ecossistemas, conquistou-se
expressivo acordo na França, em 2015. Com o êxito da Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a COP21, o
Acordo de Paris foi assinado por 195 países mais a União Europeia. O próximo
passo exigia a sua ratificação pelas partes e a devida apresentação às Nações
Unidas.
João Guilherme Sabino Ometto: é urgente aprofundar
o diálogo nacional entre os atores das cadeias produtivas, governos, ONGs e
sociedade em geral.
Até o momento, do conjunto total dos países, 81
levaram o documento à ONU, inclusive o Brasil, que responde por menos de 2% das
emissões globais. Ao se alcançar o patamar exigido de ratificação que somasse
os responsáveis por, no mínimo, 55% das emissões globais, o que ocorreu em 4 de
outubro, o acordo iria tornar-se efetivo no prazo de 30 dias. Assim sendo,
passou a vigorar plenamente a partir de 4 de novembro deste ano. A data é um
marco para que as nações tomem iniciativas práticas diante de suas metas
estabelecidas.
No País, a estratégia é tornar ainda mais
expressiva a participação de fontes renováveis na matriz energética. No
compromisso brasileiro, as fontes renováveis, além da geração hidráulica,
deverão aumentar de 28 para 45% até 2030, exigindo que a pauta seja
incrementada pelos biocombustíveis e pela energia gerada a partir da biomassa
(bagaço e palha de cana, eucalipto e outras fontes), solar e eólica, reduzindo
a demanda por térmicas a diesel e carvão.
O atual cenário de economia intensiva em carbono
dará lugar, aos poucos, à economia de baixo carbono e instigará o aprimoramento
nos modelos produtivos. Garantir o agronegócio e a indústria sustentáveis será
vital à nossa economia e seu desenvolvimento.
Essa fase de transição irá requerer transferência
tecnológica, um dos seus alicerces, bem como linhas de financiamento, para que
a indústria de transformação seja cada vez menos intensiva em carbono e mais
competitiva. Como impulso, o aporte de recursos financeiros internacionais
oriundos do Fundo Verde (Green Climate Fund) e de outras fontes, internas e
externas, são avaliados como essenciais pelos setores produtivos.
Diante das novas exigências e das oportunidades
acenadas, reforçar e dar clareza às políticas públicas faz parte do processo
para zerar o desmatamento ilegal, priorizar o uso sustentável da agricultura e
da pecuária, restaurar 12 milhões de hectares de florestas e fomentar a implementação
do Código Florestal, com foco na erradicação da fome no País e no mundo. Esses
são compromissos assumidos pelo Brasil em suas metas nacionais (INDC, na sigla
em inglês).
Ao se estimular o debate sobre a precificação do
carbono e a troca de informações tecnológicas e científicas entre os países,
cria-se um ambiente propício à modernização dos processos industriais, com
incentivos à inovação, favorecendo o crescimento e a geração de riqueza de
maneira sustentável.
Há tempos a Fiesp, que representa quase 50% do PIB
industrial brasileiro, vem atuando nos debates mundiais sobre o aquecimento
global, culminando com a criação do seu Comitê de Mudança do Clima, em 2009.
Nesse contexto, a contribuição decisiva da indústria para a redução das
emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) ganha escala a partir da entrada em
vigor do novo acordo, com a necessária contrapartida de transferência de
tecnologia entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Assim, torna-se urgente aprofundar o diálogo
nacional entre os atores das cadeias produtivas, governos, ONGs e sociedade em
geral, no esforço conjunto para se alcançar o crescimento responsável e a meta
comum, para manter-se a elevação da temperatura abaixo dos 2ºC até 2100,
assegurando vigor às obrigações assumidas em caráter global. A pauta de
desenvolvimento sustentável, avaliada como vital pelos setores produtivos,
garantirá a competitividade do Brasil e, por isso, a indústria nacional oferece
seu irrestrito apoio ao Acordo de Paris.
*João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (Escola
de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), é presidente do Conselho de
Administração do Grupo São Martinho, vice-presidente da FIESP e Membro da
Academia Nacional de Agricultura (ANA).
Fonte: ENVOLVERDE
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