Zika nas
Américas.
“Em situação de poço, a água equivale a uma palavra
em situação dicionária” João Cabral de Melo Neto. Ilustração: Estella Maris.
Por Drauzio Varella —
A pandemia explosiva do vírus zika que ocorre nas
Américas do Sul, Central e Caribe é uma das quatro doenças virais transmitidas
por artrópodes a chegar inesperadamente no Hemisfério Ocidental.”
Assim começa a revisão publicada pelo The New
England Journal of Medicine, sobre a doença causadora da tragédia das
microcefalias.
A primeira das quatro epidemias citadas é a dengue,
que se insinuou no hemisfério durante décadas, para atacar com mais vigor a
partir dos anos 1990. A segunda, o vírus do Oeste do Nilo, emergiu para estes
lados em 1999, o chikungunya em 2013 e o Zika em 2015.
O vírus zika foi descoberto incidentalmente em
1947, num estudo-sentinela com mosquitos e primatas, na floresta do mesmo nome,
em Uganda. Permaneceu décadas confinado às regiões equatoriais da África e da
Ásia, infectando macacos e mosquitos arbóreos e poucos seres humanos.
Há anos pesquisadores africanos notaram que o
padrão de disseminação do zika em macacos selvagens acompanhava o do
chikungunya, entre os mesmos animais. Essa característica repetiu-se em
populações humanas, a partir de 2013.
Dengue, chikungunya e zika são transmitidos
principalmente pelo Aedes aegypti, o mesmo das epidemias devastadoras de febre
amarela, no passado. Esses mosquitos emergiram em aldeias do Norte da África há
milênios, em épocas de seca, quando os habitantes precisavam armazenar água. A
adaptação ao convívio doméstico possibilitou a transmissão para o homem e, mais
tarde, a disseminação para as Américas e Europa pelo tráfico de escravos.
Os sintomas da infecção pelo zika são inaparentes
ou semelhantes aos da dengue atenuada: febre baixa, dores musculares e nos
olhos, prostração e vermelhidão na pele. Em mais de 60 anos de observação, não
foram descritos casos de febre hemorrágica ou morte.
Não haveria gravidade não fossem os 73 casos de
problemas motores relacionados à síndrome de Guillain-Barré, descritos
originalmente na Polinésia Francesa, e a epidemia de microcefalias identificada
rapidamente em Pernambuco.
Ainda não há testes laboratoriais rotineiros para a
identificação dos casos de zika. Quando circulam ao mesmo tempo infecções por
dengue e chikungunya o diagnóstico diferencial ganha importância, especialmente
em grávidas e na identificação precoce dos casos de dengue hemorrágica,
responsáveis pelas mortes associadas à doença.
Não existem vacinas contra o zika, embora algumas
plataformas possam ser adaptadas em pouco tempo. No entanto, como os casos
surgem de forma esporádica e imprevisível, vacinar populações inteiras pode ser
proibitivo pelos custos e pela inutilidade de imunizar milhões de pessoas em
regiões poupadas pelo vírus.
Além de combater os focos do mosquito transmissor,
à população restam os recursos que já demonstraram eficácia: repelentes, tela
nas janelas, ar condicionado para os que dispõe do equipamento e adiar a
gravidez nas regiões assoladas pelo vírus.
Fonte: Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário