Povos
indígenas do Mato Grosso criam Federação para melhorar sua articulação.
Autor Sucena Shkrada Resk -
17/06/2016
Bemoro,
do povo Kayapó foi escolhido como presidente da Federação e Yakari Kuikuro para
a vice-presidência. Já Edivaldo Manoki será o primeiro secretário e Lúcio
Xavante, o segundo. Para o cargo de primeiro tesoureiro, Valdemilson do povo
Umutina/Balatiponé e na suplência, Kayanaku, do povo Kamaiurá. Foto: Divulgação
Com o objetivo de melhorar a articulação política
de diálogo com o poder executivo e com organizações privadas e não
governamentais, um grupo de 43 povos indígenas mato-grossenses criaram, no dia
5 de junho, durante a II Assembleia dos Povos Indígenas do Mato Grosso, a
Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT). O evento
de lançamento aconteceu na Aldeia Umutina, na região de Barra do Bugres,
Mato Grosso. A coordenação, nesta primeira gestão, está dividida entre
representantes de diferentes povos. “Será o nosso canal de voz e
representatividade para nortear a política indígena no Estado. Estamos formando
dois conselhos – um deliberativo e outro fiscal -, que estão divididos em sete
regiões no Mato Grosso – Xingu, Kayapó/Norte do Mato Grosso, Médio Araguaia,
Cerrado/Pantanal, Xavante, Noroeste e Vale do Guaporé. Cada uma terá dois
integrantes em cada conselho”, explica José Angelo Silveira Nambiquara
Txyalikisu, assessor institucional da organização. Esta estratégia, segundo
ele, é para atender as distâncias geográficas e peculiaridades específicas
entre as terras indígenas e os povos. A entidade terá uma assembleia geral por
ano e os conselhos se reunirão trimestralmente. Por enquanto, os encontros
serão itinerantes.
Nesta semana, a diretoria da FEPOIMT está reunida
em Cuiabá para definir a estrutura interna da organização. “Foram criadas cinco
coordenações para dividir os principais temas que afetam nossas comunidades”,
diz José Angelo. São elas: (Saúde, Educação, Esportes, Lazer e Cultura),
(Projetos e Captação de Recursos), (Saúde, Saneamento, Edificações), (Recursos
Humanos, Capacitações e Comunicação) e (Situação Fundiária, Meio Ambiente,
Sustentabilidade e Meios de Produção).
“Este é um desejo que temos há pelo menos dez anos.
Nossas principais agendas são relacionadas à questão da regularização das
terras indígenas, a iniciativas econômicas sustentáveis, como também a impactos
ambientais com hidrelétricas, estradas e ferrovias em nossas terras”, afirma
Ianukula Kaiabi Suia, da região xinguana, que participou da reunião de criação
da organização.
Segundo Ianukula, a federação representará
interesses em comum dos diferentes povos. “É uma forma também de podermos
chegar ao poder legislativo, onde existem algumas propostas de projetos que
ferem nossos direitos”, avalia.
Organização
já criou o seu logotipo. Divulgação.
Para Juvenildo Kayabi Munduruku, da aldeia
Kururuzinho, em Apiacás, divisa do Mato Grosso com o Pará, a articulação dará
mais força às mobilizações indígenas. “Durante a assembleia de criação, estavam
praticamente todos os povos mato-grossenses e isso foi importante. Poderemos
nos unir com outras organizações, como a Coordenação das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab) para lutar por nossos direitos, que estão sendo
violados principalmente nas áreas de educação, saúde e demarcação”. O indígena
vive nas proximidades do rio Teles Pires, onde há complexos hidrelétricos em
construção, que, segundo ele, já afetam o modo de vida do seu povo.
“A Federação dará uma representação política aos
indígenas do Mato Grosso. Em se tratando de um estado, em que as disputas pela
terra são cada vez mais acirradas, a organização deverá lutar principalmente
pela defesa territorial. Também ocupará espaços políticos de tomada de decisão,
e deliberativos como o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) e outros,
que envolvem causas indígenas”, analisa João Paulo Soares de Andrade,
economista que coordena o Núcleo de Redes Socioambientais do Instituto Centro
de Vida (ICV), que atua com apoio técnico em redes de mobilização, como o Fórum
Teles Pires e Rede Juruena Vivo.
Outro aspecto interessante, segundo Andrade, é a
possibilidade de a Federação poder acessar recursos financeiros, por meio de
fundos específicos, para seus projetos. “Hoje há dificuldades porque boa parte
dos indígenas não tem experiência de captação de grandes fundos, como o Fundo
Amazônia. Na prática, as instituições indigenistas que acessam”, diz.
Andrade considera que os desafios pela frente são
de a Federação juntar toda a diversidade de indígenas distribuída em um
território enorme. “Tem um custo alto financeiro para os deslocamentos. Mais
uma questão é de identidade territorial, devido a deslocamentos que alguns
sofreram. Isso é um processo, que talvez demore algum tempo para se consolidar
de forma integral”, analisa.
O aspecto principal a ser reconhecido nesta criação
é o fortalecimento do equilíbrio das diferentes etnias do estado, de acordo com
Denize Amorim, chefe do Núcleo de Gestão Estratégica para Resultados, da
Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Mato Grosso (Sejurdh).
“Esta representação é uma forma para que todas sejam respeitadas igualmente nas
pautas a serem tratadas de políticas públicas”, diz.
Atualmente, segundo Denize, há o registro de 47
povos indígenas no Estado, contando com os isolados, em 78 terras indígenas que
estão em diferentes fases de regularização. O levantamento do Mapeamento Social do Estado, publicado em 2011, foi
feito pelo Grupo Pesquisador de Educação Ambiental do Instituto de Educação da
Universidade Federal do Mato Grosso (GPEA/IE/UFMT) com apoio do Instituto
Centro de Vida (ICV) e Operação Amazônia Nativa (OPAN), entre outras
organizações em parceria com o Governo do Estado.
Fonte: ICV
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