Blairo
Maggi, constrangimento na COP 22.
Por Reinaldo Canto, de Marraquexe, no Marrocos –
Em encontro mundial sobre mudanças climáticas,
ministro da Agricultura de Temer ironizou mortes em conflitos agrários.
Blairo Maggi ajudou, na COP 22, realizada em
Marraquexe, no Marrocos, a moldar a nova imagem internacional do Brasil sob o
governo de Michel Temer. Durante o chamado Segmento de Alto Nível do encontro,
que debate as mudanças climáticas no mundo, a chefia da delegação brasileira
esteve a cargo do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, mas quem se
“destacou” foi o ministro da Agricultura.
Maggi: na COP 22 ele reconheceu o aquecimento
global, mas chocou ativistas com algumas de suas declarações.
Na quinta-feira 17, Maggi causou mal-estar ao
contestar as mortes ocorridas em conflitos no campo. O Brasil lidera o ranking
de assassinatos, segundo a ONG Global Witness, com 50 mortes em conflitos
agrários em 2015.
“Só 50”
Para o ministro, esses números não refletem a
realidade, pois muitas dessas mortes foram causadas por motivos que nada teriam
a ver com ativismo ou disputa por terras, “quando se vai fundo nas
investigações, descobre-se que as razões das mortes foram outras”, disse,
citando “problemas de relacionamento” como um dos motivos.
Mais grave, Maggi ironizou as mortes. Em uma
aparente confusão com o número mundial de assassinatos em conflitos agrários
(185 segundo a Global Witness), Maggi disse ter visto uma “redução” de um dia
para o outro.
“Fico feliz em saber que de ontem para hoje
morreram menos 150 ambientalistas, porque ontem ouvi que eram 200 por ano e
agora diz aqui que foram só 50.”
Aquecimento global
Em suas intervenções, sejam elas para o público
brasileiro ou em painéis com representantes estrangeiros, Maggi foi bastante
veemente em defender o agronegócio brasileiro e discordar de posicionamentos
caros aos ambientalistas.
Apesar de reconhecer as mudanças climáticas como
algo “comprovado cientificamente e um grande risco para a produção de alimentos
no país” e sentir na pele, como proprietário rural, “estão quebrando safras
como eu nunca vi antes” e refletir sobre o futuro “como meus filhos e netos vão
fazer agricultura nesse clima?”, Maggi não deixa de contestar as reservas
legais definidas no Código Florestal. O ministério comandado por ele é um dos
principais guardiões dessa legislação.
“Imagine um hotel que tenha 100 quartos, mas que só
possa comercializar 20 unidades. As outras 80 ele tem que manter fechadas”,
fazendo menção às propriedades rurais existentes no bioma amazônico que
precisam manter 80% de suas áreas preservadas. O ministro só não explicou
porque uma lei como essa seria válida para um hotel. Quais razões haveria para
uma interdição absolutamente sem nexo? Já a definição das regras para as
reservas legais foi exaustivamente debatida no Congresso Nacional e faz todo o
sentido no contexto ambiental.
O ministro tem reclamado do posicionamento dos
países ricos quanto à falta de reconhecimento dos esforços brasileiros para
conservar áreas florestais e, portanto, contribuindo para evitar a emissão de
gases de efeito estufa.
Segundo ele, “outros grandes produtores de
alimentos como Estados Unidos, Argentina e Canadá não possuem reservas legais
como nós, mas isso não nos traz vantagens”. Nesse caso, Maggi considera um
problema assumirmos esse “ônus”, enquanto outros países não o fazem e
desconsidera os serviços ambientais prestados pelas florestas, inclusive, para
a produção de alimentos.
Mesmo representando o governo que recentemente
ratificou o Acordo de Paris (assinado por Temer) Blairo Maggi se mostra
preocupado com o que o Brasil se comprometeu. “De onde virão os 40 bilhões de
dólares que deverão custar a restauração de 12 milhões de hectares e a
recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens?”.
Neste caso, Maggi é acompanhado pelos
ambientalistas, que também têm dúvidas quanto à origem dos recursos para uma
demanda dessa proporção.
Para não parecer um estranho no ninho ao fazer
questionamentos às ações previstas para o combate às mudanças climáticas no
Brasil e no mundo em plena conferência do clima, o ministro tentou estender as
mãos aos ambientalistas, cuja ação ele faz questão de elogiar, “produtores e
ambientalistas agora andam juntos”.
Então, estamos todos no mesmo barco. Entendido?
* Reinaldo Canto é jornalista especializado
em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial
e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e
rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de
comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do
Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista
de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.
Fonte; Carta Capital
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