Pelo doce
do Rio Doce.
Já está circulando a edição 91 da
Revista Ecológico. Uma das principais publicações sobre temais
socioambientais e a sustentabilidade do planeta, a Ecológico deste mês
traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial.
Hiram Firmino *
O Rio Doce perguntou
para o doce qual é o doce que é mais doce. E o doce respondeu para o Doce que o
doce que é mais doce é ele mesmo, o Rio Doce, que precisa recuperar as suas
matas, nascentes e águas, antes que elas se tornem salgadas e percam, de vez, o
doce que tem.
Foi assim, como numa brincadeira de roda ou de
contar estórias, que a artista Yara Tupynambá se
inspirou para sua nova mostra, “Pintando a Natureza”, com
destaque ecologicamente político para a necessidade de recuperação do
ecossistema da Mata Atlântica – atingido pela tragédia de Mariana.
Só pela beleza da natureza – Yara proclama
com os seus pincéis – a humanidade deveria socorrer e preservar o planeta.
Precisa de mais motivos?
É uma pena. Mas precisamos sim, como demonstramos
nesta edição da Revista Ecológico, diante do estado do
mundo nada atlântico, nem vergel, quase sem esperança em que sobrevivemos.
Que outros motivos buscamos, caro leitor, cara
leitora, para sairmos juntos e salvos da crise planetária que se avizinha, com
as mudanças climáticas?
É o que vocês irão ler nesta edição.
Primeiro, o recado do professor Ricardo
Abramovay, um dos especialistas brasileiros mais notórios em aquecimento
global. Sem falar em mais um catedrático, o professor CástorCartelle, para quem
a extinção de toda a vida terrestre, tal como dos dinossauros, está por
um fio – mais fino do que imaginamos. E por aí afora até chegarmos em uma
mensagem vinda de onde menos imaginaríamos: do desumano e antiecológico mundo
do boxe, assinada pelo campeão dos campeões, Muhammad Ali, o eterno Cassius
Clay, falecido recentemente.
Do boxe à pintura, tudo que precisamos continua
sendo o amor. Não o amor salgado, mas o doce. Tal como o rio mineiro-capixaba
atingido pela tragédia de Mariana, que sempre e historicamente contaminamos com
o nosso desamor, até o seu superdesamor recém-ocorrido desde o doce das
montanhas de Minas até o seu desaguar morimbundo nas águas salgadas do
Atlântico.
Rio Doce, a sua recuperação ambiental, tal como
repintada nas matas de Yara, continua nas mãos dos representantes de todos nós.
Da Samarco à cada descarga sem tratamento nem amor que continuamos dando nos
nossos rios, à espera parceria e não omissa dos nossos governantes, em suas
políticas nada ecoeficientes.
Até quando?
É o que a natureza retratada pela artista não nos
responde. Só mostra a sua igual reação, como mostramos nesta edição.
* Hiram Firmino é diretor e editor-geral da
Revista Ecológico
Fonte: REVISTAECOLOGICO
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