Não há
fundos para o El Niño.
Duas barcas perdidas no fundo do principal lago de
Moýa, um conjunto lacustre do norte da Nicarágua que perdeu 60% de seu volume
de água devido à persistente seca que afeta o país desde 2014. Foto: Cortesia
de Rezayé Álvarez.
A resposta para enfrentar as graves consequências
do fenômeno climático El Niño entre 2015 e 2016, que prejudicou milhões de
pessoas na África austral, sudeste da Ásia e América Latina, segue sofrendo uma
grave carência de fundos.
Por Phillip Kaeding,
da IPS –
Nações Unidas, 7/7/2016 – O grupo independente de
líderes mundiais The Elders pediu urgência aos governos de países doadores para
que ajudem as nações afetadas e também cubram o déficit de US$ 2,5 bilhões, e
observou com preocupação que o atual fenômeno El Niño é um dos mais fortes
registrados, responsável por mais de 60 milhões de pessoas sofrendo escassez de
alimentos e água, e responsável pela pior seca em 35 anos na África austral.
O grupo, integrado por personalidades como o
ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Kofi Annan, Desmond
Tutu e Jimmy Carter, foi fundado em 2007 por Nelson Mandela para promover o
diálogo em nível internacional sobre os problemas globais mais urgentes. “Os
eventos climáticos extremos atingem mais fortemente as comunidades mais pobres,
e menos responsáveis pela mudança climática. É fundamental aumentar
significativamente os fundos, para construir resiliência e proteger as pessoas
mais vulneráveis”, afirmam seus integrantes.
E o The Elders não é o único grupo a expressar
preocupação pela falta de consciência referente ao El Niño, um fenômeno que
produz o aquecimento do Oceano Pacífico oriental, gerando variações climáticas
extremas como ciclones, secas e chuvas torrenciais no hemisfério sul. E como
não se trata de um evento periódico, muitos países não estavam bem preparados.
A coordenadora da campanha do El Niño da Oxfam,
Rebecca Sutton, apontou à IPS que a coordenação dos fundos não começou bem. “Os
alertas emitidos em meados de 2015 não geraram ações rápidas nem fundos
suficientes. Além disso, vários governos dos países afetados atenderam os
avisos e se prepararam bem, mas outros demoraram para anunciar os desastres, o
que dificultou a mobilização de fundos para as situações de emergências que
aconteceram em seus países”, acrescentou.
Sutton também se mostrou preocupada pela falta de
atenção da imprensa de nações que não foram afetadas pelo El Niño, porque,
dessa forma, não se prioriza a assistência às vítimas dos desastres na agenda
política, entre elas os países europeus. “Começar lentamente a atender os
desastres climáticos é uma questão de vontade política e não podemos continuar
fazendo pouco e tardiamente”, lamentou a coordenadora.
Há três regiões que devem enfrentar um perigo
particular depois do severo impacto do El Niño: América Latina, África austral
e as ilhas do Pacífico. O informe de junho do Escritório das Nações Unidas para
a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) informou que, em El Salvador,
Guatemala e Honduras, a seca destruiu a maior parte da colheita deste ano e
deixou três milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.
Tanto a seca quanto as inundações agravam a
situação na África austral, uma “região onde não são esperadas colheitas significativas
até abril de 2017, e que já sofre dois anos de seca”, ressaltou Sutton. Na Ásia
Pacífico, os pequenos Estados insulares, como Vanuatu, e os países do sudeste
da Ásia, como o Vietnã, experimentam uma severa escassez de água. Além disso,
os graves incêndios florestais de 2015 destruíram grandes porções de floresta e
esgotaram muitos recursos econômicos, em particular na Indonésia.
Embora o fenômeno El Niño de 2015-2016 tenha
oficialmente terminado, ainda há suas consequências, pois muitos países experimentam
secas e devem atender crises humanitárias.Muitos especialistas e o The Elders
concordam que a mudança climática derivada das atividades humanas amplifica os
efeitos do El Niño, embora os cientistas ainda estudem a natureza exata da
relação entre esse fenômeno e o aquecimento global.
El Niño e La Niña, a outra fase do fenômeno
climático, conhecido como El Niño Oscilação do Sul, se tornam mais frequentes e
mais severos e suas consequências se exacerbam pelo aumento das temperaturas
globais. No momento, o The Elders e outras organizações depositam suas
esperanças no Fórum Político de Alto Nível, que acontecerá na sede da ONU na
semana que vem, e na próxima conferência climática das Nações Unidas, que este
ano acontecerá no Marrocos, em novembro.
Fonte: ENVOLVERDE
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