A
Amazônia que arde.
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Aquecimento da Terra e mega-El Niño tornaram 2016
um dos anos mais secos da história na floresta, causando incêndios extensos;
leia reportagem especial publicada pelo Ipam.
Por Karinna Matozinhos*
O ano de 2016 caminha para ser o mais quente já
registrado. Enquanto isso, no Brasil, um dos El Niños mais intensos das últimas
décadas exacerbou a estação seca em boa parte da na Amazônia.
Quando esses dois quadros se juntaram ao uso
inadequado do fogo nos últimos meses, vastos quinhões da Amazônia arderam, com
graves consequências para as populações, para a economia e para a natureza.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), a área queimada na região em setembro1 chegou a 54,5 mil quilômetros
quadrados, maior do que o Estado do Rio – extensão pouco menor do que em
setembro de 2015, contrariando previsões iniciais de potencial recorde neste
ano.
Nem por isso há o que se comemorar: largas áreas de
vegetação foram incendiadas. “Sabemos que está ocorrendo o aumento da estação
seca na Amazônia e uma alteração no ciclo hidrológico, mas ainda não sabemos
direito as causas”, diz o cientista Paulo Artaxo, professor na Universidade de
São Paulo (USP) e conselheiro do IPAM.
Estresse
De acordo com dados da NASA (agência espacial
norte-americana), o solo da floresta amazônica está menos úmido em 2016 do que
em 2005 e 2010, dois anos que também registraram secas extremas².
A área queimada no bioma aumentou 110% em 2015 em
relação à área queimada em 2006, segundo cálculo baseado em informações do
Inpe. Enquanto isso, a área de corte raso caiu 56%, ficando estacionada ao
redor de 5.000 km2.
Em todo o mundo, as regiões de floresta tropical
têm aquecido em média 0,26°C por década desde meados de 1970. “A Amazônia está
sofrendo um processo de estresse hídrico devido ao aumento de 1,5°C no último
século”, explica Artaxo. “Ao ter um ambiente com uma temperatura alta se
aproximando de limiares, isso pode trazer uma fragilidade maior para a região.”
Quando diferentes forças – atividades humanas, como
mudança no uso do solo e emissões de CO2, mais fatores naturais, como El Niño –
atuam sobre uma mesma região ao mesmo tempo, pesquisas científicas combinadas a
políticas públicas precisam ser prioritárias.
“Políticas públicas de longo prazo, monitoramento,
presença do Estado e governabilidade estadual são essenciais para definir os
próximos rumos do ambiente e da população como um todo”, diz o cientista. “Uma
estratégia muito importante para o país é melhorar o monitoramento ambiental
dos processos que estão acontecendo na Amazônia. Mudanças no uso do solo são só
a primeira alteração ambiental numa cadeia muito grande – é preciso monitorá-la
completamente.”
* Edição: Cristina Amorim.
Fonte: Ipam
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