Floresta
biodiversa produz mais.
Floresta altamente biodiversa e produtiva na
Amazônia. Foto: Claudio Angelo/OC.
Por Claudio Angelo, do OC –
Análise de matas de 44 países feita por grupo internacional
mostrou que capacidade de fixar carbono e produzir madeira está diretamente
ligada ao número de espécies.
Um grupo internacional de pesquisadores acaba de
dar a primeira demonstração em escala global de que quem se preocupa com o
clima precisa também se preocupar com a conservação da biodiversidade. Eles
estudaram florestas em 44 países e concluíram que, quanto mais elas perdem
espécies, menos conseguem fixar carbono. Não apenas isso: o benefício global da
biodiversidade para a manutenção da produção de madeira foi estimado em US$ 396
bilhões a US$ 579 ao ano, cinco vezes mais que o custo da conservação.
O estudo, liderado por Jingjing Liang, da
Universidade da Virgínia Ocidental, nos EUA, foi publicado nesta quarta-feira
na edição on-line da revista científica Science. Ele envolveu um pequeno
exército de pesquisadores – 85 ao todo –, que analisaram dados de 777 mil
parcelas de florestas em todos os continentes, da Amazônia ao Nepal, da
Califórnia ao Congo. No total, foram 30 milhões de árvores inventariadas, de
8.737 espécies diferentes.
Tanto esforço foi para buscar responder se algo que
vários estudos já vinham mostrando aqui e ali – que a biodiversidade está
diretamente relacionada à produtividade de uma floresta – era uma verdade
generalizável para os bosques de toda a Terra.
Recentemente, por exemplo, trabalhos do grupo do
biólogo paraense Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido),
mostraram que a riqueza da fauna amazônica está ligada à densidade de carbono
das florestas, e que a caça sistemática tem tornado essas matas mais “ralas” ao
alvejar animais maiores, que dispersam as sementes das árvores de grande porte.
O levantamento global olhou apenas árvores, não
bichos, mas mostrou que a relação é verdadeira em todo o mundo: onde quer que
haja uma floresta, sua produtividade estará fortemente relacionada com sua
biodiversidade. Pela mesma moeda, a perda de espécies e populações reduz o
vigor da mata. “A capacidade de sequestrar carbono vai sendo significativamente
impactada com as extinções locais”, afirmou o ecólogo Daniel Piotto, da UFSB
(Universidade Federal do Sul da Bahia), coautor do novo estudo.
Também ficou claro que o impacto da erosão de
espécies é maior em florestas menos biodiversas, como as temperadas. “O efeito
de perder 25% das espécies na Europa é muito maior do que na Bahia, porque aqui
nós temos redundância funcional [várias espécies que desempenham papéis
semelhantes no ecossistema]” disse Piotto.
Segundo ele, a pesquisa mostra que conservar a biodiversidade
é um ótimo negócio para quem está interessado em proteger o clima, e unidades
de conservação têm um papel importante na fixação de carbono.
Para o trabalho de valoração, que chegou à
estimativa dos US$ 396 bilhões por ano, o grupo usou dados da FAO (órgão da ONU
para Agricultura e Alimentação) segundo os quais a riqueza produzida pelas
florestas do mundo é de US$ 606 bilhões por ano. O impacto médio global das
extinções foi estimado em 2,1% a 3,1% de perda de produtividade para cada 10%
de redução de biodiversidade, o que equivaleria a pelo menos US$ 13 bilhões por
ano.
Um cenário hipotético no qual 99% da diversidade
fosse perdida causaria perdas de 62% a 78% na produtividade, produzindo o valor
mínimo de US$ 396 bilhões para os serviços da biodiversidade.
Os próprios autores do estudo admitem tratar-se de
uma estimativa “grosseira”, mas que sublinha o argumento central: é mais barato
conservar do que correr atrás do prejuízo depois.
Fonte: Observatório
do Clima
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