Hidrelétricas:
O futuro energético ainda dependerá delas?
Por Caroline Ligório, de Marrakech, especial
para Envolverde –
Reduzir a emissão dos dos GEEs (gases de
efeito estufa) em 37% em 2025 e em 43% em 2030, , números estimados em relação
a 2005, segundo definido no Acordo de Paris ratificado recentemente,
exigirá uma série de ações, mas também de novas escolhas. Isso
significa que, não só em Marrakech, durante a realização da COP 22, mas pelos
próximos anos, o Brasil deverá buscar as melhores soluções para cumprir com a
meta prevista na sua NDC.
O sistema energético brasileiro é atendido
fundamentalmente pela geração hidrelétrica, complementado por usinas térmicas e
fontes renováveis, como a energia eólica, a energia solar, as pequenas centrais
hidrelétricas (PCHs) e também por meio da da biomassa, principalmente o obtido
do bagaço de cana. De toda maneira, ainda se aposta na- hidroeletricidade como
a matriz energética com maior probabilidade para atender o crescimento
econômico esperado para os próximos anos, em termos de custo (competitividade
econômica), viabilidade ambiental, índice de emissões de gases do efeito estufa
e confiabilidade no suprimento.
Sendo o quarto maior potencial hidrelétrico do
mundo, atualmente a participação da geração hidrelétrica na produção de energia
elétrica consumida no país é de aproximadamente 80%. Informações oficiais
de fonte do Ministério de Minas e Energia indicam que qualquer substituição
desta forma de energia refletiria em aumento substancial da parcela de geração
na conta de luz dos consumidores, uma vez que, os custos de geração da energia
hidrelétrica são inferiores aos preços de outras fontes.
Em relação à emissão de poluentes, segundo dados do
Ministério de Minas e Energia, a cada MWh (megawatt hora) gerado, o fator de
emissão de CO2 emitido pelas hidrelétricas corresponde a 0.02, o que a
colocaria como a menos poluidora, enquanto que o valor referente a termelétrica
a gás natural é de 0.45, a óleo é de 0.9 e a carvão 1.10, maior poluidora entre
as quatro.
A megacentral hidrelétrica de Itaipu. Foto: Mario
Osava/IPS
No entanto, apesar das facilidades apontadas pelo
Ministério, este ainda encontra uma dificuldade: harmonizar a preservação
ambiental com a exploração dos potenciais de energia hidráulica, principalmente
na Amazônia, região do país com maior potencial a ser explorado. Esta
dificuldade põe em cheque os benefícios da matriz energética, pois, para a
instalação da infraestrutura necessária, gera-se alto impacto ambiental, entre
eles, podem-se destacar os impactos na fauna e na flora, a inundação de áreas
pela criação de reservatórios, a realocação de moradores nas áreas do projeto e
as perdas de acervos patrimoniais e culturais.
Referente aos danos que a construção da
infraestrutura acarreta, fonte do Ministério de Minas e Energia afirma: “Nos
estudos e nos projetos do setor elétrico, são obrigatórias na legislação ações
preventivas para mitigar esses impactos e preservar a qualidade ambiental
dessas áreas, contemplando saúde pública, educação, saneamento, segurança,
habitação e a preservação da biodiversidade, entre outras”.
Dentre os benefícios da instalação de
hidrelétricas, informações oficiais de fonte do Ministério de Minas e Energia
enumeram: o desenvolvimento econômico e social da região; o aumento da demanda
por serviços, que geraria oferta de empregos para toda a população; aumento da
renda e melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade; o crescimento da
arrecadação de impostos, que proporcionaria aumento da capacidade de
investimentos para as áreas de saúde, educação, segurança e bem estar da comunidade.
Após a estabilização da área do empreendimento, especificamente do
reservatório, criam-se novas oportunidades de atividades comercias, como
turismo, irrigação, pesca e navegação.
Ainda de acordo com a fonte do Ministério de Minas
e Energia, desconsiderar esse potencial energético é abrir mão de uma energia
renovável, limpa e inesgotável. A energia das hidrelétricas proporcionaria uma
vantagem econômica aos brasileiros, pois o país tem a expertise de toda a sua
cadeia produtiva, não dependendo de tecnologias de outros países. Além do mais,
é considerada uma energia barata que favorece os produtos brasileiros numa
competição com outras nações.
Se por um lado ela pode ser vista por um espectro
positivo, há quem defenda o investimento em outra fonte energética, uma vez
que, acredita no impacto negativo social e ambiental. Alice Amorim,
colaboradora do grupo Gestão de Interesse Público, acredita que há várias
fontes energéticas ainda não exploradas no Brasil, com externalidades negativas
muitos menores quando comparadas com a energia de hidrelétricas. Entre estas
fontes, Amorim aponta a solar e a eólica.
O argumento da promoção de benefícios tanto para a
comunidade local, como para o país, é refutado por Amorim: “O argumento outrora
de geração de emprego, da promoção de “desenvolvimento” não se verifica na
prática. Com um modelo de distribuição de demanda tão concentrado nas grandes
cidades do sudeste, não faz sentido criar um sistema que não contribui para uma
maior autonomia e descentralização de geração de energia”. O custo mais barato
do KWH de hidrelétricas não justificaria e compensaria o preço da
biodiversidade perdida. O custo mais elevado de energias como a eólica e solar,
poderiam vir não só do dinheiro público, mas da iniciativa privada também, afirma
Amorim.
Paulo Adario, estrategista Sênior de Florestas do
Greenpeace, compartilha da opinião de que a hidrelétrica como principal matriz
energética não é a solução para o Brasil. Para ele, o país não precisa expandir
as fontes de energia hidráulica. “As hidrelétricas são caríssimas, têm profundo
impacto ambiental. Se nós alagamos as áreas permanentes, se mudarmos o fluxo do
rio, provocaremos um impacto gigantesco na diversidade de animais. Com a
discussão do clima, não estamos só salvando a nossa espécie e tentando parar
com este desastre climático. Estamos salvando todas as espécies que estão sendo
ameaçadas pela nossa existência e expansão do homem sobre a terra”.
A geração do emprego durante o processo de
construção da hidrelétrica é tido como um efeito colateral para Paulo, uma vez
que, as pessoas que chegam a cidade geram desmatamento para se instalarem, como
na cidade de Altamira, com a construção da hidrelétrica de Belo Monte e
posteriormente deixam a cidade. Adario reforçou a importância de uma autoridade
brasileira, como o Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, ter afirmado
durante a COP 22 que as hidrelétricas não são uma solução para a Amazônia.
O potencial brasileiro em relação a energia
solar, a bioenergia, a biomassa e a energia eólica são opções apontadas como
energias a serem priorizadas para se ter uma energia limpa. Para que no quadro
energético brasileiro prevaleça as energias renováveis, o país precisa fazer
mudanças:“ A energia solar ainda tem custos altos, mas que estão desabando muito
rapidamente. A China tem produzido placas solares cada vez mais baratas, mas o
Brasil precisa começar a produzir suas próprias placas solares e diminuir os
impostos. Por ser uma energia renovável, não é justo que pagamos mesmo impostos
quando comparada com energias sujas”.
O Brasil indica que buscará alternativas limpas,
tendendo a reduzir as energias mais poluentes. O veto do presidente Michel
Temer referente ao artigo inserido na Medida Provisória 735, que propunha a
criação de um programa de modernização do parque termelétrico brasileiro movido
a carvão mineral nacional para implantar novas usinas que entrassem em operação
a partir de 2023 e até 2027, surge como uma ação com intuito de cumprir com a
redução de poluentes assumida na ratificação do Acordo de Paris.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário