COP22: “E
agora, José”?
Por Carolina de Barros, de Marrakech, especial para
a Envolverde –
O Greenpeace Brasil produziu um relatório com as
perspectivas do País no futuro e o que o aquecimento global vai causar em
terras brasileiras.
Durante a COP 22, o Greenpeace Brasil divulgou um
relatório chamado “E agora José?”, que traz projeções dos impactos do
aquecimento global no País. Apesar da meta do Acordo de Paris ser limitar o
aumento da temperatura a no máximo 1,5ºC, as medidas acordadas nos levariam a
um planeta até 3ºC mais quente. E o pior, mesmo se conseguirmos limitar o
aumento, ainda assim haverá impactos severos.
Paulo Adário, membro do Greenpeace International,
afirma que para impedir aumentos severos de temperatura, precisamos reduzir e
acabar com as emissões, principalmente no setor da agropecuária. “Precisamos
parar de só falar e fazer mais. As NDCs brasileiras não são ambiciosas o
suficiente”, disse. O relatório foi uma tentativa de resumir os impactos das
mudanças climáticas no Brasil.
Presente na conferência, o Senador Jorge Viana, do
Acre, afirma que o debate sobre o clima perdeu força dentro do Congresso por
causa da crise econômica no País. “Vivo na Amazônia e já sinto na pele as
mudanças. Precisamos ter uma agenda para isso, é uma agenda nacional e não
ambiental. Assumo aqui o compromisso de levar esse debate para o Senado”, ele
falou. Resta agora esperarmos o posicionamento dos políticos brasileiros e os
pressionarmos para focarem em iniciativas de desenvolvimento sustentável.
Confira as projeções do Greenpeace para cenários de
aumento da temperatura.
Foto: Shutterstock
Aquecimento de 1,4ºC
Se a temperatura subir 1,4ºC vai causar Aumento do
fluxo migratório em até 8%, principalmente no Nordeste, onde as pessoas teriam
que migrar devido ao estresse hídrico. No Rio de Janeiro e Espírito Santo o
aumento do nível do mar irá deixar algumas cidades debaixo d’Água, sendo
necessária a migração dos habitantes. Mato Grosso do Sul e Tocantins também
seriam afetados por temperaturas muito altas e falta de água, levando a saída
da população.
Além disso, o Brasil enfrentará problemas com a
produção de energia. O aquecimento irá impactar as bacias das hidrelétricas, o
que vai aumentar os custos. A Bacia do Amazonas perderá 72% da sua vazão,
enquanto a Bacia do São Francisco e de Itaipu diminuirão a vazão em 41% cada.
Aquecimento de 3ºC a 4ºC
Nesse caso, haveria uma perda de R$ 278 bilhões com
eventos extremos, segundo o relatório divulgado pelo Greenpeace. O calor
aumentará a área de disseminação de doenças tropicais, como dengue,
chikungunya, leishmaniose e malária. Maiores períodos de seca, que afetarão
principalmente idosos e crianças, com diarreia e desnutrição. Muitas áreas sofreriam
desertificação, causando migração de refugiados climáticos.
Prejuízos de até R$ 270 bilhões em áreas costeiras
por causa do aumento do nível do mar. No Brasil, Rio de Janeiro e Santos seriam
as cidades mais afetadas, com danos em estações de tratamento de água,
hospitais, transporte público e centros policiais e da marinha. Grande parte
desses estados ficaria submersa.
Com a temperatura 4ºC mais quente do que agora,
haverá aumento de 16% do risco de extinção da biodiversidade brasileira. Também
causará a extinção das abelhas nativas, o que pode levar a um desequilíbrio
ambiental, já que esses insetos são grandes responsáveis pela polinização das
plantas.
Desastres climáticos
Entre 1991 e 2010, segundo dados da segurança
pública divulgados pelo Greenpeace, cerca de 96 milhões de brasileiros foram
afetados por desastres climáticos e houveram 2475 mortes. A maior parte dos
desastres estavam relacionados a inundações ou seca extrema.
No entanto, entre 2001 e 2010, foi registrado um
aumento de 168% dos desastres em relação à primeira década analisada
(1991-2001). Isso se deve ao aumento que já ocorreu na temperatura e, portanto,
a tendência é que desastres aconteçam com cada vez mais frequência.
Impacto na Amazônia
Na Amazônia, o aquecimento acontece de forma mais
rápida. Caso aumente 2ºC na temperatura global, significa um acréscimo de 5,4ºC
na temperatura da floresta amazônica. Com as medidas atuais, a expectativa do
Greenpeace é de um aumento de até 8ºC na Amazônia, situação que levaria a
savanização da floresta. Um cenário péssimo, que significa perder espécies,
biodiversidade e árvores. Seria trocar a maior floresta tropical do mundo e
caminhar rumo a uma paisagem mais desértica.
Fonte: ENVOLVERDE
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