Cop22: Pecuária
brasileira ainda longe das metas de Paris.
Por Carolina de Barros, de Marrakech –
Grupo de especialistas brasileiros discutiu
ações que podem mitigar a emissão de gases estufa e técnicas de adaptação
sustentáveis.
Na terça-feira (8), um evento paralelo da COP 22
teve como tema principal as políticas climáticas brasileiras e como a sociedade
civil está ajudando a delinear atitudes para amortecer essas mudanças. A mesa
foi formada por membros do Observatório do Clima, que analisaram as metas
propostas pelo Governo Federal apresentando as ações que foram tomadas até
agora para atingir esses objetivos ou que precisam ser implementadas com
rapidez.
Carlos Rittl, diretor executivo do Observatório
do Clima, afirmou que o Brasil ainda produz uma quantidade alta de resíduos e
que as fontes energéticas, apesar de estarem mudando, ainda contam com uso de
combustíveis fósseis. Ele explica que um dos grandes problemas é o fato do
desmatamento estar crescendo, diferente da proposta do governo que era de
desatamento zero.
Segundo Rittl, o setor que mais causa emissões de gases
estufa no País é a agricultura, responsável por 69% das emissões. Grande parte
desse valor se deve ao desmatamento que continua a acontecer.
O analista
de clima e agricultura do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e
Agrícola (Imaflora), Cirino Costa, disse que se o Brasil quer diminuir as
emissões precisa repensar a agropecuária, especialmente a criação de gado. A
agricultura remodela as paisagens e isso impacta no aumento da temperatura, por
haver menos espaços de florestas.
Para o analista, recuperar pastos degradados e aumentar
sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) pode ser a solução para
cumprir a meta brasileira em relação à agricultura. A proposta estabelecida na
NDC é que até 2030 as emissões de gases vindas das práticas agrícolas voltem ao
mesmo patamar do ano de 2005. “O governo precisa dar mais crédito para o
agricultor renovável”, afirma Costa.
Ele explica que com desmatamento zero seria
possível diminuir as emissões brasileiras vindas da agropecuária em até 50%.
Além disso, fazendo um uso inteligente da terra – que consiste em aproveitar
propriedades já em uso e realizar uma produção eficiente, sem expandir a
fronteira agrícola para florestas – a produção pode aumentar em até três vezes,
mas de forma consciente. “É possível ter mais ambição nas propostas brasileiras
e não será necessário muito esforço. Só fazer uso inteligente das terras já
desmatadas”, disse Costa.
Adaptações baseadas nos ecossistemas
As mudanças climáticas geram impactos que já
podem ser notados em diversas regiões, inclusive no Brasil. Uma nova maneira de
olhar as adaptações necessárias a esses impactos está sendo estudada e, aos
poucos, implementada no país. Juliana Ribeiro, analista de projetos ambientais
na Fundação Boticário, contou que estudos estão em curso sobre o uso do ecossistema
para reduzir vulnerabilidade de áreas a desastres climáticos, diminuindo os
danos causados pelas mudanças que já acontecem.
Esse tipo de adaptação consiste em métodos de
engenharia verde, que são sustentáveis e servem não só para a conservação, mas
também para que as pessoas tenham lazer e contato com a natureza mesmo no meio
de uma metrópole. Porém, são construções adaptadas a lugares previamente
construídos em cidades ou comunidades litorâneas e, por isso, precisam estar
aliadas a técnicas da engenharia convencional, para que sejam viáveis.
Ribeiro explica que o tipo mais comum de
adaptação baseada em ecossistemas é o de parques lineares. Consistem em áreas
verdes construídas ao redor de rios urbanos, dessa forma, em caso de chuva, o
rio tem pra onde escoar sem causa enchentes.
Já foi construído um modelo desse tipo em
Curitiba, com grande sucesso, e também em outros países, como Coreia do Sul e
Ilhas Fiji. A dificuldade é que esse tipo de iniciativa pode remodelar o
trânsito ou alterar vias, o que pode diminuir a aceitação, ainda que na prática
os benefícios sejam mais importantes. “A maioria das cidades foi construída na
beira de rios e isso pode se tornar um problema. Mas é preciso educação
ambiental para que a população entenda que esse tipo de mudança é benéfico”,
afirma a analista da Fundação Boticário.
Fonte: ENVOLVERDE
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