Meio
ambiente no currículo e na gestão da escola.
Foto: Shutterstock
Relatório da Unesco aponta que o tema ainda é um
desafio para a educação brasileira: 60% dos estudantes com 15 anos só têm
conhecimento básico no assunto.
Por Anna Luiza Guimarães –
O relatório lançado esse mês
pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura), com o tema “Educação para as Pessoas e o Planeta: criar futuros
sustentáveis para todos”, deixa claro que os avanços na educação são
indispensáveis para o desenvolvimento mundial.
Segundo a pesquisa, o Brasil atingiu a média
mundial de investimentos em educação no ano de 2012, mas é preciso repensar a
formação dos professores e valorizar novas metodologias de ensino. O Porvir
conversou com a coordenadora de educação da Unesco no Brasil, Rebeca Otero, que
comentou alguns dos principais pontos do relatório.
“No Brasil, vemos uma educação focada em
determinados conteúdos para o Enem. Os currículos pautados apenas por livros
didáticos. Não se vê a educação como esse instrumento de qualificação da vida
das pessoas, para aprender a ser, conviver e fazer. A educação precisa
construir um indivíduo cidadão, capaz de fazer boas escolhas para si e para a
sua comunidade”.
Meio ambiente
Encontrar novas soluções para problemas ambientais
e ter um futuro com indústrias mais verdes são alguns dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Porém, segundo a pesquisa,
metade dos países avaliados nem menciona explicitamente a mudança climática em
seus currículos escolares.
Ainda de acordo com o estudo, nos países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 40% dos
estudantes de 15 anos de idade têm apenas conhecimentos básicos sobre temas
ambientais. Já no Brasil, Uruguai, México e Argentina, esse índice sobe para
mais de 60%.
“As escolas até aceitam bem o tema, por ser uma
agenda positiva. Porém, ainda trabalham de forma muito superficial. Isso mostra
o quanto precisamos renovar a educação. É preciso investir e repensar a
formação dos professores”, alerta Rebeca. “A sustentabilidade, por exemplo,
também deve ser levada a sério pelos gestores. Não adianta só tratar em sala de
aula, é preciso também dar o exemplo e investir em uma gestão mais
sustentável”.
Formar cidadãos engajados
O relatório apresenta um estudo feito em 35 países
que mostrou que a abertura nas escolas para discussões de assuntos polêmicos,
em que os alunos ouçam e expressem opiniões divergentes em sala de aula,
aumenta a intenção da participação política dos estudantes.
“É impossível ter uma boa educação sem ter nas
escolas o debate que promova o pensamento crítico da comunidade”, afirma Otero.
Dados da pesquisa mostram que o acesso amplo e
igualitário à educação de boa qualidade ajuda a manter práticas e instituições
democráticas. Níveis melhores de alfabetização responderam pela metade das
transições para regimes democráticos entre 1870 e 2000.
Formação de professores
Além de incluir as mudanças climáticas e
sustentabilidade no currículo de formação dos professores e gestores da
educação, o relatório da Unesco afirma que é preciso romper urgentemente com as
tendências do passado.
“Os professores sentem necessidade de uma formação
melhor. É preciso atualizar o currículo para que eles estejam preparados para
lidar com bullying ou crianças portadoras de necessidades especiais, entre
outros tantos temas importantes atualmente nas escolas”, sugere.
A política salarial, educação continuada, redução
de carga horária e as condições de trabalho do professor precisam de revisão.
“Sem a valorização da carreira docente, fica mais difícil a renovação.
Os
jovens acabam não querendo seguir essa carreira. O que acontece aqui no Brasil,
por exemplo, é que temos um déficit de professores em determinadas áreas”.
Educação superior
Em uma amostra de 76 países, 20% das pessoas mais
ricas com idades entre 25 e 29 anos completaram pelo menos quatro anos da
educação terciária, em comparação com menos de 1% das mais pobres.
A previsão é que até 2020 o mundo apresente um
déficit de 40 milhões de trabalhadores sem ensino superior e um excesso de 95
milhões de trabalhadores com níveis educacionais básicos.
Para o Brasil conseguir vencer esse desafio,
segundo a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, será necessário
investir em cursos técnicos. “Não só aumentar a oferta dos cursos técnicos de
curta duração, inclusive já no ensino médio, mas entender a verdadeira demanda.
Hoje, 70% desses cursos no Brasil são de área administrativa. É preciso
oferecer qualificação para outras áreas”.
O relatório
O relatório da Unesco monitora o objetivo global de
educação da Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. São 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um plano de ação e as 169 metas
prioritárias que devem ser alcançadas pelos países-membros da ONU (Organização
das Nações Unidas) até 2030. A nova agenda coloca a educação como o principal
ponto para alcance das metas.
Fonte: Porvir
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