Diagnóstico do desastre.
Por Redação do Greenpeace Brasil –
Conheça os estudos independentes do seminário Rio
de Gente que vão nortear os debates sobre os impactos sociais e ambientais da
lama no Rio Doce.
Bento Rodrigues engolida pela lama. Foto: Victor
Moriyama/Greenpeace
Pouco mais de um mês após 40 bilhões de litros de
lama da Samarco causar um rastro de 650 km de destruição, a mobilização de
organizações e artistas que gerou o projeto Rio de Gente
conseguiu arrecadas cerca de R$ 450 mil reais em dois shows beneficentes. O
acordo foi que esses recursos seriam investidos em estudos e monitoramento
independentes para avaliar os reais impactos em toda a extensão do Rio Doce.
Agora, um ano depois do desastre, chegou a hora da primeira “prestação de
contas”.
Os seis estudos selecionados nas áreas de água,
fauna, flora, saúde, impacto sociais e direitos humanos, realizados por
pesquisadores de diversas universidades brasileiras, ainda não estão prontos –
a previsão é que as conclusões saiam em janeiro – mas os resultados parciais
serão compartilhados durante o “Seminário Rio de Gente: os desafios
da recuperação do Rio Doce”, que realizaremos nos dias 31/10 e 1/11,
no campus da UFOP, em Mariana (MG).
A intenção é que os novos dados ajudem a alimentar
o debate com especialistas e a comunidade sobre como impulsionar a recuperação
do Rio Doce. “Queremos ter uma discussão com a sociedade para que ela se
aproprie desses estudos e os use em suas reivindicações, tendo mais embasamento
para as medidas de reparação”, diz Fabiana Alves, da Campanha de Água do
Greenpeace.
Em todas as expedições, entrevistas e rodas de
conversa realizadas, as equipes relataram que foram muito bem recebidas, seja
pelos agricultores como os moradores das cidades visitadas. “Isso deixa claro a
carência de apoio e o anseio de respostas por parte da população”, afirma
Fabiana.
Conheça a seguir os objetivos de cada pesquisa e o
que elas pretendem responder.
Que água é essa?
Em julho deste ano, uma equipe de sete
pesquisadores da UFRJ, sob a coordenação do doutor em Biofísica Ambiental João
Paulo Machado Torres, realizou sua primeira expedição para detectar possíveis
contaminações na água usada para irrigação e consumo animal nas propriedades de
agricultores familiares da bacia do Rio Doce. Foram coletadas amostras em 48
pontos diferentes ao longo de 300 km da região para determinar a presença de
metais pesados como chumbo, arsênio, mercúrio, manganês e cádmio.
Ter dados confiáveis é o primeiro passo para
avaliar os impactos reais na vida das pessoas e na natureza. Foto: Todd
Southgate / Greenpeace
O que os animais revelam?
Alguns bichos, por serem tão sensíveis ao lugar que
vivem, funcionam como bioindicadores, ou seja, conseguem transmitir as
condições ou alterações do ambiente natural. É por isso que pesquisadores da
UFBA e da UEFS, liderados pela doutora em Zoologia Flora Juncá, se voltaram com
tanta atenção para girinos, peixes, crustáceos e bivalves (animais que possuem
duas conchas) expostos às áreas de rejeitos em 15 pontos da bacia do Rio Doce.
Após coletar esse animais, eles analisam se esses animais estão acumulando
metais em seus organismos.
Como ter a floresta de volta?
Quando a barragem se rompeu, a onda de lama varreu
e soterrou o que estava pela frente, incluindo a vegetação e áreas agrícolas,
criando uma grossa camada de barro e rejeito de mineração de ferro sobre o solo
original. Qual a forma mais efetiva de recuperar as florestas nessas condições
é o que a pesquisa conduzida pelo doutor em Biologia Vegetal e professor da
Esalq/USP Ricardo Rodrigues e sua equipe pretende avaliar.
Para isso, propriedades rurais da região servirão
de experimento para testar diferentes metodologias de restauração. Elas serão
comparadas, levando em conta os custos de implantação e manutenção e sua
eficiência nas condições ambientais ali existentes. Para isso, integrantes do
Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) se propuseram a conseguir a
mão-de-obra dentro do próprio movimento e as espécies da Mata Atlântica serão
fornecidas por uma empresa de Governador Valadares, cujo viveiro pode produzir
até um milhão de mudas por ano.
Como fazer a floresta rebrotar da lama é um dos
objetivos da pesquisa. Foto: Victor Moriyama / Greenpeace
O quanto a vida mudou?
Nem só o ambiente foi alterado. O impacto da lama,
além de causar 20 mortes, incluindo um aborto, alterou profundamente a vida das
pessoas, mas quanto? Por meio de questionários e entrevistas, rodas de conversa
e observações em espaços de interação, a investigação desenvolvida pela
cientista social Flávia Amboss Merçon Leonardo, pesquisadora do Grupo de
Estudos e Pesquisa em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento no Espírito Santo
(GEPPEDES), busca traçar a dimensão social do desastre, mensurando o impacto no
cotidiano, nos modos de trabalho e no lazer dos atingidos que vivem na região
da foz do Rio Doce, no litoral do Espírito Santo.
A lama também atingiu histórias de vidas que lutam
para não desaparecer. Foto: Todd Southgate / Greenpeace
Quais os riscos para a saúde?
Mesmo após a tragédia, a lama continua afetando os
moradores, que sofrem com doenças de pele e problemas respiratórios, sem que a
Samarco e os órgão oficiais divulguem dados confiáveis sobre os efeitos para a
saúde. E é justamente isso que a avaliação conduzida pela doutora em Patologia
e diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Evangelina Vormittag,
pretende identificar. A intenção é que, com dados claros sobre os impactos na
saúde física e mental, o estudo a partir de três mil habitantes de Bento
Rodrigues e Barra Longa possa orientar as ações e auxiliar os governantes em
suas escolhas sobre políticas e programas prioritários para reduzir os danos em
saúde e a gravidade das repercussões futuras.
O povo Krenak, às margens do Rio Doce, é uma das
vítimas mais frágeis da tragédia. Foto: Nicoló Lanfranchi / Greenpeace
Como amparar os mais fracos?
Entre tantos afetados, o povo Krenak está entre os
mais vulneráveis. Para avaliar os danos aos direitos humanos da comunidade
indígena, a pesquisadora Leticia Soares Peixoto Aleixo, da UFMG, tem visitado
as aldeias para estudar como a lama impactou a vida dos índios, identificar as
consequências jurídicas e as medidas judiciais e extrajudiciais capazes de
reparação a esse povo que vive às margens do Rio Doce e já foi tão castigado no
convívio com a sociedade.
Fonte: Greenpeace Brasil
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