Nasa revê
dados de temperatura global.
Por Claudio Angelo, do OC –
Inclusão de dados da Antártida na série mostra que
tendência de recordes históricos globais iniciada em 2015 foi interrompida em
junho; 2016, porém, ainda ruma para ser o ano mais quente.
Anomalia de temperatura da Terra em setembro. Imagem: Nasa
Enfim uma boa notícia nos registros mensais de
temperatura da Terra feitos pela Nasa, a agência espacial americana. Em 2016,
cada mês vinha sendo o mais quente já medido na história, por larga margem. Os
dados de setembro, divulgados nesta segunda-feira (17), mostram algo diferente:
sim, ainda foi o setembro mais quente de todos os tempos. Mas por uma pequena
margem desta vez.
Segundo as medições do GISS (Centro Goddard de
Estudos Espaciais), setembro de 2016 foi apenas 0,004oC mais quente que o
segundo colocado, setembro de 2014. Isso põe os dois meses estatisticamente
empatados na série de 136 anos de registros mensais de temperatura combinada da
superfície terrestre e oceânica.
A causa dessa súbita alteração de padrão não foi
uma desaceleração do aquecimento global, mas sim uma mudança na forma como os
dados são compilados – que tem tudo para causar polêmica quando for divulgada
mais amplamente nos EUA, a partir desta terça. Essa mudança foi comunicada
discretamente, no meio de uma nota à imprensa no site do GISS.
O que a Nasa fez foi atualizar sua série mensal,
incluindo dados da Antártida. Quando isso aconteceu, as temperaturas globais
caíram. A tendência verificada nos últimos 12 meses, de um recorde global atrás
do outro, na verdade foi interrompida em junho: aquele mês foi “apenas” o
terceiro junho mais quente da série histórica, atrás de 2015 e 1998. Em vez de
0,80oC, ele foi 0,75oC mais quente que a média entre 1951 e 1980. Portanto,
tivemos nove meses seguidos de recordes (a tendência foi retomada em julho e
agosto, muito mais quentes que todos seus antecessores). Mesmo assim, 2016
ainda segue sua trajetória inabalável rumo ao alto do pódio de ano mais quente
de todos tempos desde o início das medições.
“Os rankings mensais são sensíveis a atualizações
no registro, e nossa última atualização mudou o ranking de junho”, justificou o
diretor do GISS, Gavin Schmidt, no comunicado à imprensa.
“Continuamos a
ressaltar que, embora os ranking mensais sejam notícia, eles não são nem de
longe tão importantes quanto as tendências de longo prazo.”
Se o efeito das temperaturas antárticas no registro
global foi pequeno, o impacto de relações-públicas pode não ser, às vésperas da
eleição presidencial. Não deverá faltar, entre os cada vez menos numerosos
partidários do negacionista do clima Donald Trump, quem acuse a Nasa de
“mentir” sobre a série histórica. Não se espante se algum gaiato vier com um
“Nasagate” por aí.
A correção nos dados e sua divulgação (envergonhada,
mas transparente), no entanto, mostra uma força da ciência, e não uma fraqueza.
Mostra que, longe de ser monolítica e professar verdades inabaláveis, a ciência
é permeável a atualizações e correções. Diferente do discurso dos negacionistas
da mudança climática.
Fonte: Observatório do Clima
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