Como
atrair jovens para a agricultura.
O presidente do Banco de Desenvolvimento Asiático,
Takehiko Nakao, no Fórum de Segurança Alimentar em Manila. Foto: Diana G.
Mendoza/IPS.
Por Diana G. Mendonza, da IPS –
Manila, Filipinas, 28/6/2016 – O problema da falta
de interesse dos jovens pela agricultura é cada vez mais preocupante. Porém, na
Ásia Pacífico,inúmeros especialistas coincidiram em que, se os jovens pudessem
sentir a emoção de cuidar de plantas para produzir alimentos e tivessem suas
aplicações e seus programas informatizados, seria mais atraente e mais fácil
garantir a segurança alimentar.
A possibilidade de atrair jovens e de utilizar a
tecnologia foi apresentada por Hoonae Kim, diretor para Ásia Pacífico do Fundo
Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), e NicholaDyer,
responsável pelo Programa Global de Agricultura e Segurança Alimentar (GAFSP),
dois dos integrantes do painel que participaram do Fórum de Segurança
Alimentar, organizado pelo Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA).
O Fórum – realizado entre os dias 22 e 24 deste
mês, na sede do BDA, em Manila, capital das Filipinas – reuniu 250
representantes de governos e órgãos intergovernamentais, como instituições de
desenvolvimento bilateral e multilateral, setor privado, centros de pesquisa e
desenvolvimento, e organizações da sociedade civil.
“Há 700 milhões de jovens na Ásia Pacífico. Se lhes
dermos poder, voz e acesso ao crédito se interessarão por todas as áreas
relacionadas com a agricultura”, afirmou Kim no Fórum, onde foram compartilhadas
ideias sobre como alimentar 3,74 bilhões de pessoas nessa região e ao mesmo
tempo cuidar do ambiente.
A diretora-geral da IPS, FarhanaHaqueRahman, foi
moderadora da mesa-redonda de líderes dedicada ao futuro da alimentação. Foto:
Banco de Desenvolvimento Asiático.
Dyer afirmou, com base em dados da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que são perdidos 1,3
bilhão de toneladas de alimentos por ano no mundo, por isso “temos que estudar
como incluir o setor privado e a sociedade civil para garantirmos que a falta
de políticas recebe a melhor tecnologia que se possa aplicar”.
“Há uma grande necessidade de se apoiar os países
que promovem a agricultura climaticamente inteligente, tanto do ponto de vista
econômico quanto técnico, como forma de introduzir as novas tecnologias”,
acrescentou Dyer.
A Comissão Econômica e Social da Organização das
Nações Unidas (ONU) para Ásia Pacífico estimou, em 2014, que a região tinha 750
milhões de jovens entre 15 e 24 anos, 60% dos jovens do mundo. Uma grande
proporção deles vive em áreas desenvolvidas do ponto de vista social e
econômico, 78% concluem o ensino secundário e 40% chegam à faculdade.
Diretora-geral da IPS, FarhanaHaqueRahman. Foto:
Banco de Desenvolvimento Asiático.
“Muitos jovens asiáticos optam por emigrar em busca
de uma vida melhor e são reticentes quanto a se dedicarem à agricultura, por
preferirem as cidades onde a vida é mais conveniente”, diz um informe elaborado
em 2015 pela Associação de Agricultores Asiáticos para o Desenvolvimento Rural
Sustentável (AFA).
“Nas Filipinas, a maioria das famílias rurais
deseja que seus filhos tenham empregos melhor remunerados nas cidades, ou no
exterior, pois a agricultura está mais associada à pobreza”, explica o informe Um
Futuro Viável: Atraindo os Jovens Para a Agricultura.
O fórum do BDA também se concentrou na difícil
situação que atravessam os agricultores, em sua maioria idosos, e cada vez há
menos e com poucas esperanças de encontrar um substituto entre as gerações mais
jovens, inclusive entre seus próprios filhos. Os agricultores, em especial os
que não são proprietários, são pequenos produtores que estão entre os setores
mais marginalizados das sociedades.
EstrellaPenunia, secretária-geral da AFA,apontou
que é fundamental “considerar os pequenos agricultores como verdadeiros sócios
no que diz respeito às tecnologias sustentáveis. Devem receber incentivos e
melhores condições de arrendamento”.O professor David Morrison, da Universidade
de Murdoch, em Perth, na Austrália, destacou que é hora de se concentrar na
contribuição que a tecnologia e os dados podem proporcionar à agricultura.
“A tecnologia é usada para desenvolver dados e
estes são uma forma importante de mudar comportamentos. Os dados precisam ser
analisados”, afirmou, antes de explicar que os governantes também devem
compreendê-los para desenhar políticas baseadas na evidência e com foco nos
agricultores e nos consumidores.
Presidente do Banco de Desenvolvimento Asiático,
Takehiko Nakao. Foto: Banco de Desenvolvimento Asiático.
O presidente do BDA, TakehikoNakao, ressaltou que a
agricultura necessita de melhoras urgentes, como tecnologia para a detecção
remota, diversificação de fertilizantes e inseticidas de origem orgânica ou
substâncias naturais. Também recordou que o banco começou a conceder
empréstimos e assistência ao setor apenas dois anos após sua fundação, em 1966.
O BDA, que comemorará seu 50º aniversário em
dezembro deste ano, é propriedade de 67 pessoas, 48 delas originárias dessa
região. Em 2015, a ajuda concedida pela instituição chegou a US$ 27,2 bilhões,
incluído o financiamento conjunto no valor de US$ 10,7 bilhões. Seu último
acordo de associação foi com o Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz
(IRRI), com sede em Los Baños, na localidade filipina de Laguna.
Nakao e o diretor-geral do IRRI, Matthew Morell,
assinaram durante o fórum um acordo para fomentar a segurança alimentar na Ásia
Pacífico, aumentando a colaboração na difusão de pesquisas e outros
conhecimentos sobre o papel das tecnologias que contribuem para a produção de
alimentos para todos.
O acordo obriga as duas instituições a realizarem
consultas anuais para revisar e garantir a correspondência entre as atividades
de colaboração, bem como desenvolver um programa de trabalho conjunto que
difundirá o uso da agricultura climaticamente inteligente e as tecnologias que
permitem a economia de água para aumentar a produtividade e impulsionar a
resiliência dos sistemas de cultivo de arroz, além de minimizar a pegada de
carbono em sua produção.
Outro acordo importante do BDA em matéria agrícola
foi com o Camboja, em 2013, uma iniciativa de agricultura climaticamente
inteligente chamada Programa de Comercialização de Arroz Resistente ao Clima,
que inclui a geração de sementes melhor adaptadas ao clima desse país.
O BDA comprometeu US$ 2 bilhões por ano para cobrir
a demanda de alimentos nutritivos, seguros e a preço acessível na Ásia
Pacífico, com a perspectiva de um futuro apoio aos recursos agrícolas e
naturais para apoiar o investimento em tecnologias inovadoras de alto nível.
Para 2025, a instituição observa que viverão 4,4
bilhões de pessoas na Ásia Pacífico,que, como o resto da Ásia, também
registrará um aumento de população e de migrantes do campo para as cidades, e
que a tendência levará à melhora das opções nutritivas e de alimentação, ao
mesmo tempo em que enfrentará um ambiente mutante de temperaturas mais elevadas
e mais desastres naturais que prejudicarão a produção agrícola.
Nakao também disse que a Ásia sofrerá o impacto da
mudança climática e o risco de desastres naturais em seu esforço para
concretizar os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.Por
fim, a instituição indicou que as perdas de cultivos representam 30% da
colheita na Ásia Pacífico – perde-se 42% de frutas e verduras e até 30% em
grãos entre o campo e o mercado por falta de infraestrutura adequada, desde
estradas, água, energia, armazéns no mercado e sistemas de transporte.
Fonte: ENVOLVERDE
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